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Janeiro.
Era como um sonho bom. As luzes de letreiros luminosos e incandescentes encontravam espaço entre as cortinas e as janelas da sala de estar, resquícios de luz refletidos pelo chão, queimando a escuridão da noite e alguns vestígios de felicidade que ele trazia consigo perdidos por aqui e ali: um perfume esquecido na mesa de cabeceira, a escova de dentes azul ao lado da minha por cima da pia do banheiro, a pasta de dentes com sabor de fruta, os moletons que me serviam de pijama, como uma rota traçada de pequenos fragmentos dele na minha realidade, sinais de alerta piscando em vermelho: ele está aqui.
O celular desligado e abandonado por cima do balcão da cozinha não parece ser uma distração, estamos deitados no chão da varanda, os olhos brilhantes dele estão concentrados em mim enquanto conversamos sobre como foi a semana e outras coisas triviais que nos faz reproduzir infinitas vezes, como espelhos, sorrisos um para o outro. Jungkook era como minha hora favorita do dia, uma mistura entre os raios de sol no fim de tarde e as pequenas estrelas cintilantes que surgiam na outra extremidade escura do Céu, um degradê de cores que se perdia entre as constelações, e entre tantas, está a minha favorita. Brilhando mais do que todas as outras estrelas juntas, ao alcance do meu toque, fácil para as minhas mãos, para os meus olhos, perfeitamente audível em meus ouvidos, ideal para ser amada da maneira que eu tanto quero, e não consigo me cansar disso.
O céu de Tokyo é infinitamente escuro, as luzes artificiais dos arranha-céus escondem o brilho natural do céu noturno, aqueles breves minutos quando o Sol se despede, se tornam os únicos que as estrelas abraçam para brilharem sozinhas, para alguns raros pares de olhos curiosos voltados para o cima, como os meus, às encontrarem na sua hora favorita. Gosto das variações de cores de luzes artificiais de Tokyo, mas o que me encanta verdadeiramente são as estrelas, assim como ele faz, tão facilmente. Jungkook também brilhava como uma estrela, embora as luzes de holofotes e palcos servissem para enfatizar seu brilho incomum, acabam por anular sua hora mais bonita.
Eu só gostaria de lembrá-lo sempre, que ele brilha mais que essa cidade inteira.
Nossas mãos se entrelaçam como se estivessem sempre a caminho uma da outra, eu gosto de como meu corpo já decorou o dele, como se fossemos peças do mesmo quebra-cabeça. Como meu sistema límbico já compreendeu o toque, o cheiro, a textura da pele, dos lábios e traçou como uma partitura, todos os tons melódicos da sua voz bonita.
Minhas mãos percorrem sua nuca, desvendando outra vez cada nota que ele ecoa, vibrando a cada uma delas, dentro e fora do meu organismo como a única resposta plausível para o que ele me pede.
— Eu queria ficar aqui para sempre.
Ele sussurra. Como se mais alguém pudesse nos ouvir e desvendar cada um dos segredos que todas as paredes daquele apartamento guardam sobre nós.
— Iríamos congelar nesse frio, você sabe disso, não é? — Digo, e ele sorri.
— Eu posso aquecer a Noona por algumas horas. — É minha vez de sorrir, porque tudo nele soa delicado e inocente demais, uma pureza constante de sempre ver o melhor em alguém, e imaginar que todos tem bons olhos, assim como ele. Seu coração é puro e eternamente infantil, e eu amo tanto isso sobre ele.
O puxo para perto e beijo seus lábios como se ele pudesse virar pó em meus dedos, desaparecer, já não parece mais tão frio quando o tenho colado a mim, talvez ele estivesse certo sobre me fazer quente, talvez só tenha errado a maneira que eu desejo que ele me aqueça, mas aquilo era suficiente para as sensações inflamáveis de nossas emoções nos incendiarem, lentamente.
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Hanami, 365 dias de Primavera.
Teen FictionAinda é estranho encarar o seu rosto na TV. Nem mesmo agora quando suas coisas estão embaladas e encaixotadas ao lado da minha cama e que reluto contra minha vontade de desviar meus olhos daquele amontoado de palavras sem significância e descobrir q...