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Setembro.
Quando acordo, Jungkook não está ao meu lado, a ausência de seu calor confortável por perto me desperta, e conto até três antes de me virar na direção do criado mudo tateando pelo celular para checar as horas: são pouco mais de duas e trinta da manhã. Deduzo que devido ao jet lag, e a mudança brusca no fuso-horário, ele não conseguiu relaxar, e que talvez esteja na varanda aproveitando a brisa gelada e admirando as luzes a cidade, como sempre costumava fazer, ele amava Tóquio pelo Céu, pelas luzes e as pessoas, era o que dizia sempre. Ao levantar, busco minhas roupas pelo chão do quarto, e acabo vestindo a camisa de Jungkook por ser a primeira peça que encontro ao lado da poltrona onde Berry hiberna, e a medida que desço as escadas, consigo ouvir o cantarolar de Jeon acompanhando a música que toca no ambiente, ele está concentrado enquanto desliza o pincel pela parede da cozinha - preenchendo de cor - com o tom de amarelo bonito que Jordana, minha melhor amiga, escolheu há alguns meses, e que Jeon havia prometido que pintaria assim que retornasse ao fim de suas promoções no último mês, jurando à ela que faria um bom trabalho.
— É uma cor linda, não é? — digo, fazendo-o virar em minha direção. Ele está usando apenas o seu jeans, e está repleto de tinta amarela por toda pele que consigo ver, até mesmo nos fios de cabelo e ao redor do rosto.
— Combina mesmo com a Noona — Ele diz, admirando o trabalho feito.
A vela com essência de rosas que comprei na última visita ao mercado está acesa ao lado da geladeira, o aroma é delicado e doce, e quase nostálgico, por alguma razão. Há uma cerveja pela metade posta por cima da bancada coberta de jornais velhos estendidos, as poltronas estão protegidas por uma manta antiga com estampas florais que estava abandonada há meses na lavanderia, provavelmente cheirava à poeira e mofo graças ao meu descuido com tudo que envolvia as bugigangas de meu apartamento, e ao contrário de Jeon, não teria pensado em sequer forrar os móveis se estivesse disposta a pintar aquela parede descascada da cozinha. Sento-me nos nos degraus, assistindo-o fazer sua arte. Jungkook leva jeito para aquilo, e acredito que para qualquer outra coisa - por mais efêmera que seja - que ele se proponha a fazer.
— Eu não queria te acordar... — Ele caminha até mim, depois de buscar sua cerveja aparentemente quente, sentando um degrau abaixo de minhas pernas, e examinando as próprias unhas, cheias de resquícios de tinta amarela assim como todo o resto que talvez ele (ainda) não saiba.
— Não me acordou, não se preocupe — Ele sorri, sua cabeça pende sobre meu colo, e meus dedos instintivamente deslizam pelos seus fios de cabelo soltos para todos os lados, e pelo rosto bonito, contornando suas formas: o nariz longo, as sobrancelhas falhas, as orelhas adornadas com brincos e furos, o maxilar marcado e lábios bem desenhados, de curvas venustas e delicadas demais.
Os cílios batem lentamente um contra o outro, assim como as pálpebras pesadas que se demoram a abrir. Jungkook é lindo, e quando digo isso, não me limito apenas a sua aparência estonteante - até mesmo suas partes mais intrínsecas carregavam beleza - e amá-lo ia muito mais além de gostar de um rosto bonito. Enquanto contorno sua clavícula e ombros com ambas as mãos, eu percebo que o garoto que tenho ali comigo é tão sensível ao toque, as palavras, e não parece nada com a figura imponente e conquistadora que surge nos palcos todas as noites, repleto de brilho, holofotes, glamour e todas as outras coisas vazias que o fazem parecer um homem avassalador, um objeto de desejos ocultos e sonhos molhados, ali, entre os meus dedos e acolhido sobre meu afeto, ele é apenas o meu Jeon, e não há outra versão que eu queira tanto quanto a verdadeira, sou tomada por um pensamento egoísta naquele milésimo de segundo quando ele olha para mim.
— Não quero te compartilhar...— A voz sai sussurrada, mas ainda sim, ele pode me ouvir, e segura minhas mãos sob seu peito. Estou vendo seus olhos tão de perto: brilhantes, emotivos, honestos - não há nenhuma emoção que ele possa esconder, fingir, mentir - seus olhos são genuínos demais. Ele suspira alto, se curva um pouco mais e beija a ponta de meu nariz, uma mania adquirida a tanto tempo que chega a ser algo propriamente dele.
— Eu sou seu, Noonim, só seu — Curvo lentamente meu corpo por cima do seu e o beijo, não há palavras ou pensamentos, alguma música de sua playlist toca ao fundo, a melodia parece ter sido escolhida unicamente para embalar aquele momento, e suas mãos que antes seguravam as minhas, estão por entre meus cabelos, mantendo-me atada a ele, perto, como se eu fosse ao menos capaz de soltá-lo.
Não sou.
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Ele está deitado na banheira, olhos fechados, os cabelos puxados para trás, relaxando sob a água que parece morninha e convidativa. Estou sentada sob o piso, lendo alto para ele até mesmo as partes mais secretas de meu diário - os poemas, os escritos sobre saudade, resignação, e até mesmo minhas orações - ele tem tanto de mim que o resto me parece um complemento que gosto de dividir. Falo sobre as flores, algumas sobre as quais estudei, sobre as quais fiz questão de observar, e as muitas que espalhei por janelas, varandas e quartos do apartamento, e até mesmo aquela que sua mãe havia me presenteado, e que ele havia trazido com tanto cuidado para mim, que eu podia jurar que sobreviveu somente pelo tratamento e devoção dele para entregá-la à mim: com olhos brilhantes e um sorriso infantil.
— A Omma gosta muito da Noona, sabia?—
E eu amo tanto o filho dela. Penso nisso enquanto busco o livro bonito, com capa de couro onde faço minhas anotações. Há pétalas e cores por todos os lados: begônias, crisântemos, giestas, miosótis, lírios, rosas de um vermelho bonito e vivo, gerânios, rosas brancas como às nuvens em dia de sol, dentes-de-leão, margaridas, flores de maracujá, laranjeira, girassóis e gardênias. E ele, está recostado sob a parte lateral da banheira, olhando atentamente cada página, há um significado para cada uma delas: desde primeiro suspiro do amor, até a atração enigmática. Recordações, encantos, nepentes para a dor. A representação do perigo e da paixão com cheiros atraentes e formatos milimetricamente bonitos. Flores capazes de curar e matar, assim como os sentimentos: febris, avassaladores, egoístas e perversos. Com capas bonitas, recobertos de ternura. Ele parecia fascinado, deslizava os dedos pelas pétalas revestidas pelo papel que as mantinha coladas na folha antiga, não entendia sequer uma palavra nas descrições, mas parecia particularmente interessado.
— Qual o significado desta aqui?
Seu dedo apontou para a as pétalas bonitas e de tons claros, uma gardênia - a flor da pureza- e quando digo isso, ele repete várias vezes:
Gardênia.
Sussurrando, cada vez mais perto.
Gardênia.
Beijando a minha nuca, por entre os fios de cabelo.
Gardênia.
Os lábios procurando os meus, as mãos e cabelos encharcando a sua camisa, que ainda visto como se fosse minha propriedade, assim como de alguma maneira, não estou relutante em pertencer a ele. Seus dedos que deslizam pela minha pele, invadindo os tecidos que ainda me vestem, não encontrando nada que separe suas mãos da minha pele nua. Quero gritar, quero dizer para o mundo que o amo tanto que poderia morrer ali mesmo, o privilégio e prazer seriam meus, morrer amada - por ele - parece uma maneira divina de partir.
Contorno as veias de seu braço estendido, desejando que seu toque jamais abandone o meu corpo, os meus contornos, e minhas formas, desejando que aqueles segundos sejam eternos porque é ele que está ali. Sua língua me busca como uma oração silenciosa, segredando-me todas as confissões e todas as palavras que ele é incapaz de encontrar perdidas entre a sua boca e a minha: saudades, não-quero-ir-embora, eu-te-amo, como uma constante presente entre nós. Que nunca finda. Nos amamos no silêncio daquelas horas, como uma promessa de ser eternamente um do outro, na madrugada escura e vazia, sob nossos segredos, escondidos, não pertencendo a ninguém mais além de nós.
E de olhos fechados, peço que aquele momento nunca acabe.
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Hanami, 365 dias de Primavera.
Teen FictionAinda é estranho encarar o seu rosto na TV. Nem mesmo agora quando suas coisas estão embaladas e encaixotadas ao lado da minha cama e que reluto contra minha vontade de desviar meus olhos daquele amontoado de palavras sem significância e descobrir q...