4

13 3 0
                                    

William e Mesla chegaram ao bar onde Sela cantava ainda cedo. William ficou feliz de ver que o bar estava lotado e alegre, mas Mesla ficou incomodada por não prestarem atenção nela, ignorando que a princesa do reino estava visitando o bar.

O motivo era só um: Sela estava cantando e tocando sobre liberdade. Os dedos passando suavemente pelas cordas do violão enquanto a voz conquistava o coração de todos. Era contagiante, a felicidade naquele lugar.

Mesla ficava incomodada com a felicidade deles. Eles não tinham quase nada, pobres, plebeus, camponeses, mas estavam sorrindo, cantando e dançando como se tivessem tudo. E aquelas letras que estavam sendo cantadas. Liberdade, viajar pelo mundo, quebrar as próprias amarras. Uma cega estava cantando aquilo, era irrealista, burrice, acreditar que isso poderia acontecer.

William, depois de poucos minutos, já estava dançando com o povo do bar. Cada segundo ali deixava Mesla com mais nojo.

Enquanto isso, Adele chegava ao castelo. No início, os guardas relutaram em permitir a entrada dela, mas logo o capitão da guarde chegou e ordenou que a permitissem entrar. O homem virava diversas vezes para trás, tentando garantir que ela estava mesmo atrás dele, porque os passos dela eram extremamente difíceis de ouvir. Adele nem se esforçava para isso, já era uma memória muscular, andar de forma furtiva.

O capitão da guarda não gostava da assassina carmesim, principalmente porque sua obrigação fora tentar prendê-la, diversas vezes. Renmar era do tipo que negociava com todos, não apenas com o governo. Aquela mulher havia matado não apenas inimigos, mas também fortes aliados.

Chegaram à sala do rei, e Adele achou aquilo extremamente ofensivo. Tinha certeza de que uma assassina tão renomada como ela falaria entre um intermediário, mas o rei permitiu que aparecesse diante de si, com apenas oito guardas de vigia.

— Reverencie-se. — disse o capitão da guarda.

— Sinto muito, rei. Onde estão meus modos?

E então se curvou e fez reverência.

— A sua missão é simples. Tente matar Sela Wisllow, mas apenas uma vez. Se falhar, pare imediatamente de tentar e venha até mim.

— Sela Wisllow? A curandeira cega?

— Sim.

— Quer ela morta, ou espera que eu falhe?

— Tanto faz. Quero saber o que vai acontecer.

Adele riu, verdadeiramente. Conhecia Sela Wisllow. Uma vez havia sido salva por ela. Mas quando se tratava de matar, de se livrar de suas amarras, não poderia hesitar. Simplesmente o faria.

Sela finalmente parou de tocar e os ânimos se abaixaram, embora muitos dos homens a cortejassem. Novamente, isso também enfurecia Mesla.

Sela reconheceu William pelo cheiro do perfume do Argoria e pela voz. Mesla foi recebida com uma saudação honrosa, o que a deixou feliz. Alguém deveria ensinar tais modos a William. Maso, o cachorrinho que Sela havia resgatado do afogamento naquele dia, estava ao seu lado. Ambos pareciam estar em excelente forma, embora de formas diferentes. Sela parecia ser alguém que fazia exercícios constantes e se mantinha saudável, mas tinha certa delicadeza, uma beleza sutil, atenuada pela aparência agradável que já possuía naturalmente. Já Maso era robusto, mas não de gordura, de músculos. Aquele cachorro parecia ter sido treinado para ser um cão de caça. Mas não entenda errado, ele não parecia amedrontador, era calmo, e abanava o rabo para todos que chegavam perto, oferecendo a ponta da cabeça para que fizessem carinho e obedecendo aos comandos de todos.

— Maso, cantil. — Disse Sela ao cachorro, que rapidamente foi até o balcão e pegou um cantil com o balconista, que parecia já estar acostumado com isso. O cantil tinha uma pequena cordinha que ele usava para carregar até a dona.

Sela fez um pequeno gesto para que os dois aguardassem enquanto tomava um pouco d'água, então sorriu, e perguntou?

— A que devo a visita de duas majestades, ainda mais vindo a um bar tão humilde quanto este apenas para me ver?

— Você é requisitada por nosso pai — disseram os dois, quase em uníssono.

— Ele quer te fazer uma proposta.

— Presumo que eu não possa recusar? — disse ela, em tom cômico.

Convencê-la foi mais fácil do que William esperava. O que ele não sabia era que Sela só queria escapar das revisões chatas de biologia que fazia com as outras curandeiras da academia a qual era filiada.

— Quem está doente? —Perguntou Sela, enquanto caminhavam até a carruagem.

Antes que William pudesse falar, Mesla respondeu:

— Queremos discrição quanto a isso. Mas sinceramente, pelo mistério de meu pai, chego a pensar que talvez nem seja sobre cura a proposta que ele quer te fazer.

A carruagem era lenta, o que fez Sela apreciar a viagem. O assento era um dos mais confortáveis que já havia sentado durante toda a vida, e ela se segurava para não se esparramar demais sobre o tecido e parecer estranha.

Maso havia ido com eles, por insistência de Sela. Ele estava sentado sob o bagageiro na parte de trás dos assentos, já que não cabia direito na parte da frente.

Seguiram a viagem inteira sem trocar uma palavra sequer. William até queria falar com Sela, mas não na frente de Mesla.

Quando desceram, Sela fez uma única pergunta aos dois, enquanto esperavam que o capitão da guarda fosse buscá-los:

— Excelências, o que vós sabeis sobre o Castelo de Cores?

— Ninguém sabe nada sobre a localização atual há quase 50 anos. Você sabe, pela lenda, toda vez que é encontrado, ele muda de lugar e de cor. Nós até sabemos qual é a cor atual na sequência, já que foi nossa família quem o achou da última vez, mas é um segredo de Estado. Por que tem o interesse em saber?

— A cor branca. Dizem que dentro dele há todo tipo de veneno, mas para compensar, há uma bebida que pode curar qualquer coisa. Queria saber se há a possibilidade...

Sela escutou um barulho familiar. Uma corda sendo puxada em grande velocidade.

— Se abaixem, um arco! — Gritou.

No último segundo, a flecha zuniu e acertou seu cabelo, que ficou preso contra a parede.
Adele, que estava camuflada e suspensa sobre um galho de árvore, estava em choque. Sempre que o contador de alguém chegava a zero, ela morria.

Nem se preocupou em mirar, porque restavam poucos segundos na vida de Sela. Mas lá estava a flecha, cravada na parede segurando apenas os fios de cabelo, e contador acima de Sela... Diminuindo em números negativos.

Menos 10 segundos, menos 20. Aquilo a assustava tanto que nem ouviu os gritos de protesto de William e Mesla.

Castelo de CoresOnde histórias criam vida. Descubra agora