CAPÍTULO VIII

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O verão havia realmente chegado, olhando para fora da janela da picape, Rick observava a vegetação que já começava a mudar a tonalidade.

         No céu nenhum sinal de chuva e o sol castigava. A leve brisa estava carregada e quente, tirando qualquer sensação de conforto ao ser tocado por ela.

Contornando o pequeno bosque que ladeava a estrada, Rick avistou a velha casa onde seus sogros ainda viviam. Por mais que tentasse convencê-los, sempre se recusavam a se mudar para qualquer outra das casas da fazenda. Parou a picape enfrente ao portão de acesso, mas não conseguiu descer, recostando a cabeça no volante, reviveu cada detalhe da conversa com Cath e por mais que tentasse, não conseguia tomar uma decisão.

– Vai ficar ai por muito tempo, ou está pensando em descer? – gritou o velho Tião, já parado na porta da casa.

Rick sorriu e desceu. Lucas também pertencia a eles, e não os privaria de participar de todas as decisões referentes a ele.

Ana era uma mulher baixa, bem magra, tinha no rosto manchas de sol, marcas de uma vida dedicada a terra. O velho Tião era um homem alto, pulso firme, criado nos sistemas do interior, onde a honra e a honestidade estavam acima de tudo.

A casa não estava mais em boas condições, precisava de uma boa reforma antes que as chuvas começassem. Cruzou o pequeno pátio e como sempre fazia, pegou dona Ana pelos braços e a carregou em um abraço de urso.

– Menino, deixe disso. – disse simulando uma reprimenda, mas se divertindo com a brincadeira. – um dia desses me deixará cair, e esse ossos velhos não aguentariam um tombo.

– Dona Ana, a senhora pesa do tanto de um passarinho, nunca a deixarei cair. – disse colocando-a no chão. – tem um café fresco para um pobre homem cansado?

– O café até temos, mas o pobre homem cansado, já não garanto. – disse Tião, apertando a mão de Rick em cumprimento. – está muito limpo para ser o tal homem cansado. – a risada de dona Ana chegou até Rick, acalmando seus pensamentos. Era disso que precisava; de rotina, de certezas. Não queria ter que lidar com o futuro, com o que pudesse vir a ser. O futuro mostrou-se muito sombrio sempre que ousara encará-lo e o via sem Lisa.

O cheiro de pão de queijo recém-assado irradiava da pequena cozinha. Dona Ana já estava colocando a água para passar um novo café. A lenha estalava no fogão espalhando algumas faíscas. Rick estava sentando em um tamborete perto da janela que dava para o quintal. De onde estava conseguia uma vista completa da horta que dona Ana mantinha.

– Coma algum pão de queijo, o café não demorará. – disse empurrando a cesta para ele. – está vindo do hospital? – perguntou dona Ana, já voltando para o fogão, a fim de passar o café.

– Sim, acabo de vir de lá. – Rick pegou um pão de queijo e colocou um pedaço na boca. Mastigou-o e podia jurar que se tratava de um pedação de plástico sem sabor. Tinha a sensação de que nunca mais voltaria a sentir nada, sentia-se entorpecido.

– E como ele está?? – o velho Tião puxou outro banco e se sentou – quando poderemos trazê-lo para casa?

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