Capítulo Três - Carne Fraca

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Cheguei à empresa com um óculos maior do que o meu rosto, eu estava morrendo de dor de cabeça e enjoo.

— Bom dia, Navalha. Tem um...

— Bom dia, não quero saber e não falem nada comigo pelas próximas meia hora. — o interrompi — Não dormi bem e eu espero que vocês respeitem meu estresse de sábado de manhã. Quem não respeitar, sujeito à demissão ou um corte de navalha no rosto, vocês que decidem. Obrigada e até mais. — fui direta, indo em direção ao meu escritório como um furacão.

Minha cabeça estava explodindo. A ressaca estava me matando lentamente e nem meus óculos estavam me ajudando a me sentir menos pior por conta da claridade. Fui obrigada a fechar as cortinas e acender uma pequena luminária de luz amarelada que servia pra me ajudar a enxergar as papeladas melhor. O clima ficou perfeito pro meu mal-estar.

— Algum filho de Deus me traz um café bem amargo e com pouco açúcar, por favor. — disse no microfone.

Massageando as têmporas de olhos fechados, eu ainda pensava na noite passada. Nada que eu odiasse mais do que ser ignorada tendo em vista que nenhum homem conseguia me ignorar. Eu estalava os dedos e pronto, o homem estava nu e ereto bem na minha frente, me esperando. O que tinha de errado comigo? Impossível que o Marcos era o culpado do Emanuel não me querer, ele nem sequer estava mais presente em nossas vidas.

— Posso entrar? — escutei a voz do meu estresse diário e anônimo, ele não sabia que estava a ponto de me enlouquecer.

— Entra.

Escutei a porta ranger e abri os olhos, o vendo.

— O uísque caiu mal, né? — perguntou rindo fraco, vendo a sala num quase breu — Do jeito que você pediu. — estendeu a mão com o copo de café.

— Obrigada, sai da sala. — fui curta, pegando meu copo.

— Tá de ovo virado até comigo que sou seu amigo do peito? — zombou.

— Emanuel, sai. — não cedi às suas piadas.

— Tô indo. — levantou as mãos, em sinal de rendição — Bonito os óculos, hein. — foi irônico, saindo da sala e fechando a porta antes de eu conseguir o responder.

— Infernal. — resmunguei, dando um gole no café e relaxando na cadeira, aquele mal-estar já passaria.

Bebi o café em três goles e após os trinta minutos de introspecção, abri as cortinas do meu escritório e voltei ao meu eu de novo. Mas pro meu azar, o telefone começou a tocar insistentemente. Eu já estava melhor, mas não melhor pra ficar na linha com alguém, papeando.

— Tapeçaria Rosen, bom dia, em que posso ajudar?

— É o Júlio. —  seu sotaque era completamente reconhecível.

— Júlio! — sorri aberto.

O meu cliente mais fiel. Só com ele tinham mais de cinco caça-níqueis alugados. Eu lucrava mais de seis mil cruzeiros mensais apenas com ele.

— Ao o que devo o prazer da ligação do meu português favorito? — perguntei bem humorada, a ligação dele significava mais dinheiro entrando.

— Navalha, é o seguinte. Eu vou precisar de mais dois caça-níqueis pra hoje, o bar tá movimentado e não para de entrar viciado pra apostar. Acha que consegues me entregar antes do anoitecer?

— É claro, meu querido. — respondi sorrindo — Que tal colocar um bicheiro no seu bar também? — sugeri — Tenho vários aqui, à disposição. É só pedir e pronto.

— A galera gostou mesmo é da tecnologia. Tão fazendo bicha pra jogar. — riu.

— Faz o seguinte então, me informa se é o mesmo endereço que dentro de uma hora as máquinas chegam. E as outras? Estão bem? Algum defeito?

Dois AmoresOnde histórias criam vida. Descubra agora