A MELHOR AMIGA DA PRINCESA (Reino de Seres e Maldições)

CAPÍTULO 4

"Está ficando escuro e está tudo muito quieto / E eu não posso acreditar em nada agora / E está vindo sobre você como se tudo fosse um grande erro"  Haunted - Taylor Swift

Ainda que muito contrariada, segui o caminho completamente calada e tentando observar tudo ao nosso redor. Observei não apenas os movimentos de Misha e Killian, mas também o caminho por onde estávamos viajando e as reações de tudo o que nos cercava, de toda a vida que me observava de volta.

Consegui reparar em cada som, cada cor e cada sopro - até que a Floresta dos Desencantos podia ser magnífica à sua forma. Inúmeros pássaros cantavam pela relva, seres que eu até então desconhecia se rastejavam por entre os arbustos e eu ficava cada vez mais hipnotizada com esse choque de realidades, com minha jornada até aqui e com essa natureza selvagem e mística. Fui criada longe de tudo isso, mas ainda sim algo soava familiar demais. O máximo que cheguei para longe do castelo fora até as vilas vizinhas e nem mesmo os livros ilustrados me prepararam para o que eu realmente observava, toda a vida existindo sob meu olhar.

Aos poucos avançávamos mais mata adentro. Agora, o prado se transformou em flora agressiva e rústica, repleta de árvores grandes e altas. Precisávamos nos distanciar o máximo possível das trilhas e caminhos comuns para que não fosse possível um provável encontro com os guardas do rei e ou seja lá quem mais estivesse atrás de nossas cabeças em troca de uma possível recompensa.

O rei.

O que diabos aquele homem estaria fazendo uma hora dessas? Será que sua preocupação com Francesca não seria capaz de exceder aos pensamentos que lhe foram implantados na cabeça sobre sermos desertoras? Ou será que nem para isso ele liga mais e só quer resolver um problema de forma rápida e simples, trazendo mais vitimismo para si a fim de ganhar mais controle sob o povo do reino?

Esse foi um dos motivos pelos quais aceitei rapidamente fugir com Francesca, além de querer protegê-la e tudo o mais. Fugi por um bem maior, por um futuro melhor. Fugi para transformar minha vida, dar uma qualidade melhor para a mente perturbada de meu pai. Fugi para não cair nas garras do rei e seu reinado.

Ou será que tudo isso apenas sou eu tentando convencer a mim mesma de que eu simplesmente fora enganada por minha melhor amiga e estava arranjando uma desculpa para aceitar de forma mais rápida toda essa mudança que está acontecendo? Acho que não, apesar dos pesares. Minha vida era boa até certo ponto. Talvez Francesca me tenha feito um favor ao me enganar, talvez eu precisasse disso.

Aquilo que Misha falara anteriormente ecoava em meus pensamentos. Era difícil acreditar na palavra de um fada, mas era fácil acreditar que o rei executara tamanha atrocidade - eu sabia disso, Francesca sabia disso. Se eu tivesse algum poder de mudar as coisas, de lutar por aqueles que um dia me acolheram tão calorosamente. O povo de Drakgaar faz parte de minha história, meus descendentes vieram das pequenas vilas ali espalhadas e, por anos, sofreram com certas injustiças do reinado da família de minha melhor amiga.

Seja contra eles e sofra.

Se revolte e morra.

Una-se a eles e tenha regalias.

Una-se a eles e apenas não corra o perigo de ter sua vida por um fio.

As coisas eram assim e sempre seriam. Minha esperança estava em Francesca, mas agora creio ser impossível uma reconciliação entre a imagem de desertora e a antiga imagem de salvadora de seu povo. Talvez fosse esse nosso destino mesmo, acabar aqui.