Fizemos todo o trajeto em silêncio e não demorou muito até chegarmos a esquina da minha rua, quando noto um carro parado em meu portão, e logo reconhecia os homens parados em meu portão junto com meu pai, na mesma hora diminuía os passos.
- Raoni... É ele... - Falava quase que em um sussurro, com o olhar fixo no tal Marcos junto de Marcelo, logo olhava para Raoni como quem pergunta "o que a gente faz?" E ele me devolveu o olhar de um jeito sereno mas firme, e eu entendi o que ele queria, que eu me acalmasse. Eu respirei fundo algumas vezes e continuei o trajeto, firme e tentando mostrar o máximo de indiferença possível.
- Olha quem chegou, minha cunhatã. Chegou tarde hoje.. - Meu pai me puxava pra um abraço e me depositava um beijo no alto da cabeça.
- Não exagera pai... - Falava sorrindo e me soltando. - Eu e Raoni resolvemos dar uma volta - Eu apontava pra Raoni atrás de mim.
- E os dois peixinhos tinham que acabar na água, lógico.. - Meu pai tentava forçar uma cara de desaprovação. - Mas antes do cazalzinho entrar mostrem que tem Educação... - Então meu pai apontou para Marcelo e Marcos.
Eu desviei o olhar bravo que fazia pra ele pelo "cazalzinho", com um sorriso que eu torcia pra não ter parecido tão falso.
- Boa tarde gente, desculpa... É que meu pai gosta de falar demais as vezes... Aliás, esse é meu 'AMIGO' -dava ênfase na palavra e fuzilava meu pai com o olhar brevemente - Raoni, ele mora na aldeia...
Raoni prontamente estendia a mão para Marcelo o cumprimentando, e logo em seguida para Marcos. Raoni mudou o olhar de uma forma sútil, mas eu percebi, e eu acho que Marcos também pois ele olhos no fundo dos olhos de Raoni.
- Tu tem feições fortes dos índios né? Parece de verdade.. - Marcos gesticulava falando de Raoni - Parece que veio da Amazônia.
- Rapaz, esse menino é um sangue puro, raro na idade dele, mas a família dele não se misturou, não é mesmo Raoni? - Meu pai o segurava pelo ombro indo mais para o lado de Raoni.
- Sim, é isso mesmo.. - Raoni forçava um sorriso, assim como Marcos.
- Eu não sabia que existia uma aldeia tão bem conservada aqui, você bem que podia me levar lá pra conhecer um dia desses, eu sou um homem que adora ouvir histórias... - O olhar dele foi de Raoni para mim.
Meu pai começou a falar um pouco sobre a aldeia e todos estavam prestando atenção menos eu, Raoni e Marcos, ele olhava fixamente para mim e logo ia para a pedra pendurada em meu pescoço, estava começando a sentir que não ia conseguir manter minha imparcialidade por muito tempo, foi quando eu senti a mão dele tocar a minha, ele entrelaçou apenas o dedinho mindinho no meu, foi o suficiente pra que eu conseguisse voltar a ter controle, focava toda a minha concentração na pedra, pedindo pra que ela não brilhasse ali, agora.
Raoni pigarreou e cortou meu pai - Senhor Bora, o senhor me dê licença, mas preciso ir.
- Nada disso, Tânia está terminando o almoço, você vai ficar e almoçar com a gente, faço questão - Meu pai virava pra mim - Leva ele pra dentro e se precisar, pegue umas roupas minha e empreste a ele.
-Entao vou entrando... Tchau gente, foi um prazer revê-los.. - Segurava o pulso de Raoni e o puxava dali - Vem, vamos..
- Essas crianças só inventam, agora vê, nadar em lagoa essa hora... Esses dois aí vão me dar trabalho, vai vendo... Eu vejo as coisas de longe... - Meu pai dizia rindo com os homens.
- Ah vão.. e como vão dar trabalho, tem que ficar de olho 'seu' Bira - Eles riam juntos.
A voz daquele homem era como um agoro, e a cada palavra que ele dizia meu corpo reagia em um arrepio, eu sabia o que era aquilo, era medo, medo do desconhecido, do que estava por vir, era o medo que havia sentido naquela noite que ele me perseguia... Apertei o pulso de Raoni e fiz questão de virar pra trás e vi que ele nos acompanhava com o olhar, fixei meus olhar no dele mas o olhar dele intercalava entre o meu e a pedra, Raoni percebeu e fez eu me virar e entrar logo dentro de casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
A Guardiã da Pedra da Lua 🌙 (EM ANDAMENTO)
Fantasy"Ela era uma menina comum, que vivia uma vida que para muitos era taxada como sem graça, mas tudo isso muda quando ela resolve voltar pra casa sozinha em um sábado a noite de uma festa e começa a ser perseguida por um homem misterioso, o medo e o de...