- Então você quer um emprego? -
(S/N), um jovem de 20 e poucos anos com um fogo ardente dentro de si. Sua carne e orgãos internos tostados e dotados dum imenso desejo de ser livre, e buscar uma forma de ganhar dinheiro de sua vida... mas talvez tal sucesso financeiro não era sua principal vontade, na realidade, ele queria crescer.
Ele era feliz. Contaminava o ambiente, o brilho de seus olhos cristalinos e o esvoaçar de cabelos, fazia que a luz sob o lugar em que estava ficar mais forte e divertida. Mas fazia tempo que o seu olhar não brilhava quanto deveria. Ele saia para festas para se animar de alguma forma...tais festas lotadas de produtos ilícitos, luzes insuportáveis e vadias sujas. Mesmo que ele tentasse o que fosse, não consertava alguns pilares de sua vida... sua frustração, sua casa...sua família.
(S/N) Afton. William Afton. O jovem sempre ouvia o ditado: "Tal pai, tal filho", provavelmente em alguma obra de entretenimento da qual ele não conseguia lembrar, mas ele sentia orgulho de si mesmo por ser diferente de seu pai...pelo menos, por pouco. Talvez o problema fosse que... ele não sabia definir o que seu pai realmente era, e por isso, não conseguia se definir também. A casa da família Afton, já sem presença da mãe e irmão, era dominada pela escuridão e se tornava cada vez mais insalubre e venenosa. As teias de aranha nos quartos, as cobras na reserva ao lado, ratos sujos e pecaminosos nas sombras...sem contar as luminárias roxas. O cheiro começava a ser dignamente desprezível, não por que era realmente insuportável, mas porque ele não conseguia ser extinto de sua casa.
Durante as longas viagens e o excesso de trabalho de seu pai, (S/N) era a única pessoa restando para cuidar de sua irmã. Cabelos longos, olhos verdes, um corpo pequeno, uma mente criativa e lotada de inocência. Os brinquedos da temida gangue de Freddy Fazbear e (S/N) era os picos de felicidade de sua rotina morta e sem tempero, distanciando-se de uma infância bonita.
- Sim cara. - Disse o jovem para o seu amigo. Eu estou precisando de dinheiro e...alguma outra coisa com o que se preocupar além de minha casa. - O jovem olha para a janela da cafeteria, enquanto gotas e pingos de chuva chocavam-se contra o vidro, se dividindo em pedaços menores enquanto o som lindo e calmante da chuva abordava todos na cafeteria acolhedora. Ele mentiu um pouco. (S/N) se virou novamente para seu amigo.
- Você tem alguma ideia com o que trabalhar? - Kai pergunta, encarando (S/N) com seus olhos levemente frios e pouco cristalinos, mas ainda sim carinhosos e naturais. Gostava desse contraste. Kai era centrado, um porto seguro para (S/N). Sua mente paciente já foi útil diversas vezes na amizade tão longa que os dois nutriam, desde que eram crianças - não, adolescentes. Se odiavam na época de escola mas o tempo destruiu os preconceitos que tinham um com o outro. Não importa se a viagem está repleta de céu azul, sempre, em algum momento, haverá uma tempestade.
Kai não gostava disso, do brilho de seu amigo desaparecendo lentamente, ao mesmo ritmo que a chuva vai aumentando e soltando raios cada vez mais. Mas Kai sabia que ele era forte. Ele sabia que havia uma força dentro dele que foi crescendo ao longo dos anos. Ele sabia do tamanho das asas que (S/N) tinha. Agora se eram asas vindas do céu ou do inferno, nenhum dos dois sabiam, já que sua criação não foi muito estável. Mas mesmo que fosse asas de demônio, Kai jamais sairia do lado do jovem de olhos cristalinos. Ele era grato a ele.
- Olha, acho que no momento estou aceitando quase tudo, Kai. Você acha que eu sirvo para que? - (S/N) estende seu braço a mesa, tendo a visão do pudim delicioso e encharcado de seu caldo quase escarlate, com o açúcar no ponto certo. Suas mãos delicadas encontraram a xícara com café preto. Seus dedos abraçaram a alça da xícara, levando o líquido para a língua, com o sabor e o calor do café nublando seus sentidos, relaxando-o. Inconscientemente, ele fecha o seus olhos e seus cílios acariciam sua pele enquanto saboreia o almíscar da cafeína ingerida. Seu olhar se abre, fitando o de Kai. Sua mão suavemente encobre e se agarra na colher do pudim. Sua ponta pousou sob o caldo e, inconscientemente, sua colher afundou na massa mole do pudim, e voltou para superfície encharcada de caldo. O líquido decorava e fazia o prata da colher ter algum sentido. Ele perfurou o pudim de novo, numa velocidade lenta, e de novo, e de novo, e de novo.
- Eu não sei! - Kai ri. Você é muito dúbio (S/N). Você é carinhoso e delicado, mas pode ser forte e duro enquanto precisa. - Kai fita (S/N) também, mergulhando no olhar do outro. - Acho que talvez você poderia servir na área de exatas...mas penso eu que seja muito estressante. - (S/N) acenou com a cabeça, enquanto lembrava dele em seu quarto mal cuidado e saturado estudando para provas de matemática, assim se distraindo de seus pesadelos por um momento. Você sabe...cálculos e cálculos perturbando sua mente sem parar... - Kai se inclina um pouco para frente na direção de (S/N). A mão direita dele continuava perfurando aquela massa , mas o fazia com tanto jeito e numa força tão calculada que não alterava tanto a forma dele... apenas o fazia se debater. (S/N) riu com deleite.
- Acho que você tem repertório para reclamar de cálculos. Deve ser uma merda fazer o planejamento financeiro dessa cafeteria. - Óbvio. A cafeteria era dele. Kai também riu.
- Talvez você pudesse trabalhar com artes e tudo mais. Sério que você não recebeu nenhuma proposta? Nenhuma resposta positiva de qualquer lugar que seja? - As sobrancelhas de Kai se arquearam em dúvida e descrença. (S/N) suspirou. Seu braço direito se levanta e suas mãos encontram o seu rosto, com uma expressão de desgosto. O jovem suspirou.
- É...eu recebi uma resposta positiva Kai. Mas não é nada parecido com artes ou exatas. - Sussurros chegaram aos ouvidos de Kai. Curiosidade queimava nas entranhas de Kai com a resposta nebulosa e a dúvida em seu encalço. É uma...proposta para ser guarda noturno e zelador, no restaurante Circus Baby Pizza World. - A surpresa substitui a dúvida.
Ele não podia deixar de pensar o quão cansativo isso seria e como a rotina de seu amigo ficaria se aceitasse a proposta para esse emprego noturno. Os olhos de Kai se abriram com violência, junto com o pico do seu batimento cardíaco. Seu olhar se fechou um pouco, com o auge da surpresa tendo terminado, mesmo que esta não tivesse sido extinta.
- Um segurança noturno?? - A boca de lábios planos de Kai também se separaram, abrindo-a com surpresa. (S/N)...eu simplesmente não entendo! - A mão enluvada de Kai apoiou seu queixo, inclinando em poucos graus sua cabeça com um olhar estranho ao seu amigo. Kai havia soltado uma exclamação, mas o jeito que havia falado se aproximava mais de um resmungo baixo.
- Eu sei que parece estranho. Mas eu preciso disso Kai. O salário não é nada extraordinário mas...eu não consegui mais nada. - Kai sentiu pena. Eu preciso de algo, algo para minha vida. Uma rotina. Talvez...sei lá, depois eu tento algo com minha formatura. -
- Mas você sabe que eu posso te ajudar! - Ah, mas ele sabia. Kai ofereceu para (S/N) diversas ofertas com salários ótimos para ter seu amigo trabalhando em sua cafeteria. Mas o orgulho de (S/N) impediu ele de aceitar a proposta de seu amigo com sobretudo preto. Ele jamais suportaria o fardo de que estava sendo sustentado pelo seu melhor amigo.
O olhar de ambos se encontraram de novo, com (S/N) mostrando seu carinho e tentando acalmar seu amigo.
- Você se preocupa muito comigo, Kai. Mas...você tem que saber que eu preciso disso. Eu consigo suportar isso. Relaxe garotão, você está muito preocupado com este café. - A voz baixa e de tonalidade agradável consegue varrer com facilidade as preocupações e agonias de Kai. Mas sabia que ainda havia muito lixo para jogar fora, o homem de sobretudo ainda não estava completamente sereno. Seus olhos se fecharam e ele deu um profundo suspiro. Seus olhos se abriram novamente, encontrando um sorriso de (S/N).
- Vamos terminar de comer, sim? - Kai falou e pegou seu copo, com uma cerveja quente. (S/N) se acostumou mas nunca deixou de achar engraçado ele ter trazer cerveja quente para tomar em seu próprio café, e admiração ao ver ele dando vários goles e mesmo assim ficar sóbrio. Alguém de negócios precisa relaxar constantemente. Ele era um homem, (S/N) ainda um menino.
- Costume alemão, hein? - Kai concorda com a cabeça, bebendo um pouco mais de sua cerveja. (S/N) voltou sua atenção para a sua comida. Seu pudim estava completamente desfigurado. Com o tempo sua forma cedeu à suas investidas. O caldo doce e delicioso cobriu algumas partes da colher, e também algumas de sua mão magra.
Espero que tenha gostado!

VOCÊ ESTÁ LENDO
Carne e Osso (Ennard FNAF x Leitor Masculino
Romansa(S/N) entra como guarda noturno e zelador do restaurante Circus Baby Pizza World. Mas com o passar das noites, ele conhece um animatrônic diferente dos outros e aprende que já passou da hora de ser bonzinho com seus algozes. A capa da história não f...