💫Moonbin → As Regras não se Aplicam a Nós |2

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PARTE 2

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Moon Bin agradecia todos os dias por permitirem a entrada de aparelhos mp3 na escola. Não fosse sua playlist secreta do The Smiths é bem provável que não tivesse a sanidade mental no seu devido lugar. Obviamente que por fora ele escutava assiduamente a Drake, Rihanna, Loco, mas no escuro da lanchonete, quando já estavam todos se preparando para dormir, ele deixava o play rolar solto por entre as melancolias de Morrissey.

Foi por isso que não ouviu a porta da entrada do refeitório bater.

A neve já começava a se transformar em chuva contra as janelas, mas limpar sozinho a cozinha não era trabalho fácil e logo os vidros ficaram embaçados pelo calor da água que Moon Bin espalhava pelo chão. Como não havia viva alma por perto, e tinha certeza de que o Sr. Park estaria jantando no conforto de sua casa, desabotoou a camisa, deixando parte do peito a mostra e amarrou a gravata ao redor da cabeça, como uma bandana afastando a franja comprida da testa suada.

Esfregou o chão no ritmo da coreografia dramática que havia aprendido em sua última aula de dança, e chacoalhou-se de um lado para o outro como se ali fosse sua Broadway particular. Pensou nos pais, sobrevoando o país para darem mais entrevistas e fingirem que a ausência do filho não era descuido da parte deles e sim preocupação exagerada com sua privacidade. Riu abertamente da piada que Sinb lhe contou durante o almoço. Encenou com a vassoura a reação de seus colegas de classe se descobrissem sobre seu namoro secreto, então, pensou nela.

Nunca acreditou que tivesse qualquer chance com Park Ji-ho, aproximou-se dela por pura coincidência do destino, pois tinha certeza de que seria ignorado. Ajudou a garota com o balde de tintas frescas que a professora mandou os dois buscarem no depósito durante a aula de artes. Ela achou graça dele ter medo de ratos vivendo entre os materiais escolares e as bochechas dele ficaram vermelhas quando suas mãos se encontraram ao buscarem pelo mesmo pincel de cabo amarelo.

Ele a achava fofa desde o fundamental, quando fizeram dupla na gincana de fim de verão, mas foi só no penúltimo ano de escola que parou de achá-la apenas bonita e percebeu as mãos suarem na sua presença. Como era aluna modelo, Park Ji-ho podia ser vista por todos os lados, seu sorriso meigo escancarado em cada canto da escola. Foi impossível ignorá-lo.

Passaram a se demorar no depósito, tomando todo o tempo possível para colocarem as tintas e cavaletes no lugar. Nenhum dos dois queria se despedir. Moon Bin chegava mais cedo para encontrá-la a sua espera na porta da sala. Não disseram muito nos primeiros dias, até que Ji-ho não parou de falar. Contava ao garoto de tudo um pouco, desde as regras absurdas do pai aos planos que a família fazia para seu futuro, nos quais não estava nem minimamente interessada.

De repente, de uma estranha bonitinha, Park Ji-ho tornou-se a única pessoa naquela instituição a conhecer a verdade sobre os pais de Moon Bin. Sentados no terraço, as costas dela poiadas na parede fria e a cabeça no colo dele. Ela lia o segundo livro da semana enquanto ele folheava as páginas de um mangá qualquer, distraído pelo modo engraçado como seu coração havia passado a bater.

Ela o beijou primeiro.

Fechou os olhos e colou seus lábios rapidamente. Depois ficou toda vermelha e anunciou considerar idiota a regra anti-namoro da escola. Moon Bin estava apaixonado pela garota mais corajosa que já conhecera.

Balançou a cabeça para trás, rindo da lembrança recente que parecia ter acontecido a uma vida. Teve vontade de cantar de felicidade. Ainda não sabia como reagir às borboletas e joaninhas e ramos de azevinho que se misturavam no seu estômago e formavam ali um jardim inteiro. Achou que os filmes mentiam, mas ele sentia-se flutuar e quando passava tempo demais longe dela, pensava que morreria de tristeza. A cada segundo dentro daquele sentimento descobria algo diferente sobre si mesmo, um impulso que desconhecia, uma vontade exagerada que nunca achou ser possível morar ali. Queria mergulhar até o fundo mesmo que isso o impedisse de respirar.

Não sabia que o primeiro amor era como viver de aluguel na cabeça de um louco.

Abriu uma garrafa d'água e a jogou no chão como se fosse uma estrela do rock, encenando o ápice de seu melhor show, partindo a guitarra ao meio e jogando-a para a plateia, ainda que a guitarra fosse apenas uma vassoura e a plateia uma única pessoa apoiada na porta.

– Além de tudo você também daria um bom ator. – Park Ji-ho dobrava-se de rir, as palmas das mãos encontrando-se no ar enquanto ela o puxava para dentro dos pulmões, respirando fundo para controlar a risada.

– O quê... Ji-ho...a quanto tempo você está aí? – A surpresa com a aparição repentina da pessoa que povoava seus pensamentos mais recentes quase o fez escorregar no chão ensaboado. – Cuidado. Vem cá. Segura minha mão.

Ela quase caiu ao tentar se aproximar dele, o corpo mole de tanto rir. Moon Bin adiantou-se esticando a mão para que a garota pudesse se apoiar em algo. Ela pisava o chão usando apenas a ponta dos pés, achando graça da situação, enquanto as sobrancelhas dele uniam-se em preocupação.

– Por que eu tenho a impressão de que a senhorita está sempre onde não devia? – Tratavam-se como senhor e senhorita para tirar sarro da formalidade do colégio, com suas regras ultrapassadas sobre namoros e cumprimentos de saias.

– Aprendi a ser rebelde com um mocinho aí. – respondeu, travessa. Os dedos tocando a bandana improvisada do namorado.

– Precisamos conversar sobre suas amizades.

– Quem disse que ele é só meu amigo? – Moon Bin não entendia como Ji-ho conseguia dizer coisas desse tipo sem ficar envergonhada. Ali ela era tão diferente da aluna certinha sentada sempre de pernas cruzadas, de frente para o professor, focada no que deveria ou não fazer de acordo com as imposições do mais velhos.

O rosto de Moon Bin transformou-se numa careta, fazendo-se de escandalizado, e Ji-ho tirou do bolso um elástico de pano colorido com o qual prendeu os longos cabelos negros. Não deu ao garoto tempo para interrompê-la e foi logo despejando alvejante na pia, as mãos protegidas por um terrível par de luvas amarelas. Quando ele tentou persuadi-la a parar e retornar ao seu quarto, ela o calou com um ataque de espuma e ao invés de lavarem apenas o refeitório, terminaram a noite ensopados.

Então, um estampido ardido varou o silêncio dos corredores desertos e os dois calaram-se, assustados. Não ouviram nada por alguns minutos até que as luzes da casa do zelador foram acesas lá no quintal, indicando que Ji-ho e Bin não foram os únicos a escutarem o barulho esquisito, por tanto, logo os professores estariam por todos os cantos.

Temendo que fossem rodeados e Ji-ho ficasse sem ter como voltar ao seu dormitório, Bin a persuadiu a ir embora antes que começassem a ouvir passos pelos corredores. Eles não podiam ser vistos sozinhos ali, pois arriscavam serem expulsos. Bin não queria ser o responsável por manchar para sempre o currículo impecável de alguém por quem ele tinha tanto carinho.

Debaixo de muitos protestos, ele a acompanhou até a ala do dormitório feminino, só para ter certeza de que Ji-ho não inventaria de sair por aí procurando desvendar o que aconteceu. A garota era curiosa demais para a própria segurança. Assim, prometendo que voltaria correndo para seu próprio alojamento, Bin despediu-se e roubou dela um beijo antes de lhe dar as costas e desaparecer pelo corredor.

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