"Como um pequeno barco no oceano
Enviando grandes ondas em movimento"Helena estava animada com o seu aniversário.
Era estranho finalmente ter 16 anos. Sempre era aquela a idade dos protagonistas adolescentes em filmes e séries, a idade em que já se pode tirar título de eleitor, que conseguiria ir atrás de um emprego comum (e não apenas como menor aprendiz).
Parecia, de uma certa forma, um marco. O auge da adolescência, o meio entre a infância e a vida adulta.
Ok, talvez esse fosse um pensamento meio dramático. Mas era seu aniversário, era importante. E dois anos não eram muito, então... Ela estava, sim, chegando perto da vida adulta.
O que também felizmente significava que estava chegando perto de poder sair daquele inferno chamado Colégio da Graça do Senhor, mesmo se acabasse não conseguindo mudar de escola em 2020.
Não que ser adulta fosse apenas flores... Era, na verdade, um tanto assustador. Afinal, Helena estava indo para o segundo ano do Ensino Médio e nem sequer sabia o que gostaria de cursar na faculdade.
Porém... Era dia 23 de novembro. Seu aniversário. Poderia guardar a crise existencial para depois.
Naquele instante, gostaria apenas de aproveitar o dia.
O salão de festas do prédio da garota fervia com os preparativos para o café. Miguel enchia balões em companhia de Gabriela, uma dos primos dos irmãos, enquanto Helena e dona Tereza subiam para o apartamento e desciam de volta para o salão repetidas vezes — levando comidas e bebidas.
As pessoas estavam cansadas, pois preparar uma festa era meio cansativo, mas estavam felizes. Felizes por fazer isso por ela.
Aquilo fazia com que Helena se sentisse amada. Era bom.
Sem nem ao menos perceber, um sorriso se alastrou por seu rosto, envolvida por todo o clima festivo.
Tinha 16 anos!
Não demorou muito para seu celular apitar (normalmente ela o colocava no silencioso, porém precisava ficar atenta às notificações naquele dia, então...). Pegou o aparelho e viu: uma mensagem de Clara. Dizendo que já estava na frente do portão do prédio.
O sorriso de Helena, de alguma forma, ficou ainda maior.
Rapidamente avisou sua mãe sobre a chegada da garota e se encaminhou para recebê-la.
Clara estava a esperando do outro lado do portão, um grande sorriso enfeitando suas feições e um buquê de flores em suas mãos, e uma mala ao seu lado. O buquê era de girassóis. A flor preferida de Helena. Helena apertou o botão para liberar a entrada da outra e a recebeu com um beijo.
Não fazia mais diferença se alguém as visse. Todo mundo naquele fim de mundo já sabia sobre ela.
Porém, naquele momento, a garota nem mesmo conseguia se incomodar com aquilo.
Seu coração pareceu subir até a garganta quando as duas trocaram um beijo, acelerado e pulando como se fosse a primeira vez que seus corpos se juntavam e suas línguas dançavam em sincronia, ou, mais precisamente, como se ele tivesse aguardado um longo tempo para bater junto ao de Clara novamente.
Elas se separaram, e Clara, com um grande sorriso no rosto, estendeu o buquê de girassóis para Helena, dizendo:
— Feliz aniversário, meu amor!
— Obrigada, muito obrigada! — respondeu a outra garota, um tanto quanto eufórica. Então, pulou novamente nos braços da namorada, dessa vez, abraçando-a.
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A trilha sonora de nossas vidas
Teen FictionHelena tem duas certezas em sua vida: A primeira é que música é sua paixão, e a segunda é que ela é, sem sombra de dúvida, lésbica. O que ela não tem certeza, entretanto, é como vai sobreviver mais um ano e meio no inferno chamado Colégio da Graça d...