SETE/SETE

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O cheiro da escola de manhã é uma nostalgia que vai me acompanhar pela vida inteira.
Quando eu chego na frente do portão listrado em um azul degrade, sinto uma vontade imensa de voltar até o motorista e dizer pra ele que não quero entrar ali nem morto, que prefiro ser um fraco e ir para casa, mas eu não faço isso. Meu corpo parece ter vontade própria e sem a minha permissão entra na escola. A primeira coisa que eu penso é que eu devo achar minha sala de aula, então eu saio andando pelo pátio coberto que liga todos os pavilhões que ligam todas as salas e escadas para o segundo andar até achar uma senhorinha que aparentemente trabalha na escola, ela tem um cabelo castanho que mesmo curto, a deixa com um ar feminino, ela usa pequenos brincos discretos de Ouro. Peço a ela para me dizer onde é minha sala, então ela diz que o terceiro ano é no Pavilhão B, o segundo a esquerda e diz que a minha sala será a que eu encontrar meu nome na lista que estará colada na porta. Vou até lá passando por grupinhos de alunos e alunas que conversam euforicamente uns com os outros, aposto que esperaram ansiosamente para contar suas histórias sobre as férias. Quando eu começo a procurar a sala, vejo que não sou o único que esta perdido, vários meninos e meninas também procuram por suas salas, e alguns dele dão a sorte de acharem rápido seus nomes na lista. Quando finalmente encontro o meu nome na lista, um garoto que vem procurando seu nome junto comigo desde a primeira sala, grita de alívio tbm achando o nome dele na minha sala. Ele se vira pra mim e diz:
- Você vai estudar nesta sala também? - ele fala com tanta naturalidade, como se me conhecesse a anos.
- Vou. - digo rápidamente
- Bom, prazer, sou Augusto.
Ele não me perguntou meu nome e eu também não disse. Ele desviou o olhar de mim e abriu a porta, me deixando passar primeiro. Fui logo escolhendo lugar, sem olhar muito para os alunos que estavam ali. Deveria ter uns quinze ou vinte alunos ali.  Sentados, todos estavam quietos, sentados em suas cadeiras. Havia um menino contando seus lápis de cor da Faber Castle de 48 cores. Senti uma pontada de inveja dele, uma garota estava entiquetando o caderno com adesivos coloridos e um menino de olhos verdes estava conversando com uma garota ruiva e branquela, eles eram os únicos que estavam conversando, mas não estavam deixando de falar alto por isso. Ela ria do nada de forma grotesca. Eu desejei mentalmente ter uma rolha gigante para tampar a boca dela. Procurei um lugar vazio longe deles dois, encontrei na primeira fila do lado da porta, eu sentei na terceira cadeira. Coloquei minha mochila do Pokémon em cima da mesa e escorei o cotovelo nela. O menino que entrou comigo, Augusto, sentou uma cadeira atrás da minha, me perguntei se ele fez isso de propósito.
- Qual o seu nome? - pergunta Augusto.
- Bruno. - Sim, ele fez de propósito.
- Você vem de que escola Bruno? - Eu senti vontade da mandar ele calar a boca, mas apenas fui educado.
- Venho de outra cidade.
- Qual ?
AHHHHHH, QUE GAROTO CHATOOOO.
- Porto Velho - respondi
- Ah ta - disse ele - Capital de Roraima, né?
E nesse momento, eu queria poder esfregar um mapa na cara desse garoto insuportável.- Capital de Rondônia - corrigi
- Ops, desculpe. Você viu aquele....
E nesse momento a garota ruiva riu tão alto que a sala inteira olhou pra ela. Achei que ela havia se engasgado tadinha, mas não, ela era só ridícula mesmo. Então, uma professora entrou na sala. A sala toda ficou em silêncio e se endireitou nas cadeiras. Ela andou até a mesa grande perto do quadro negro, e colocou o matérial que carregava lá, pegou um giz rosa e escreveu em uma letra grande e reta

JOANNE

E então começou a falar.
- Bom dia meus amores. Eu sou a professora Joanne. Vou lecionar para vocês, todas as matérias, exceto educação física. - e então ela começou a falar umas regras para os alunos, regras dela mesmo, que ela julgou serem necessárias para o bem estar da sala de aula. A voz dela era tão doce e harmoniosa que ela poderia ser facilmente confundida com uma cantora lírica. Quando ela terminou de falar, eu já nem estava prestando atenção nela, e sim na sala de aula, havia números de vários tamanhos, coloridos e cheios de glitter dourado. Haviam flores brotando do chão. Desenhos feitos com tinta guache estavam espalhados pela parede. Então a professora Joanne disse:
- Bom meu amores, agora que eu já falei de mim para vocês, quero que vocês falem de vocês para mim. Quero que digam seus nomes, e o que gostam de fazer, de comer, de brincar. Vamos lá queridos. Formando um círculo. Rapidinho amores.
Ela batia palminhas nos apressando. E depois de todo aquelé barulho de mesas e cadeiras sendo arrastadas, a sala formou um círculo que acabou ficando meio oval. Depois disso ela foi a primeira a falar.
- Bom, meus amores, eu vou começar ok?
Todos assentaram com a cabeça.
- Olá, meu nome é Joanne Germini. Gosto de dar aula. Sou casada e tenho 9 filhos. 6 deles são adotados. Minha comida favorita é aquele pastel de feira cheio de bolhinhas. - ela fez um gesto engraçado com a mão e toda a sala caiu em gargalhadas - E minha Cor preferida é roxo.
Então ela nem precisou mandar continuar. Os alunos começaram a direita dela, então eu seria um dos últimos.
O garoto dos olhos verdes que estava com a garota ruiva se chamava Tyugo Cesarius, e a garota Mariana Jardins. O menino dos lápis de cor se chamava Euclides e quando ele falou o nome dele pra sala, todos riram, menos eu e o Augusto, o garoto ficou muito envergonhado. Então, quando Augusto terminou de se apresentar eu começei.
- Olá, meu nome é Bruno Salvatore Benevides. Tenho 7 anos, eu gosto de jogar vídeo game e minha Cor favorita é cinza.
E então Sem nenhuma objeção ou pergunta ao que eu disse, a menina do meu lado continuou e depois dela o um menino chamado Mathias encerrou as apresentações. Quando bateu o sino do intervalo, Augusto me chamou para explorar a escola, já que ele também era novato ali. Decidimos conhecer o segundo andar e chegando lá, descobrimos que também havia um terceiro e quarto andar, o quarto era o térreo, onde havia lugar para pouso de helicóptero e lá ficavam os painéis solares que geravam energia para parte da escola. O quarto andar é absolutamente proibido para os alunos e não se pode entrar lá nem acompanhado de um adulto, eu e o Augusto soubemos disso porque o Guarda que cuidava da porta do quarto andar nos contou. O terceiro andar é onde os professores ficam, tem secretaria, direção, orientação, algumas salas onde funcionam projetos da escola e um auditório onde acontecem às reuniões. O segundo andar é exclusivamente para o ensino médio. Depois disso decidimos voltar para o pátio do ensino fundamental no piso 1. O Recreio aqui durava 45 minutos, bem mais do que na minha antiga escola, então eu e o meu novo amigo Augusto fomos para debaixo das árvores no Jardim perto dos portões. Sentamos no gramado e começamos a conversar. Ele não é mais tão chato assim, nem eu estou mais fechado a amizade dele, somos amigos agora, e vamos ser pelo ano inteiro.
Durante o intervalo todo, sempre vinham garotos do ensino médio para onde eu e o Augusto estavamos, sempre para trás de uma árvore. Cheguei a comentar com ele a respeito, mas ele não deu muita bola. Quando bateu o sino para voltarmos a sala, eu e o Augusto fomos ao banheiro, e foi nojento ter que entrar lá, estava imundo, o box com sanitário onde eu entrei, tinha a palava PUTA escrita com cocô. Augusto riu. Voltamos para sala e o tempo passou rápido depois, quando percebi, já era hora de ir embora. Fui caminhando com o Augusto até o portão, onde também havia um motorista esperando Augusto, vi o Tyugo Cesarius entrar em um carro chique e importado. Me despedi o Augusto e logo mais o meu motorista chegou. Entrei no carro e ele logo perguntou:
- Foi muito ruim? - ele perguntou sorrindo
- Não, foi legal.
- Vamos para casa?
- Não. Quero passar em alguma loja de tintas e decorações. Você sabe onde tem alguma?
- Tem uma dessas a alguns minutos daqui.
Eu assenti e então nós saímos dali.

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⏰ Última atualização: Jan 02, 2017 ⏰

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