Parte 4: Uma pedaço do fim

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❝Você desconfiava do sentimento deles porque não tinha nenhum motivo para se amar — nem seu corpo, nem seu intelecto. Você rejeitou tanta delicadeza. O que você estava procurando? 

Na casa dos sonhos, por Carmen Maria Machado

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O silêncio tomou conta da casa quando eles foram embora. As mãos de Emê de Martnália tremiam e ela sentia um aperto incomum em seu peito, talvez fosse o vazio corroendo seu interior aos poucos. Era tudo o que ela conseguia sentir naquele momento.

— Eu te disse para ir embora. — Ela se virou e olhou para Aguinaldo, que permaneceu sentado no sofá.

— Eu sei muito bem o que você está tentando fazer — ele falou —, não vou te deixar conseguir dessa vez.

— Do que você tá falando?

— Você está fugindo, igual fez nas férias do primeiro ano, e nas do segundo, e agora outra vez. — Aguinaldo suspirou. — Talvez tenha algo a ver com a época.

Emê fechou seus olhos e quis simplesmente concordar com ele e depois voltar para a sua cama. Porque Aguinaldo ainda estava ali, ele ainda esperava alguma reação da parte dela. E infelizmente, Emê de Martnália sabia que precisava decepcioná-lo outra vez.

Abriu os olhos e encontrou os dele, olhando de volta. E ele tinha os olhos mais gentis que ela já tinha visto. Então se lembrou das diversas vezes em que não se aguentou e teve de tocar aqueles cílios longos, só para ter certeza de que eram reais; ou quando ele a olhava como se ela fosse a coisa mais preciosa e ela se sentia especial, e sentia que juntos eles eram especiais. Mas agora... agora tudo o que ela queria era que ele fechasse seus olhos e a deixasse em paz, porque Martnália reconhecia a mesma esperança que já residia ali desde quando ele se declarou pela primeira vez. Ele sempre esperou muito dela, demais até. Para Aguinaldo, ela era alguém muito melhor do que ela sabia que realmente era.

— Olha, não estou com cabeça para ficar pensando nessas coisas agora, tá? Se você quer ficar, beleza, a casa é sua — Emê disse e saiu da sala, indo em direção ao seu quarto.

Porém, Aguinaldo também se levantou e foi atrás. Não iria deixá-la fazer o que quisesse daquela vez. Ele não entendia os motivos que a levavam a não querer a ajuda dos amigos, mas também sabia que ficar sozinha não seria bom, nunca era.

— Mas que saco, você pode me deixar em paz? — Emê tentou fechar a porta do quarto antes que ele entrasse, mas antes que pudesse evitar Aguinaldo já estava lá dentro, a olhando com seus olhos castanhos de cachorro sem dono e ela sentiu algo diferente do vazio em seu peito por alguns poucos segundos.

— Não, eu não posso te deixar porque sei que você não vai ficar em paz, você não está bem — Aguinaldo falou e se aproximou dela, mas Emê se afastou.

— Quem você pensa que é para decidir o que me faz bem?

— Eu sou o seu namorado Martnália, caso tenha se esquecido. E você sabe que eu faço qualquer coisa para que fique bem.

Eles se encararam outra vez, e não disseram nada por alguns instantes. Contudo, Emê de Martnália não se sentia melhor ao ouvir aquilo, ela não se sentia bem ao pensar que se pedisse, Aguinaldo faria tudo o que quisesse para vê-la bem. Ela não merecia isso, e não aguentava mais fingir que estava tudo bem em manter um relacionamento tão perfeito, sendo tão defeituosa.

— E por ser o seu namorado, eu não vou sair daqui, não importa o que você diga. — Aguinaldo percebeu que ela tinha abaixado sua guarda e se aproximou outra vez, passou seus braços ao redor do corpo dela e a abraçou. — Você passou por tanta coisa, eu só quero que saiba que estou aqui para você.

Pensou que ela fosse protestar um pouco mais, chorar, e até teve esperanças de que ela fosse aceitar a ajuda. Só não estava preparado para o que ela realmente disse.

— Vamos terminar — ela sussurrou enquanto ainda estavam abraçados.

— O quê? — Aguinaldo se afastou.

— Quero ficar longe de você, vamos terminar — Martnália repetiu, dessa vez olhando diretamente para os olhos dele, que agora estavam marejados. — Se você se sente na obrigação de fazer algo por mim porque estamos juntos, tudo bem, vamos terminar.

Aguinaldo não disse nada por alguns instantes e enquanto isso, Emê de Martnália sentia os pequenos fragmentos que haviam sobrado de seu coração se partindo aos poucos.

— Não brinca com isso.

— Não estou brincando.

— Você já tentou isso antes, sabe que nós sempre voltamos um para o outro.

— Não vamos voltar dessa vez — Emê garantiu. — Quero que você vá embora por aquela porta, e nunca mais volte.

— Eu não posso fazer isso. — Aguinaldo começou a sentir sua garganta se fechar seus olhos arderem com as lágrimas iminentes. — Isso... isso não faz sentido.

Martnália apenas assistiu enquanto um tipo parecido com o seu de dor, de perda, tomava aos poucos o semblante de Aguinaldo. Era isso o que acontecia quando se mexia com alguém que estava sendo consumida aos poucos, ele estava se contaminando.

— Você... você disse que me amava — Ele conseguiu dizer em meio às lágrimas.

— E eu não menti. Mas não posso continuar amando você — Ao dizer isso, um caroço se formou em sua garganta e Emê teve de se segurar para não chorar.

— Você não pode controlar isso, não pode simplesmente decidir quando vai me amar e quando vai parar! — Aguinaldo queria gritar com ela, mas não conseguia, nunca conseguiria. — Também não pode deixar o que aconteceu acabar com a gente.

Ele tinha razão, e ela concordava. Mas agora era tarde demais. Emê sentia que seu coração estava paralizado, a dor de perder ele estava presente, mas tinha outra muito pior a consumindo, e ela não sabia lidar com tudo isso.

— Um dia, talvez eu consiga te contar o motivo Aguinaldo, mas não agora — ela conseguiu expressar —, agora preciso que você vá embora e que esqueça tudo o que aconteceu entre a gente. Finja que nunca aconteceu, ou sei lá. Só esquece.

O quarto ficou em silêncio outra vez, mas diferente das outras vezes, Aguinaldo realmente abriu a porta e foi embora. Emê de Martnália olhou para seus próprios pés e não quis acompanhar a partida dele. O vazio consumidor de interiores continuava seu trabalho dentro dela. Seu coração, que antes estava partido, tinha acabado de ressequir até o pó.

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Oiê, tudo bem? 🤠

Gente, que babado. Acabamos de presenciar o término de algo que nem vimos começar 👀

O que vc achou da atitude da Emê?

E sobre esse relacionamento deles, quais spoilers vc pegou? Pq eu soltei vários! 😏

Outra perguntinha:

Você usa o Spotify? Gosta de escutar música enquanto lê?

Estou perguntando porque TNQEV (como eu chamo carinhosamente essa história), têm uma playlist no Spotify. Se você quiser, comenta aqui que eu te chamo no pv e mando o link da playlist 🙂♥️

Muito obrigada por ter lido até aqui ♥️
Estou sempre ansiosa por seu comentário, então conversa comigo 🙂

Até o próximo capítulo 😘

Todos Nós Que Estamos VivosOnde histórias criam vida. Descubra agora