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Capítulo 9: Pretty When You Cry (Todoroki)

Notas iniciais:

Capítulo escrito por @gold_on_ice

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Shouto grunhiu ao despertar com sons distintos vindos da cozinha que indicavam que Katsuki provavelmente já estava de volta de seu treino matinal, algo que sempre o fazia se perguntar como aquele homem conseguia ser tão proativo logo cedo. Só de pensar, ele bocejou e coçou os olhos.

Aquela quinta-feira havia chegado mais rápido que o esperado (e desejado) e de uma coisa estava ciente: não poderia passar o resto do dia na cama como gostaria, cedo ou tarde precisaria encarar seus problemas. Shouto esteve morrendo um pouco por dentro por causa disso, afinal, realmente não queria ter nenhuma conversa. Não uma daquele tipo, onde a possibilidade de expor-se muito mais que o necessário estava bem ali. Ele se conhecia suficientemente bem para saber que aquilo era provável e não queria pagar para ver, mesmo sabendo que haviam coisas que talvez devesse expor.

Preguiçosamente, ele se virou para o lado da janela, encarando a fresta aberta entre as cortinas blecaute, a luz do dia que entrava iluminava o cômodo apenas parcialmente. Não parecia ser um dia cinzento e ele surpreendeu a si mesmo com o pensamento de que aquilo poderia contribuir positivamente para o humor de Katsuki, já que o loiro ficava bem mais irritado que o normal dependendo do clima, odiava mais que tudo os dias frios.

Com um suspiro longo, Shouto permitiu que os olhos se fechassem novamente para organizar um pouco as ideias, se é que era possível. Mesmo que o que quisesse fazer fosse voltar a dormir, era inútil, em algum momento o pavio curto de Katsuki venceria e ele o arrastaria para fora do quarto se fosse preciso, então, a não ser que escapasse pela janela, não teria outro jeito de fugir daquele compromisso.

Um grunhido frustrado saiu e ele puxou as cobertas para cima, cobrindo-se até a cabeça de forma um pouco infantil, como se o gesto pudesse servir de escudo para bloquear os sussurros inconvenientes que geralmente ficavam adormecidos num canto obscuro de sua mente, mas apareciam sem permissão quando a ansiedade aflorava.

Já podia sentir o cansaço de todo um dia que sequer tinha vivido ainda espalhando-se pelo corpo inteiro, quase da mesma forma que seu gelo fazia às vezes em seu lado direito. Ele considerou apenas deixar que a sensação amortecedora o envolvesse, todavia deteve-se em seguida.

Isso era ruim.

Só mais um passo e logo começaria a sentir os primeiros sinais da tão conhecida dissociação que acompanhara-o em todas as situações que já quis evitar em sua vida. Um mau hábito antigo e difícil de se livrar, já nem sabia mais se a essa altura era possível. Todavia, não podia deixar que acontecesse, Katsuki merecia sua total presença, de corpo e mente (e até mesmo de alma), independente de onde aquilo os levaria. Não era justo se não desse tudo de si.

Às vezes era como se Shouto sempre estivesse numa missão inconsciente de compensar Katsuki por todos aqueles anos atrás em que tinha se perdido dentro de si e contido suas chamas, entregando os pontos de uma luta que deveria ter sido justa. Isso explicaria seu desejo de lhe dar tudo que tinha agora (embora apenas parcialmente).

Se ao menos o loiro quisesse tudo que ele tinha, o que não era muito.

Ah, por que tudo parecia sempre tão difícil?

No começo daquela semana, o bicolor julgou que a resposta para sua angústia seria jogar-se no trabalho, pois aquela era uma opção melhor do que qualquer outra alternativa que tinha à disposição, mas a quem queria enganar? Shouto não era como Izuku ou Katsuki. Ser um herói, para ele, era uma função que executava todos os dias e apesar de sentir-se bem ao salvar as pessoas e ser bom naquilo que fazia, não era absolutamente passional sobre aquele trabalho e todo aquele universo.