Primeira parte.
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A camada generosa de argila nas mãos de Sota tomava forma conforme os moldes dos seus dedos. O silêncio brutal entre nós dois foi quebrado pela TV ligada. Desviei o olhar para ele que, atentamente, me olhou de volta.
— Recebi um e-mail importante há uns dias — Sua voz tranquila me manteve atenta. — Um e-mail sobre você.
Fechei as anotações no caderno apoiado em meu colo, estava finalizando as revisões do meu livro quando o assunto surgiu.
— Da editora?
Sota sorriu, parecia calmo.
— Não, — disse — do Jungkook-san.
O meu Universo vazio pareceu despencar conforme o nome dele tomou forma nos lábios de Sota, uma ruína de mistério, um fragmento; a raíz do problema. Como se Tóquio inteira tivesse sido silenciada no momento em que um segredo profundo era arrancado abruptamente de dentro de mim e exposto a olhos curiosos. Todos da plateia segurando suas respirações. Minha mente frenética trabalhava em conjunto. Ele sabia.
— Do que tá falando? — sorri — Um cara famoso te mandou um e-mail sobre mim?! Ah, Sota! Deve ter sido alguém brincando com você, não é óbvio?!
Sota não esboçou reações adversas, seus dedos moldaram o pequeno vaso que ganhava vida nas suas mãos, Berry espreguiçava-se em sua almofada temática no chão da sala e tudo se movimentava com uma lentidão de uma dança coreografada, um ritmo próprio, a pacificidade que antecede o caos.
— Ele é o seu ex-namorado, não é? — ele perguntou, sem hesitar. Parecia um questionamento retórico, de quem sabe a resposta. — O pai do Berry-chan, o cara que foi embora... É ele, não é?
A memória daquela noite ainda desbota e rapidamente se ajusta, como um punhado de cenários de escape no qual ainda tentava remontar momentaneamente em detalhes. O tom da voz de Sota, minhas reações denunciadoras como provas de um crime, depois que os corpos foram encontrados no jardim da casa, eu continuava a negar. Incansavelmente negava. Havia sido treinada para isto.
— É claro que não. Não sei que tipo de brincadeira é essa, Sota, mas isso não é engraçado. — Talvez a minha reação exagerada, o modo trêmulo do meu lábio, sua observação minuciosa, ele me lia bem, eu pensava, e todos os detalhes orquestraram os ajustes finais. Ou só estava cansada de carregar um segredo comigo e queria ceder. Eu queria falar em voz alta, para alguém, além do meu reflexo no espelho, do meu coração machucado, que Jungkook havia existido, que eu havia imaginado nada daquilo.
As mãos de Sota alcançaram o avental, limpando o excesso de argila para então, ajustar os óculos outra vez no rosto.
— Você o chama enquanto dorme, sabia disso? — disse — Quase todas as noites.
Ele carregava pesar em cada frase dita. Uma melodia triste de despedida que antecedia a nossa, como se já se antecipasse um destino imutável. Nosso previsível final. — Depois que li o e-mail, eu só tive certeza. Ele até tentou disfarçar, eu acho, mas é um grande bosta fazendo isso.
Levantei mais depressa do que deveria, cega pela tontura, caminhando até a cozinha, uma tentativa de manter meu rosto longe do seu campo de visão, mas quando as lágrimas não encontraram mais barreiras, tudo foi propagado no silêncio. Toda e qualquer verdade.
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Hanami, 365 dias de Primavera.
Teen FictionAinda é estranho encarar o seu rosto na TV. Nem mesmo agora quando suas coisas estão embaladas e encaixotadas ao lado da minha cama e que reluto contra minha vontade de desviar meus olhos daquele amontoado de palavras sem significância e descobrir q...