Capítulo II

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O sol forte maltratava. A umidade do ar ainda baixa fazia com que o cansaço chegasse ainda mais rápido. Rick passou a mão com a grossa luva pelo rosto, limpando o suor salgado que escorria fazendo arder seus olhos. Saíra de casa ainda escuro e se não se apressasse não terminaria de fechar aquele pasto ainda naquela tarde. Pegou uma forquilha e começou a torcer as pontas do arame, espichando-o, desviou do rolo quando esse ameaçou a se enrolar nele. De todos os serviços que haviam na fazenda concertar as cercas que os touros arrebentavam era o que mais detestava fazer.

         Bateu um prego na estaca de madeira prendendo o arame e voltou a enrolá-lo na forquilha e puxar, olhou para a cerca e viu que faltavam apenas cinco estacas para finalizar a droga do trabalho. Estava tão entretido no que fazia que só percebeu que não estava mais sozinho, quando a sombra do cavalo o cobriu, protegendo-o do sol. Levantando a cabeça, tirou o chapéu para ver quem havia chegado.

— Até quando pretende ficar aqui torrando sob esse sol? — pegando uma garrafa de água que trazia na bolsa preza ao arreio, Fred jogou-a para o amigo. —  se está querendo pegar uma insolação está no caminho certo.

     Tomando a água, Rick ficou observando seu amigo. Era o mais velho dos cinco, embora a diferença de idade não fosse tão grande assim, mas era com certeza o mais reservado de todos, e quando percebia que algum deles estava com problemas se empenhava ao máximo para ajuda-los a resolver e fazia uma semana que sua vida havia virado do avesso, e se afundar no trabalho era a única coisa que o mantinha com a sanidade no lugar.

Havia momentos em que tudo o que queria era se afundar na dor que esmagava seu coração, mas sempre que se virava havia um de seus amigos para lhe dar uma sacudida e pelo jeito era a vez de Fred.

— Você não tem mais nada o que fazer, a não ser me azucrinar? — mostrando a cerca, continuou — deveria estar satisfeito, pois estou quase terminando de arrumar essa maldita cerca, ou seja, estou salvando seu bolso.

— Salvando meu bolso? — Fred pegou um pedaço de pão fresco, que Donna havia mandado para Rick e deu uma mordida — você está é tentando ficar doente, isso sim, mas esclareça-me, o quê meu bolso tem a ver com você pegando uma insolação? —  voltou a morder o pão, enquanto observava seu amigo.

— Tenho certeza que Donna mandou esse pão para mim e você o está comendo. — antes que Fred colocasse o último pedaço de pão na boca, Rick o pegou. — Bem! Digamos que um certo touro premiado e avaliado em muitos mil reais está pastando bem tranquilo e feliz a poucos metros desta cerca. — tirando o chapéu e enxugando a testa, Rick levantou uma sobrancelha ao ver o sangue sumir do rosto de Fred. — então, ainda me acha um maluco, por concertá-la?

     Soltando um suspiro e descendo do cavalo, Fred pegou outro pedaço de pão na bolsa e jogou para o amigo.

— Seria bem mais sábio, trocá-lo de pasto enquanto arrumava a cerca, assim teria mais tempo e não precisaria tentar se matar. — amarrando o cavalo em uma das estacas da cerca, Fred pegou um rolo de arame e começou a puxá-lo, desenrolando-o. — Vamos terminar isso logo, pois já são quase cinco da tarde e você precisa tomar um banho antes de ir ao hospital ver o Lucas.

     Fred falou de forma tranquila e despretensiosa, mas sabia que havia tocado no motivo das constantes fugas de Rick. Uma operação havia sido montada por todos os amigos, tentando evitar que Rick ficasse sozinho durante muito tempo e se perdesse em sua dor. Puxando um pouco mais o arame, olhou para o amigo que o fitava com os olhos semicerrados.

RECOMEÇAROnde histórias criam vida. Descubra agora