CAPÍTULO 7

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"Quando as sombras da noite e as estrelas aparecerem e não houver ninguém lá para secar suas lágrimas, eu poderia te segurar por um milhão de anos para você sentir o meu amor." Make You Feel My Love – Adele


Antes da viagem, aquela que tirou a vida de minha mãe, eu sonhei com névoa esverdeada e silvos sibilantes. Sonhei com gritos, trovoadas cintilantes e crianças chorando.

Eram o caos e o medo encarnados.

Sonhei com uma música melancólica e com serpentes de escamas marmorizadas. Sonhei com sangue derramado em chão de madeira e em fogo deixando cabanas em cinzas.

Minha mãe dizia que eram pesadelos normais, e me contou que ela também os tinha e, por mais tenebrosos que fossem, eram apenas frutos da nossa imaginação. E ela sempre ressaltava que minha imaginação era muito fértil por eu sempre escutar histórias em todos os cantos em que eu me metia, lá com os camponeses ao redor do castelo. Era meu passatempo favorito participar de rodas de leitura e testemunhos de viajantes.

Mas não me convenci, então fui escondida até a biblioteca do castelo e lá encontrei alguns livros que diziam outra coisa. Eles diziam que sonhos como aqueles eram sinônimo de presságio.

Presságio de morte.

Lembro-me de que convenci a mim mesma que os deuses estavam me usando como mensageira, então implorei e teimei por dias falando para os pais que não fossem naquela tal missão que o rei lhes havia arranjado.

Mas o que eles poderiam fazer? Largar o trabalho que colocava comida na nossa mesa apenas para servir aos caprichos de uma criança birrenta?

Assim que eles partiram, Francesca e eu passávamos o tempo inteiro juntas. Vivíamos passeando pelos jardins e nadando nos lagos, brincávamos o dia inteiro e confessávamos nossos maiores medos uma a outra antes de dormir – mesmo que nossos medos fossem ficar sem sobremesa no dia seguinte ou não conseguir se casar com um príncipe bonito, afinal, essas são coisas assim que inundam a cabeça de duas crianças.

Estávamos correndo por entre os corredores do castelo quando Janette, a melhor cozinheira – e a mais incrível fofoqueira - do reino me parou subitamente. Ela agarrou meus ombros com uma firmeza jamais vista antes. Seus olhos estavam marejados de lágrimas e ela me encarava sem dizer uma palavra sequer.

Comecei a ficar impaciente ao mesmo tempo que um arrepio percorreu minha espinha.

- O que aconteceu? – lembro de escutar minha amiga, que estava logo atrás de nós, sussurrar ao chegar mais perto de nós.

Acho que eu já sabia, lá no fundo eu já sabia.

Janette e eu ficamos nos encarando por alguns segundos, até que ela afrouxou as mãos em meus ombros, acariciou meus braços e suspirou. Gentilmente, ela levou uma das mãos até a minha testa e afastou uma mecha de cabelo da minha suada enquanto suspirava mais ainda e começava a chorar.

Essa foi confirmação do presságio.

Eu estava certa, alguém havia partido.

E mais tarde eu descobri que esse alguém era minha mãe.


Assim que eu acordei na cabana, percebi que estava deitada numa superfície macia, e não no conjunto de bancos duros e frios que eu havia colocado em fileira para improvisar uma cama e poder dormir fora do alcance de Killian. Afinal, ser baixa até que tinha suas vantagens.

Naquele momento, eu não me importava muito em saber como eu havia chegado até ali, na cama, ou em como que eu estava coberta por uma manta extremamente quentinha e confortável sendo que não fiz nenhuma dessas coisas.

E eu me importava menos ainda em saber onde o metamorfo estava, pois sabia que era para ele estar no meu lugar ou, ao menos, do meu lado. Lembro de tê-lo visto se deitar aqui ontem.

A única coisa importante para mim naquele momento era entender o que havia acontecido.

Entender a razão de eu ter acordado num repente estrondoso e amedrontado por ter sonhado com aquele mesmo compilado de sonhos-presságio que tive quando ocorreu o acidente que levou minha mãe.

Minhas mãos tremiam e meu coração estava extremamente acelerado. Meu corpo inteiro estava se contraindo involuntariamente.

Levantei-me às pressas, derrubando a manta em qualquer lugar por ali no chão daquele quarto minúsculo. Abri a porta com rapidez a fim de encontrar Francesca, a fim de encontrar conforto em alguém que eu pudesse compartilhar esse sentimento pois o viveu comigo quando éramos crianças.

A cabana estava vazia.

Não havia sinal de Francesca ou Misha ou Killian.

Saí correndo pela porta e meu coração já estava se rasgando em mil pedaços quando meu corpo se chocou ao de alguém. Não tive tempo de processar o impacto, minha cabeça bateu contra o peito musculoso de Killian e eu teria tombado para trás caso ele não tivesse me segurado.

- O que aconteceu, Augustine? – o metamorfo disse com as mãos firmes me segurando pelos ombros, me impedindo de cair, assim como Janette havia feito no passado.

Lágrimas já rolavam pelo meu rosto quando consegui dizer a frase que fez com que meus joelhos cedessem mais ainda.

- Acho que... meu pai morreu.

Killian não abriu a boca.

Killian não me questionou.

Killian não disse que eu estava louca ou que aquela frase vinha de um pesadelo fruto da minha imaginação.

Killian apenas... me abraçou.




Nota da autora: desculpa a demora, muita coisa aconteceu. Tô correndo atrás dessa história pra vocês, prometo me esforçar. Relaxa que é um capítulo curto mesmo, essa semana tem mais <3

A MELHOR AMIGA DA PRINCESA (Reino de Seres e Maldições)Onde histórias criam vida. Descubra agora