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O rei estava no calabouço, andando a pisos pesados. Passou por uma cela escura, de onde um olhar mortal o fitava. Deu um sinal para que abrissem a cela, de onde saiu Adele.

— Fez bem. Converse com Sela, ela te apresentará sua última missão. Ao completá-la, estará livre. Não estarás presas a mim, nem a Renmar. Siga a vida como preferir. E não se preocupe. Imaginava mesmo que ela não morreria.

O ódio no olhar da assassina se apaziguou. Estendeu a mão para que lhe retirassem as algemas, e depois saiu, com passos extremamente silenciosos.

O rei continuou indo pelo calabouço até o final, onde uma mulher estava sentada. Ela não estava presa, ficava ali simplesmente porque gostava do clima sombrio. Ela usava capuz preto, era velha, pálida. Sua pele era tão caída que parecia neve derretendo, mas ela continuava sorrindo.

— Tudo aconteceu exatamente como disse, Sibila. Ainda vai me dizer que perdeu a habilidade de prever o futuro?

— Eu só vi até onde te contei, meu senhor. A partir dali, não me mostram mais nada. Toda utilidade que posso te dar agora é a minha sabedoria. Mas me conte, como foi? Não posso ver tudo.

— Como você disse, Sela Wisllow não pode morrer ainda. Adele estava em choque depois de tentar, e quando a questionei sobre, ela disse que o contador sobre a cabeça dela estava vazio.

— Ah, o contador. Deve ter algo a ver com a criatura dentro dela.

— Também como afirmou, meu filho perdeu a cabeça quando soube que fui eu quem ordenou o atentado a vida da garota, e atingiu-me no rosto.

— Tamanha atitude desonrosa e traidora, atacar o próprio senhor. Como o puniu?

— Preciso de alguém para encontrar o Castelo de Cores. Sela estava aqui porque provavelmente é a única que pode solucionar o problema da cor branca dele. Adele é o bastante para protegê-la na jornada, mas não para proteger duas pessoas. Ordenei a William que fosse com elas e andasse pelo mundo em busca do Castelo, para que se tornasse homem.

— Mas o objetivo mesmo é que ele morra, deixando Mesla como sua única herdeira.

— Não que eu ligue muito para o que vai acontecer com aqui depois que partir. Mas não quero todo esse trabalho nas mãos daquela criança mimada que se diz homem. Ele perdeu todos os duelos contra Mesla. Não conseguiu usar nem um terço da magia dele.

— E quanto a própria Sela? Como reagiu?

— Eu disse que queria apenas testar se ela seria um peso pesado demais durante a missão, e ela aceitou surpreendentemente bem. Provavelmente estava acostumada com esse tipo de situação com a família, no norte. Aquelas mulheres nórdicas são malucas.

— Interessante. Com isso, acredito que pudemos confirmar que as duas são bestimmt.

— Sempre três, destinadas a fazer grandes coisas antes de morrerem. São a única coisa que me preocupa, e a que mais me irrita. Sempre tenho que tomar cuidado na hora de agir, para que a minha queda não se torne esse grande feito.

— Fala como se tivesse enfrentado várias delas.

— Adele é o futuro. Ela se prende demais ao que vai conquistar, ao sonho de sua tão querida liberdade. Agora Sela... Não sei dizer se ela é o presente ou o passado. Mas você deveria tomar cuidado. Sinto que deixá-la de lado e a subestimar é um erro.

— Não se preocupe. Assim que me trouxer o cálice, lidarei com ela.

— Então é isso mesmo que você quer do Castelo. A cura para todas as doenças.

— É o único jeito.

Adele saiu daquele corredor em extrema ansiedade. Não sabia o que focar, se era no fato do contador de Sela estar negativo, numa missão que teria que fazer com ela depois de ter tentado tirar sua vida, no fato do rei de alguma forma saber que Sela não morreria ou que já estava de noite, e precisava ir atrás de Hank para ajudá-lo com os elfos da lua.

Preferiu focar no último, que era mais urgente. Ela deveria estar proibida de sair do castelo, mas não é como se isso impedisse ela. É uma assassina boa o bastante para conseguir fugir de qualquer lugar, sem nem mesmo notarem sua ausência. Estava passando pelas matas ao redor do castelo para ir até os becos da cidade onde Hank costuma ir para beber durante sua estadia na capital, quando Maso, o cachorro de Sela, ouviu seus passos à distância e olhou pela janela, reconhecendo-a pelos cabelos vermelhos. Ele sabia que tinha algo de errado.

Ele fora treinado para mostrar a Sela algum objeto que lembre a pessoa, assim, ela poderia saber de quem ele estava falando. Pegou a flecha que foi atirada contra seus cabelos e jogou sobre a cama, e depois latiu três vezes, seguido de dois choros curtos.

— Sentiu cheiro de medo, Maso? — Perguntou Sela.

Então o cão passou o focinho sobre a flecha, empurrando-a para mais perto da jovem, que o pegou e entendeu o que ele queria dizer.

— Adele está com medo? — Disse ela, segurando a flecha para mostrar ao cão que se referia a pessoa que a atirou.

Uma batida de pata contra o chão, o código para sim.

Sela rapidamente pegou sua bolsa médica e foi para a porta.

— Mostre o caminho, garotão. — cochichou, dando um belisco como recompensa.

Ele disparou tão rápido que nem mesmo conseguiram ver o que estava passando. Sela simplesmente repetia os passos do cão, sabendo que ele evitaria obstáculos que pudessem fazê-la cair. Maso parou sobre uma porta, e lambeu Sela quando ela a abriu, agradecendo. Continuaram correndo por mais cinco minutos, passando por mata, becos apertados, até chegar num bar.

As pessoas estavam todas do lado de fora, preocupadas. Quando Sela entrou, sentiu cheiro de sangue. Muito sangue. Mas não era sangue humano.

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