O MEDO DA POSSIBILIDADE de Emê de Martnália não ir para sua casa na parte da tarde aumentava a cada segundo em que Aguinaldo passava ao lado de Elcione e Beltassamo juntos. Os dois pareciam dividir um só neurônio e eram extremamente esquisitos.
Primeiro que, apesar de ser, ou deveria ser, a melhor amiga de Emê de Martnália, Elcione não sabia quase nada da vida da amiga. Não que as perguntas de Beltassamo fossem lá assim tão normais, como por exemplo, se Martnália preferia comer pão com margarina ou manteiga, ou se ela tinha chulé.
Aguinaldo realmente gostaria de se sentir grato por seu amigo perguntar tantas coisas em seu lugar, já que Beltassamo sabia claramente que ele nunca perguntaria nada sobre Martnália para Elcione. Por motivos óbvios. Ela era a última pessoa no mundo que deveria saber sobre o que ele sentia por Emê. Mas ao mesmo tempo, queria muito que Beltassamo calasse logo a boca e parasse de ser tão nojento.
— Me conta aí vai, ela lava o cabelo depois de cada treino ou deixa pra lavar tudo no final de semana? — Beltassamo continuou com seu questionário.
— Hm... Sabe que essa eu não sei... — Elcione colocou uma mão no queixo e parecia realmente pensar em uma resposta válida. — Vou ficar te devendo essa também.
— Você já está me devendo umas cinco.
— Ah, não tem problema — ela falou e sorriu. — Como quer que eu te pague? Com um beijo?
Beltassamo até ia responder a essa outra pergunta também muito idiota se não fosse interrompido por Aguinaldo.
— Dá pra vocês calarem a boca? — Ele simplesmente gritou isso com uma voz grossa no meio da sala.
De repente, todos os alunos realmente ficaram em silêncio. E sim, isso tudo aconteceu dentro da sala de aula, com um professor tímido tentando explicar sua matéria. Ao ouvir o único aluno que parecia prestar atenção no que dizia gritar dessa maneira, o pobre professor que já estava com vontade de chorar de desespero antes, saiu correndo no meio da aula para esconder suas lágrimas.
Ao perceberem que tinham conseguido tirar Aguinaldo tão facilmente do sério, Beltassamo e Elcione começaram a rir discretamente, na maneira do possível. Irritando ainda mais, Aguinaldo só pedia a Deus para que Martnália não decidisse passar o dia inteiro treinando.
•••
Quando as aulas finalmente terminaram, Aguinaldo quase voou para fora da sala. Ele queria se encontrar com Martnália. Não iria esperar nem mais segundo sem saber o futuro da sua vida. Porque tinha certeza de que se passasse mais um segundo ao lado daqueles dois, seu cérebro ia pular fora da cabeça e ele ficaria igual a eles.
Emê de Martnália não tinha aparecido em nenhuma das últimas três aulas da manhã. Aulas essas que terminavam às 12:30h. Geralmente, Aguinaldo almoçava na escola e acaba ficando por lá para fazer suas tarefas da escola. Já que o local até tinha uma biblioteca aceitável e realmente quieta, pois os alunos brasileiros não tinham muito interesse em leitura e a tia da biblioteca expulsou às vassouradas cada casal aos beijos que viu pela frente.
Contudo, antes mesmo que tivesse a chance de ir para o ginásio do colégio, Aguinaldo foi barrado por duas garotas que conhecia apenas de vista. Elas eram de outra sala, da primeira sala do primeiro ano. Tudo o que ele sabia sobre elas é que sempre estavam juntas, e tinha a vaga lembrança de que talvez até seus nomes fossem parecidos, mas ele não conseguiu se lembrar quais eram.
Elas o encararam por bons trinta segundos, e como não tinha nada a dizer, Aguinaldo apenas esperou pelo que falariam.
— Você é o Aguinaldo, certo? — Uma delas se pronunciou.
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Todos Nós Que Estamos Vivos
Genç Kurgu• 🏅VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS DE 2023 ❤️ • Eleita como sendo uma das melhores histórias de 2022 ❤️ • Destaque no perfil oficial de YALP na estante de "Dramas adolescentes" ❤️ • Destaque do mês de agosto no perfil oficial de Romance LP! ❤️ _________...