Sete

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Hoje, primeiro de Janeiro, meu aniversário.
Pode parecer ruim aniversário no primeiro dia do ano mas, é ótimo. Eu posso dormir até tarde, (fingir que durmo até 3:00) e depois demorar em tudo, demorar uma hora no café, meia hora no banho e depois me trancar no quarto e ficar de bobeira até a hora da festa. Mas enquanto isso aproveito pra ler um pouco. Esse pouco acaba durando algumas horas, eu acabo ficando marcando com caneta permanente as frases que eu realmente gosto. Esse livro tem uma frase que é ótima.
'' As portas estão abertas, mas você está preso.
As janelas estão fechadas e trancadas e você está livre, mas  continuará preso".
Bem, não sei o que isso quer dizer exatamente, mas é uma frase boa.
Eu tenho vários livros na estante, mas a maioria eu ainda não li, se eu tiver lido muito, no máximo dez livros. Mas acho que vou ter mais tempo pra ler quando eu estiver mais velho, com certeza.
Todo mês eu ganho uma mesada, ela varia de como eu me comporto, se eu for bem na escola, em casa, e me comportar eu ganho uma mesada boa, se não uma mesada ruim, e eu nunca me comporto bem, nunca,  a única coisa que meus pais não podem reclamar é do meu quarto, eu sou uma pessoa que não faz tudo o que é bom mas eu simplesmente ODEIO meu quarto bagunçado, ele está sempre em devido lugar cama arrumada, chão limpo, prateleiras em ordem.  Mas meu aniversário (festa) está a algumas horas e eu devo me preparar. Começando pelo banho, depois roupa e depois coragem...muita coragem.

Já eram sete e meia e a festa de aniversário já estava acontecendo. E eu acabo de novo no gramado, mas agora é diferente, agora eu tenho sete anos, não seis. E lá vem um garoto, não sei quem é mas deve ser um de meus parentes, acho que é meu primo,Henrique, ele é muito legal, filho de meu tio (o que achei que era um ogro) e da minha tia Roselia que é irmã de minha mãe Rosie. Ele está muito diferente, está mais forte e mais bonito, ele tem quatorze anos, mas ele não se acha por ter mais idade, na verdade ele é até mais crianção de que eu mesmo.
- Oi pessoa que acaba de evoluir mais um pouco. Como vai Bruno? - Ele disse.
- Oi Henrique. Vou bem e você? - Eu disse tentando ser atencioso.
- Também estou bem. Como está se sentindo?
- Em relação a que?
- A sua festa? 
- Hum...
Aí ele me interrompe e diz.
- Bruno sei que você não gosta de pessoas, nem de festas e essas coisas todas. Mas você tem que entender que seus pais são ótimos pra você, e você está sempre se excluindo, seus pais... ele acham que você pode estár com depressão. Você anda sozinho demais,  está sempre trancado no quarto e outras coisas.
- O que é depressão? - Já que eu não sabia o significado dessa palavra.
- É uma doença. A pessoa fica triste e sozinha. É algo muito perigoso você pode morrer.
- Quer dizer que eu não tenho pressão e vou morrer?- Já havia me desesperado. Será que eu vou morrer por falta de pressão.
- Não meu amor, é que se a pessoa não se cuidar ela pode ficar tão triste que tenta se matar.
- Tá bom, acho que não tenho depressão. Só prefiro ficar sozinho assim ninguém me magoa.
-Ok Bruno. Vamos brincar?
- Claro, de quê ?
- Dê quem não chegar na messa e roubar um brigadeiro primeiro perde. -  Quando terminou a frase saiu desesperado, correndo na frente e eu o acompanhei também correndo.
Ele certamente ganhou, mas eu fiquei muito feliz, e então também acho que ganhei alguma coisa.

A hora de partir o bolo é sempre a pior, pois eu não sei. O que fazer.
Até pensei em fingir um desmaio mas não iria dar certo então apenas sorri e bati palmas.
O primeiro pedaço foi pro meu pai e o segundo pra minha mãe, que ficaram felizes e depois me deram um abraço. E o terceiro pedaço foi pro Henrique. Pois uma pessoa que me faz rir e me faz feliz mereçe mais que um pedaço de bolo.
Bom eu ganhei presentes e abraços,  foi um ótimo aniversário, mas aí eu caí e acabei cortando a barriga. Seis pontos.  Seis pontos doloridos, eu chorei, esperniei e gritei mas não adiantou então só deixei um cara desconhecido me furar com uma agulha e que tem um fio que costura peles.
Quando sai nós fomos para casa, a maioria dos convidados foram embora  e o Henrique ficou pra dormir em casa, ele teve a engenhosa ideia de descer e pegar o resto dos doces e Salgados lá fora.  Então descemos, abrimos a porta devagar e corremos até onde ocorreu a festa, ainda tinha sobrado uns quarenta brigadeiros, várias bolinhas de queijo, refrigerante e outras besteiras. Demos duas viagens pra levar tudo para o quarto e  depois voltamos pra trancar a porta.
- E agora Bruno,  vamos devorar tudo assistindo filme ou vamos devorar tudo jogando vídeo game?
- Vídeo game com certeza.
- Cuidado pra não fazer barulho na hora de ligar.
-Tá bom.
E quando liguei a primeira coisa foi fazer barulho. Um grande barulho.
- Rápido esconda tudo debaixo da cama. - Disse Henrique apressado.
Escondemos tudo e quase dois segundos depois meu pai estava no quarto.
- O que vocês estão fazendo aqui? 
- Jogando tio Eduardo. - Disse Henrique.
- É pai a gente ta sem sono.- Disse eu.
- Tá mas se sua mãe descobrir estão encrencados. E eu não vou fazer nada. - Ele deu um sorriso e depois saiu.
- Por pouco em - Eu disse.
- É por pouco.- Disse Henrique um pouco assustado.

Acordei eram umas 2:35 da tarde com muita dor de  barriga.

Agora é esperar dois meses e ir para a escola, o terceiro ano.

CÉU AZULOnde histórias criam vida. Descubra agora