Prólogo: Preta

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Resolvi sair um pouco do mundo das fanfics e me arriscar com uma história original. Há muito queria escrever algo que se tratasse sobre homofobia e também algo sobre amizade. Então... Por que não juntar os dois?

Espero que vocês, leitores, possam tirar algo bom nesse livro que estou montando com tanto carinho. Que lhes seja útil para algo... E claro, que se divirtam e se emocionem muito!

Sei que provavelmente não vou ter muito público, mas, se uma pessoa sentir-se tocada pela história, meu objetivo já estará cumprido.

AVISO: ESSA HISTÓRIA CONTÉM GATILHOS. TAIS COMO:

• Homofobia
Lesbofobia
Transfobia
• Assédio
• Racismo
• Ansiedade
• Pensamentos suicidas
• Depressão
• Crises de pânico
• Machismo
Acefobia
Abuso psicológico
• Automutilação

Obrigada pela atenção!

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Um fato sobre Helena Ribeiro era que ela absolutamente adorava, amava, AnaVitória. As músicas da dupla eram totalmente seu mais novo vício.

E era exatamente essa a playlist que ouvia enquanto olhava pela janela do trem. Mais especificamente, ouvia a música Preta, a sua preferida do novo álbum delas.

Era simplesmente tão fácil se desligar do mundo, naquele trem em companhia de apenas seu fone de ouvido, observando o movimento da grande São Paulo. E, de fato, sua mente divagava. Mas não por caminhos felizes.

Uma das integrantes da dupla, a Ana, havia escrito aquela música para sua mãe, narrando quando se assumiu bissexual. Já Helena, procurava há meses coragem em si mesma para contar à própria mãe sobre sua sexualidade.

Não é que dona Tereza fosse uma mulher preconceituosa. Não, muito pelo contrário. A garota mal conseguia conter a risada ao se lembrar da mãe xingando abertamente pastores e religiosos por suas falas absurdas sobre esse assunto, e, logo após, se xingando pelo vocabulário que estava usando na frente dos filhos.

Mas, mesmo assim, a adolescente não conseguia evitar sentir-se insegura. Será que a mulher manteria a mesma tranquilidade e aceitação em relação à filha? Ou se revelaria uma daquelas pessoas que não são nada preconceituosas, desde que não seja dentro de sua casa?

O coração de Helena batia acelerado com a possibilidade. Em pouco mais de duas semanas, sua família estaria de mudança. Deixariam a capital e partiriam para o interior, mais especificamente para São Carlos, uma cidade extremamente religiosa. Sua mãe não sabia, é claro, mas para a filha mais velha, aquilo era um total pesadelo.

Além de deixar todas suas amizades para trás, teria que aprender a viver numa cidade em que o simples fato de Helena ser quem ela era seria um desafio enorme. Não que não houvessem homofóbicos em São Paulo capital, mas em cidades grandes, sempre há lugares mais receptivos para encontar. No interior, não.

Os pensamentos de Helena, porém, foram interrompidos por um grito:

— OLHA A PAÇOCA! Paçoca três reais, quem quer, quem quer?

Ela pulou no assento e pausou a música, xingando até a quinta geração do vendedor ambulante. Em seguida, para a sua diversão, ouviu a gravação que sempre passava nos trens e metrôs, anunciando a ilegalidade do comércio ambulante.

Pausou a música e se levantou, percebendo que estava perto da sua estação. Se agarrou fortemente no ferro quando o trem parou, porque depois daquela vez que caiu no meio do metrô, havia pego trauma.

A trilha sonora de nossas vidasOnde histórias criam vida. Descubra agora