DEPOIS QUE EU TE VI • Bruno Rezende

01

— Senhora, desculpe! - ouvi pela milésima vez o pedido de desculpas da atendente na minha frente e respirei fundo. Eu sei que ela não tem culpa, mas que ódio!

— Moça, eu só preciso voltar pro Brasil, não tem como eu ficar nem mais um dia aqui - falei em uma mistura de português com italiano e espero que ela tenha entendido - eu paguei pela passagem, olha - mostrei mais uma vez o comprovante pra ela - eu só preciso que vocês me coloquem nesse vôo - falei irritada

— A gerência está tentando resolver - assenti e fiquei batendo o pé enquanto encarava ela. Estava há 2 meses na Europa, vim visitar uma prima minha que morava em Portugal e acabei indo para outros países, até que parei na Italia, meu último destino. Achei superestimado, confesso. Não aguentava mais ver uma massa na minha frente e estava a ponto de surtar com esses italianos gesticulando a cada palavra dita. Sem falar que não tinha mais um euro pra comprar sequer uma bala. Enfim, no final, a experiência foi ótima, mas eu precisava urgentemente do meu Rio de Janeiro, só que a companhia aérea simplesmente não tinha localizado a minha reserva naquele voo e eu estava há trinta minutos olhando pra atendente que não resolvia porra nenhuma - Senhora? - me tirou dos meus pensamentos e eu a encarei - o vôo já estava lotado

— Olha, moça, sério, eu tenho um comp... - tentei argumentar

— Mas, como uma forma de nos desculparmos pelo nosso erro, iremos realocar a senhora na nossa Primeira Classe - eita, caralho! MAS É O QUE?

— Ah, ótimo! - tentei fingir indiferença, mas certamente falhei com o tamanho do sorriso que surgiu na minha cara. Nem nos meus melhores sonhos eu já tinha viajado de primeira classe - obrigada - tentei não parecer mal educada e fiquei aguardando enquanto ela processava minha nova passagem. Será que esse era um bom motivo pra estourar uma trend no tik tok? Ai gente, juro que já não sei mais o que pensar da vida... eu tenho 26 anos e, bom, não tenho nada! Já estudei arquitetura, direito e administração, larguei todas e recentemente me formei em publicidade. Eu gostava bastante da área e fiz mesmo sem o apoio dos meus pais, mas sabe aquela pessoa que caiu na amargura da vida? Acho que to assim.

Até hoje não consegui um emprego fixo, vivo de bicos por ai e ainda preciso de ajuda dos meus pais pra me manter. Eu sei... tenho sorte em ter esse privilégio, mas chega um momento em que é impossível você não ficar um pouco amargurada com a vida. É horrível isso, mas eu ando meio assim. Enfim, tudo isso na expectativa de estourar no tiktok e quem sabe ganhar uma fama em cima disso, já que pelo trabalho de gente normal não tá rolando

— Aqui, Senhora, sua passagem - entregou nas minhas mãos e sai enquanto admirava aquela belezura que provavelmente seria a única em minha vida

— Ai!!!! - soltei ao sentir o impacto do meu corpo chocando contra uma pessoa, ou seria uma parede? Jesus, quase 2 metros de altura - puta que pariu - resmunguei quando senti minha bunda tocando o chão - logo vi que a sorte tava grande demais pro meu lado - continuei resmungando

— Foi mal ai, deixa eu te ajudar! - ah inferno, ainda por cima era brasil... caralho, simplesmente o Bruninho! Aquele gato do vôlei, o que tá rolando? - machucou? - perguntou todo preocupado

— Não, não, eu tava meio distraída, desculpa - falei sem jeito e ele sorriu

— Percebi - riu fraco

— De qualquer forma, obrigada - dei um meio sorriso

— Bruno - encarei ele confusa, acho que eu ainda tava processando as coisas. De manhã então, foda! - meu nome é Bruno - tentou se explicar e eu ri