AVISO: GATILHOS. MENÇÕES A HOMOFOBIA E LESBOFOBIA NESSE CAPÍTULO, ALÉM DE ANSIEDADE. ALGUMAS A MACHISMO.
••••••••••••••••••— Uma semana de suspensão — Leonardo reclamou, emburrado, enquanto jogava uma bolinha de tênis para cima.
— Você meio que mereceu, Leo — Carlos murmurou, timidamente.
Ele estava extremamente incomodado com seu grupo de amigos após o incidente. Sempre soube que Rafael, e principalmente Leo, não eram exemplos a serem seguidos por ninguém. Mas passar a mão na bunda de uma menina e brigar no meio da escola... Aquilo era além do limite do aceitável.
— Ah, qual, é, Carlos — Rafael desdenhou. — Aquela putinha mereceu, toda estúpida para cima da gente. E o viado do Daniel então... Nem se fala.
— Aquele grupinho de amigos deles é todo estranho — concordou Leonardo, olhando para o teto da sala de estar. — Os dois e aquelas duas meninas de cabelo colorido da B... E aquele cara loiro todo quietão.
— Vocês acham que ele é viado também?— Rafael questionou, rindo.
"Esse é o evangelho para os caídos
Trancados em um sono permanente
Reunidos em suas filosofias
A partir dos pedaços de memórias fragmentadas"— Acho que vocês deviam cuidar das suas vidas — Carlos falou, em um tom baixo.
Todavia, os outros dois ouviram, causando um silêncio tenso a se instalar na sala.
— Por que você está defendendo eles?
A resposta de Carlos saiu de sua boca antes que ele pudesse pensar muito sobre o assunto:
— Porque eles não fizeram nada de errado — para sua própria surpresa, ele rosnou ao encarar os amigos. — E você, Leonardo, assediou uma menina.
Leo arregalou os olhos, a bolinha de tênis que segurava caindo de sua mão. Rafael parecia desdenhoso.
— Assediei? Descansa, militante.
O filho do pastor não conseguia acreditar. "Por que eu ando com esses caras?". Era o que se questionava.
"Bem, eu andava. Deu para mim".
— Foda-se — Carlos xingou, olhando para os outros dois. — Vocês são uns babacas. Eu não vou compactuar com isso. Cansei.
— Bem que eu devia ter adivinhado que o filho do pastor seria certinho demais para ser divertido — Rafael murmurou.
Carlos não se deu ao trabalho de responder. Ele sabia que não estava fazendo aquilo por seu pai ser um pastor e ele próprio ser alguém que buscava seguir a moral cristã. Não, era senso ético básico.
Ele não disse uma palavra enquanto saía da sala da casa de Leonardo, aproveitando que a chave estava na porta, destrancando e já saindo. Os outros dois não tentaram impedi-lo, apenas lhe enviaram olhares raivosos.
O coração de Carlos parecia prestes a sair de seu peito no momento em que ele rapidamente passava pelo estreito quintal da casa e saía pelo portão misericordiosamente não chaveado.
"Oh oh oh essa é a batida do meu coração
Essa é batida do meu coração
Oh oh oh essa é a batida do meu coração
Essa é batida do meu coração"Após o ímpeto de pura raiva ter passado, ele não podia mais evitar a sensação desconfortável em seu estômago por ter praticamente jogado fora seu status na escola. Não o entenda mal, ele não se arrependia. Entretanto, pensar em ir para a escola na segunda-feira depois daquilo o fazia querer vomitar.
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A trilha sonora de nossas vidas
Novela JuvenilHelena tem duas certezas em sua vida: A primeira é que música é sua paixão, e a segunda é que ela é, sem sombra de dúvida, lésbica. O que ela não tem certeza, entretanto, é como vai sobreviver mais um ano e meio no inferno chamado Colégio da Graça d...