Ato II - A Cidade da Tristeza

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Apesar do espaço limitado e privacidade inexistente, Hyunjin estava feliz em ter um lugar para ficar. Yongbok explicou toda a rotina da casa, além de já cobrar o primeiro aluguel. Tudo foi feito sem contrato, apenas no acordo de cavalheiros.

Hyunjin se afundou no cobertor quentinho, e pela primeira vez depois de muito tempo, conseguiu dormir.

Na manhã seguinte, Hyunjin acompanhou toda a rotina familiar da pequena família Lee e foi apresentado a um novo personagem dessa cidade curiosa: Yang Jeong-in, o florista.

-O Minho me falou de você! Espero que goste da nossa humilde cidade! Jeongin segurava Gon em seu colo, que brincava com as cordas de sua blusa. -Bom, preciso levar o Gon pra escola, vejo vocês mais tarde! Vamos lá, amiguinho!

Ao fechar a porta, a casa ficou em silêncio, até que Yongbok perguntou:

-Você ainda não começou a trabalhar?

-Eu começo próxima semana

-Hm

-Eu acho que vou caminhar pela cidade

-Ah tá, você não vai se perder, é só pegar a estradinha até o topo da montanha, tem um templo budista no final, de lá você pega todas as três ruas da cidade, só não vá muito para oeste, tem uma seita que fica nos limites da cidade, não são pessoas ruins, mas são um pouco irritantes

-Uma seita? Perguntou o Hwang, surpreso.

-É, bom, eu vou abrir a floricultura

-Quando abre o restaurante?

-Lá pra tarde, respondeu Yongbok seco, vestindo um casaco vermelho.

Os raios de sol demoravam para esquentar a pequenina fortaleza nas montanhas. A intensa vegetação, composta principalmente por árvores seculares, rodeava a cidade, era como se estivesse protegendo a cidade, ou impendido algo de sair dela.

Hyunjin entrou na livraria, onde Minho estava limpando outra pilha de livros.

-Bom dia!

-As pessoas começam o dia bem cedo aqui, o sol mal nasceu e já está todo mundo acordado...

-Você se acostuma! O Gon já foi pra escola?

-Uhum, ele é um baixinho legal

-Ele é maravilhoso, é o filho da cidade!

-Você está muito ocupado hoje?

-Não muito, por que?

-Eu gostaria que você me mostrasse a cidade

-Mas é claro, vamos lá!

Eles subiam a longa e sinuosa estrada, era possível ver pequenas plantações nos quintais das casas. Os moradores olhavam curiosos para Hyunjin, ele era como a última peça branca em um tabuleiro de xadrez, onde a vitória das peças pretas era iminente. Minho possuía um ar avoado, era como se seus pensamentos sempre estivessem em algum reino distante, e aqueles olhos lunares apenas acentuavam essa impressão.

O templo era uma pequena estrutura de madeira escondida entre as árvores, um velho monge limpava o caminho de pedra com uma vassoura. Eles acenaram para o velho monge, que devolveu o aceno sem dizer nada. Hyunjin fechou os olhos e respirou o ar puro da montanha, e disse:

-Aqui é tão silencioso

-Essa é uma das belezas de Seulpeunsan, respondeu Minho.

-Montanha triste?

-Sim, é o nome da cidade, os mais velhos contam que quando o vento sopra nas árvores, é como se a montanha estivesse chorando

-O que é aquela casinha? Hyunjin apontou um casebre ao lado do templo, decorado com lanternas e linhas coloridas.

-É a casa da xamã, o Yongbok te contou da seita?

-Sim, ele disse que eles são irritantes

-Todo mundo é irritante pra ele, menos o filhote dele, mas enfim, eles são divertidos, todo ano eles fazem um festival e anunciam uma nova data do fim do mundo, é bem legal!

-O Yongbok é o primeiro pai solteiro que eu conheço

-Ele não é um pai solteiro

-Como assim?

-Quer ver alguns livros da Era Joseon que eu tenho lá na livraria?

-Ah...Sim, claro

Eles desceram a montanha, enquanto o velho monge continuava limpando as folhas secas do caminho de pedra.

-Essas pessoas da cidade não sabem de nada, disse o velho monge.

O vento soprou como resposta.

Jardim Celestial - Hyunlix/MpregOnde histórias criam vida. Descubra agora