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Nero

Fiquei do outro lado da porta feito um otário, com minha arma na mão. Minha ideia de tentar proteger Antonella e Lea foi a pior possível.

Tranca-las feito prisioneiras em seus quartos por dias. Proibir visitas. Cheguei a não permitir ambas de se verem. Eu agi como um tirano.

Tudo isso apenas pelo luxo de guardar Antonella só para mim.

— Caralho — Gritei, dando mais um soco na porta.

Eu tinha que agir feito um idiota. Era isso que eu era, um fracassado. Como meu pai.

— Eu posso tentar tirar elas do quarto, senhor. — Aquiles disse ao meu lado. Suas mãos tremiam de medo. Medo de mim.

— Não precisa. Deixem-nas sozinhas, precisam de um tempo. Elas vão sair. Ela vai sair.

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Voltei para o quarto à noite, mas ela não estava lá. Não que eu esperasse seu perdão assim tão rápido.

Lutei para tentar trabalhar, mas minha mente só voltava para Antonella e meu provável novo título: papai.

Fui um idiota com Lea por proibir-lá de ver as amigas. Mas agora tenho muitos filhos e filhas de soldados e não sei em quem confiar. Manter Antonella e Lea presas foram minha melhor opção enquanto o prédio é reformado.

Precisei mandar Marco para buscar a garota alemã. Sua esposa teve o filho e a mandei de volta ao convento com o garotinho, onde seria seguro. Ele crescendo com as freiras, na escola da máfia, aprenderia cedo tudo que um grande herdeiro deve dominar. Afinal, Antonella passou a ser minha esposa e Lea agora é considerada minha filha.

Agora que Lea também me pertence oficialmente, preciso manter sua segurança. Mas não quero parecer um homem terrível que não deixa os outros se divertirem. E talvez por conta disso eu possa ser um pai horrível.

Antonella me odeia. E as chances que eu tinha de ser um bom instrutor para Lea foram por água abaixo.

— Nero, a garota está a caminho. — Aquino entrou no meu escritório. — Marco me ligou.

— Que bom. — Resmunguei, ainda fuçando os arquivos sobre a mesa.

Aquino parou ao lado da mesa e me observava friamente. Eu sabia que ele iria começar o discurso em alguns instantes.

— Quer conversar sobre o que aconteceu? — Ele finalmente perguntou.

— O que aconteceu? — Perguntei, enfurecido. Bati a mão na mesa com força.

— Aquiles deixou escapar que você e Antonella tiveram uma discussão bastante acalorada, e não do tipo bom. — Seus lábios se ergueram maliciosamente. — Na verdade, todos os seus homens estão fofocando sobre como você é bruto. Que deixa sua esposa com medo a ponto de se esconder de você. Isso tudo e vocês só tem três meses de casados.

Deixei a raiva me tomar e descarreguei:

— E o que você quer que eu faça? Agi como um louco possessivo e agora minha esposa me odeia. Pensei que estava ajudando, mas eu só piorei as coisas. Pelo menos esses idiotas estão pensando algo de bom, porque eu sou o único que estava se escondendo.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Quer um conselho de um homem que perdeu o amor duas vezes? — Acenei, revirando os olhos. — Mulheres se sentem usadas quando não damos espaço a elas. Você trancou Antonella, isso mostrou que você não confia em deixá-la sozinha. E ela foi criada para ser uma líder, a garota é capaz de lidar com qualquer coisa. E absolutamente sozinha.

— Mas eu simplesmente não posso perdê-la.

— Você não vai perdê-la, rapaz. Vai conquistar ela.

O encarei com confusão estampada.

— Dê um espaço de confiança. Mostre que acredita no potencial que ela tem de se cuidar sozinha. E não prenda o pássaro na gaiola.

Olhei o livro que ela deixou marcado no quarto. Trouxe ele para meu escritório imaginando que talvez ter algo que foi tocado por ela me desse alguma motivação. Pensei por alguns instantes e uma luz se acendeu.

— Obrigada, Aquino, você me deu uma ideia.

Ele se virou para sair, mas o chamei.

— Separe alguns homens que saibam mexer com marcenaria. — Ele acenou e sorriu, eu sabia que ele era um desses homens. — Enquanto Antonella não volta para mim, posso tentar me redimir.

A filha do consigliereOnde histórias criam vida. Descubra agora