A protegida do Rei.

20

Estávamos eu e Dionísia sentadas uma de frente para a outra, eu queria respostas. Eu não aguentava mais todo esse mistério que cercava a família real e os ciganos, estava de saco cheio.

__ Sábias que foi um cigano que matou a mãe de Samuel?__ fui direta.

__ Sim, eu sabia.__ ela falou olhando para mim.

__ E... Você sabe quem foi?__ seus olhos estavam tão penetrantes, eu estava aflita pela sua resposta.

__ Ela demorou um pouco para responder-me, mas falou.__ sim, eu sei.

__ Quem foi?__ suas unhas batiam devagar na mesa, mas seu olhar não saia do meu em momento algum.

__ Se eu lhe dizer , não irá gostar da resposta.__ ela disse calmamente e pegou sua xícara de chá desviando seu olhar do meu pela primeira vez.

__ Eu já não estou gostando disso a muito tempo, deixe de mistérios mulher.

Ela respirou fundo e me olhou cruzando suas mãos em cima da mesa. Quando abriu suas mãos, havia um colar lindo em suas mãos. Como diabos ela fez isso?

__ Está vendo este colar? Era de minha filha. Um dia antes dela morrer, me entregou fazendo eu prometer que entregaria para a sua filha quando ela estivesse maior, mas acontece que eu não criei a minha neta.

__ E o que o colar tem a ver com isso, Dionísia?

Ela pegou minha mão que estava em cima da mesa e aproximou mais dela, colocou o colar em cima de minhas mãos e o vi brilhar. Ele era perfeito.

__ Segure-o, quero que o segure enquanto lhe contarei tudo.

A mulher ficou me olhando por um breve tempo, parecia que sua memória estava vagando por outro lugar.

__ Como sabes, vim de uma família com sangue cigano. Naquela época, aqui não tinha toda essa baboseira de matar ciganos. Eu tive uma filha, ela era linda. Sua pele era de avelã, igual a de seu pai, seus cabelos eram enormes e cacheados... Ela era tudo para mim.

Ela parava de falar por alguns breves segundos e depois voltava novamente.

__ Quando ela cresceu, se envolveu com quem não devia, mas eu não a culpo, ela era muito nova. Sabe com quem ela se relacionou?

__ Não tenho nem ideia.__ disse sincera.

__ Afonso.

__ O antigo Rei?__ perguntei surpresa.

__ Ele ainda está vivo, sinto isto. Mas não faço a mínima ideia de onde estás. Ele se aproveitou de minha jovem filha, ela engravidou de uma linda menina... Isto estragaria com a vida dele, certo?

__ Acho que sim...__ eu disse ainda um pouco confusa.

__ Quero que seja sincera comigo, Violeta. O que você faria se matassem uma filha sua? José, por exemplo.

Fiquei pensando por um momento...

__ Eu iria querer vingança.

__ Foi exatamente o que eu fiz. Matei a puta da rainha Leonor! Sabes por que eu fiz isso?__ eu estava com os olhos arregalados, minha respiração estava acelerada.

__ Não...__ falei um pouco sem voz.

__ Porquê ela mandou matar a minha filha, ela queria matar a minha neta e afastou a menina de mim. Eu perdi 20 anos longe dela, eu prometi a minha filha que cuidaria dela e não deixaria que nada a fizeste mal... Eu não cumpri com a minha palavra.__ lágrimas caiam pelos olhos da senhora, eu até fiquei com pena dela.

__ Leonor mandou matar sua filha?

__ Sim. Afonso amava Vanila, minha filha. Ele queria fugir com ela, não se importava se ela tinha uma mãe cigana e que ela própria fosse cigana. Ele estava louco por ela, e o seu próprio irmão a matou, a mando de Leonor.

__ Meu Deus...__ falei com a mão em minha boca. Isso era muita coisa para processar.

Samuel sabia de tudo isto?

__ Samuel não sabes de nada, não da história toda. Ele só sabes que um cigano matou sua mãe, por isso somos tão odiados neste lugar, mas nem ele sabe que a mãe era uma própria puta.

__ Eu estou chocada com tudo isso.__ disse ela balançou a cabeça.

__ Ainda tem muito mais, Violeta. Não querias saber tudo? Saberás tudo hoje.