4

146 14 2
                                    

Nero

Depois de esperar cerca de uma hora e meia, Marco voltou. Trouxe meu soldado totalmente ensanguentado e mancando de uma perna.

— Mas que porra foi essa? — Declarei enquanto via um dos meus melhores homens totalmente acabado.

— Nero, minha filha quer conversar com você antes de aceitar o acordo.

— Traga ela então.— Digo, impaciente.

— É contra as regras no caso de um possível noivado.

Malditas regras!

— É verdade — respiro audivelmente. — O que devo fazer? Deixar você, e esperar sua fuga?

— Vou precisar de um dia, para que minha esposa prepare Antonella para um encontro formal, como é comum quando um homem da máfia se interessa em noivar com uma jovem.

— Saiba que não deixarei barato por me fazer perder mais um dia. Irei cobrar pelo incómodo, a perda do meu tempo e pelo meu pobre soldado. — O homem sentado segurava a perna me encarando com dor iminente. Quem fez isso com ele? — Deixarei o meu soldado bom com sua esposa, e você ficará comigo no hotel, como garantia.

Marco me encarou por alguns instantes e acenou em concordância. Não quero que ele pense que estou levando-o como prisioneiro, e sim como futuro sogro. Mas que se tornará um prisioneiro se necessário.

Depois de ajudar meu soldado com os ferimentos, fui descansar. Não quis saber o que houve, ele também não parecia querer lembrar.

Amanhã, esperava estar noivo de uma garota que nunca vi. Tenho que parecer bem para essa ocasião inusitada.

●●●

Os maiores líderes da máfia tentaram pôr as mãos em Antonella Martinelli, e eu fui o que chegou mais próximo disso.

Tentei evitar que a ansiedade fluísse pelo meu corpo, mas foi inevitável. Arrumei o colete do terno preto de três peças e me sentei na mesma sala de ontem. Não posso deixar de sentir cheiro de ovelhas. Pelas janelas do convento avisto a grama verde e animais pastando.

A porta é aberta e vejo Angela entrar. Sua barriga enorme, exibida em um vestido verde florido. Ela está grávida? Nessa idade?

— Nero, querido, como você cresceu. — Seu sorriso é terno. Me levanto e ela me oferece um abraço cauteloso. — Como você está? Marco me disse que seu pai faleceu.

— Eu estou bem, mas não diria o mesmo do meu pai.

Meu humor ácido a assusta momentaneamente, mas logo se recompõe.

— Preciso admirar sua coragem em vir atrás de minha filha dessa maneira.

— Sou o Don agora. Se eu quero algo, eu consigo.

Marco entrou na sala e me cumprimentou. Ele se virou e acenou para a porta.

— Don Nero Marchiori, essa é Antonella Martinelli. — Uma garota baixa, com cabelos longos e castanhos entrou na sala. — Minha filha.

Ela se aproximou, levantando um pouco o vestido branco, no estilo camponesa. Sua pele, de um bronzeado cobre claro, estava levemente rosada, devido ao frio.

Me surpreendi com a beleza de seu rosto. Não que eu esperasse que ela fosse feia, mas porque ela era muito mais linda do que eu imaginava.

Senti uma puta vontade de enrolar meu punho naquela cabeleira, que caia como cascata em suas costas.

Ela me encarou de volta por alguns segundos fixamente, e depois fez uma breve mesura com a cabeça.

— E esta é minha outra filha — Marco falou, mas tive dificuldade em prestar atenção, pois não consegui desviar o olhar da garota a minha frente. — Lea Martinelli.

A filha do consigliereOnde histórias criam vida. Descubra agora