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Adele fitava aquele corpo ensanguentado, caído contra a parede. A adaga que colocou entre os seios, escondida atrás do vestido vermelho, cheirando uma mistura de sangue e o odor amargo do veneno paralisante. As palavras de seu mestre ecoavam em sua cabeça:

"Você nasceu para ser uma assassina, porque você conhece o valor da vida e da morte". Sabia mesmo? A ordem fora para fazer um pequeno corte com a adaga envenenada, apenas para que ele desmaiasse e fosse levado até o interrogatório. Mas ela sabia que não seria assim. Sabia que acabaria naquilo. O destino sob sua cabeça dizia: ele morreria 5 minutos depois que ela o avistou saindo sozinho do baile onde estavam.

Ela suspirou fundo. Será que perceberiam que o vermelho do vestido estava comprometido por um vermelho-sangue? Não poderia arriscar passar por dentro do baile.
Como era um baile de máscaras, nem todos olhavam para os rostos alheios, muitos procuravam a beleza no corpo e nas roupas dos outros convidados, o que, por motivos óbvios, seria perigoso para Adele naquela situação.

A assassina suspirou enquanto pensava. Estava num beco atrás da mansão. Como sair dali? Fitou uma janela aberta acima de uma carruagem. No andar acima dessa janela, uma varanda com um parapeito alto o bastante para saltar até o telhado, por onde poderia sair sem ser vista ou seguida, andando sob as telhas. Uma moça vestindo roupas de gala vermelhas correndo nas telhas das casas certamente chamaria atenção, mas era o único plano que conseguira pensar.

Alguns minutos depois, lá estava ela, distante do local, fitando o castelo da cidade, lembrando de coisas que jamais teria de novo. Escutou um barulho atrás de si, passos. Passos pesados, acompanhados do ranger de metal contra metal e um leve arranhão em couro.

— Não me ouviu chegando, ou já sabia que era eu? — Perguntou Hark, observando-a, lembrando de quando ela era apenas uma garotinha. Agora já era uma mulher crescida, os cabelos cor de sangue brilhando sobre o sol.

— Óbvio que ouvi, e sim, sabia que era você. — respondeu, olhando-o com os delicados olhos castanho-escuros. Pensar nos olhos de Adele trouxe memórias ruins a ele. Memórias do que acontecia quando aqueles olhos ficavam turvos.

Hark e Adele eram amigos de infância, ambos eram das ruas, ela, treinada para se tornar uma assassina, a melhor delas, ele, treinado para roubar, um ladrão conhecido em toda Iguindel.

— Boatos dizem que a coroa de um rei no deserto rosa fora roubada — comentou Adele, arrumando os cabelos que eram bagunçados pela brisa acima dos telhados — sem que ele nem notasse a ausência dela em sua cabeça. Às vezes você se supera, amigo.

— Você quer dizer todas as vezes, certo? — Respondeu ele, com os olhos azuis brilhando, arrogante.

Adele já fora apaixonada por aqueles olhos azuis-claros, envoltos em manchas douradas, uma combinação nada comum que ela amava. Ela apagou esse pensamento da cabeça, e respondeu:

— Como exatamente fez isso?

— Como você matou aquele comerciante que estava a quilômetros de distância usando um disparo de adaga?

Ela o olhou torto. Ele sabia como.

— Se não queria falar, era só dizer que não podia.

— Se você pode esconder seus métodos, eu posso esconder os meus.

Ela se encheu de raiva, o modo como ele brincava com aquilo. Hark coçou os cabelos negros com a mão direita enquanto tirava algo do bolso com a mão esquerda.

— Trouxe um presente, para compensar. — mostrou a ela um pedaço de metal oval, metal não pintado, cinza, antigo, com um desenho de olho no meio, um olho castanho-escuro, como os dela.

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