Abstinência

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Sana mexia os ovos na frigideira com agressividade. Depois de mandar Mina e Jeongyeon a merda e arrastar seu filho para fora do apartamento, decidiu que não iria falar com elas. Autista. Que ideia. Não queria ninguém que achasse que seu filho tinha problema por perto. Seungmin era perfeitamente normal. Estava com tanta, mais tanta raiva que podia xingá-las por dias seguidos.

Colocou os ovos num pouco de arroz que sobrara do almoço e jogou na mesa. Sentou, apoiando os cotovelos sobre a mesa e massageando suas têmporas. Autista... Que idiotice.

— Seungmin, vem comer — resmungou. Ele levantou do chão, largando seu boneco no tapete da sala. Cheirou a comida, fazendo uma careta para o arroz.— O que foi?

— Eu não gosto de aloz esquentado — resmungou.

— Mas tem que comer.

— Eu não gosto.

— Não interessa — ela rosnou entre dentes.— Come logo isso ai!

Ele bufou, pegando o ovo mexido e o devorando com vontade. Empurrou o prato com o que sobrara e levantou da mesa. Sua mãe agarrou seu braço e disse:

— Coma seu arroz.

— Eu não quelo!

— Não importa se você não quer — o puxou de volta para a cadeira. Pegou a colher e encheu-a de arroz, a levando para a boca da criança que virou a cara.— Porra, abre logo a boca!

Seungmin chorou, tampando a boca com as mãos. A japonesa bufou, jogando a colher na mesa. Enfiou os dedos por seus fios, tentando não perder cabeça de vez. Autista. Que tolice.

O menino levantou e correu para seu quarto, fechando a porta. Sana nem se deu o trabalho de ir. Sabia que ele não iria falar muita coisa por alguns minutos ou horas. E sua cabeça estava tão, tão cheia que não conseguiria falar com o garoto sem surtar completamente.

Aquela conversa é completamente irreal. Nem tudo significa que... tinha algum problema ali. Seungmin era completamente normal. E ninguém colocaria besteiras na sua cabeça.

" Você mesma disse que ele só falou pela primeira vez com quase três anos. E vice ainda achou normal!"

Tudo bem que era verdade, mas cada criança tinha seu tempo.

Né?

E tudo bem que ele nunca fez nenhuma amizade antes de Jeogin, nem parecia se esforçar também mas... ele apenas era tímido. Só.

E também ele fazia aquela coisa estranha com todos os brinquedos mas... Não, ele era normal, não ia deixar que elas colocassem o contrário na sua cabeça.

[...]

Jihyo estava tonta. Sua cabeça doía tanto que parecia que estavam batendo nela com dois pratos de bateria. Seu corpo implorava por qualquer que fosse a droga, não estava no luxo de ser exigente. Só que Hyuna ainda não tinha devolvido sua chave do carro. Mas alguns dias e ela iria enlouquecer.

Ela estava na palma da mão da traficante. Era só mostrar um pouco de pó na sua frente que ela já dava todo seu dinheiro.

Estava voltando a pé para cada depois de um ato desesperado ela tentar andar até aquela balada — depois de sete quarteirões, decidiu voltar atrás. Seus pés gritavam de dor, nem sabia como estava conseguindo se manter de pé. O porteiro deu passagem antes que ela chegasse ao portão. Sabia que, quando ela estava naquele estado, era melhor que o portão já estivesse aberto.

— Você precisa de ajuda, Jihyo?

— Vá cuidar do seu portão — ela rebateu como se tivesse sido atacada.

Ela andou pela calçada, seus joelhos já fraquejavam a cada passo. Só queria sentar em sua cama. Continuou andando, e andando, e andando... mas sentia que não estava chegando a lugar nenhum. Seu estômago ia se embrulhando aos poucos. As luzes dos postes pioravam a dor em sua cabeça.

Era só um pouquinho de nada de coca, e resolveria todos os seus problemas naquele momento.

Sentiu uma mão leve em seu ombro. Desejou nunca ter olhado para trás para saber quem era. Parecia que aquela enxerida estava em todos os lugares, seguindo cada passo seu.

— Você está bem, Jihyo?

Foi sorte da japonesa que Park não conseguiu reaponder a tempo de uma onda de vômito subir por sua garganta. Seus joelhos fraquejaram de vez. Sana segurou seus cabelos, deixando que ela se acalmasse. Ajudou-a se levantar, dando apoio para se levantar passando seu braço por cima de seu ombro.

[...]

Jihyo acordou sem reconhecer o local. Era um quarto totalmente diferente do seu. A lua ainda iluminava a noite lá fora. Colocou a mão em sua cabeça, sentindo a dor e tontura lhe atacar novamente. A porta do quarto se abriu, dando a visão de Sana com um copo de água na mão.

— Ah, que bom que você acordou.

— Como eu vim parar no seu quarto? — indagou um tanto preocupada com a resposta. Não queria ouvir que elas...

— Bom, quando eu saí pra tomar um ar lá fora — a japonesa disse, sentando na ponta da cama — acabei achando você num estado terrível. Você vomitou pra caralho. Ai eu te levei até seu apartamento, mas você... perdeu suas chaves de casa. Quando chegamos aqui, você acabou desmaiando. Então sua avisei sua prima e ela disse que já estava chegando com a cópia da sua chave.

Park bufou, esfregando as mãos no rosto. Minatozaki colocou o copo com um comprimido na mão da coreana e sorriu gentil.

— Pra ajudar na sua dor de cabeça.

— Isso não vai adiantar — resmungou, colocando o comprimido de volta na palma de Sana e tomando a água.— Obrigada, mesmo assim.

Obrigada. Talvez fosse a primeir vez que ela agradecia alguém em um bom tempo. A campainha fez Sana levantar e sair do quarto para atendê-la. Jihyo nem imaginava o tamanho do sermão que ia levar assim que chegasse em casa. Hyuna apareceu na porta do quarto, furiosa e preocupada numa mesma expressão. Ajudou a prima a levantar e agradeceu algumas vezes a japonesa antes de sair.

As duas caminharam em silêncio pelos corredores. Parecia tudo tão vazio entre elas. Quando chegaram no apartamento de Park, Hyuna suspirou.

— Mina conseguiu uma vaga pra você com uma amiga dela. Amanhã você começa — foi a única coisa que ela disse.— Descansa, Jihyo.

Ela deu as costas para a mais nova, saindo de seu apartamento.

A bruxa do 607Onde histórias criam vida. Descubra agora