Capítulo 2

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Assim que pus meus pés de volta na estrada a pedra em meu pescoço parou de brilhar e voltou a ser um simples cordão em meu pescoço. Avistei um ônibus vindo aquilo sim era um milagre, já que na região onde moro eles demoram uma eternidade para passar, quando passam. Então balancei os braços para o motorista conseguir me avistar na escuridão da estrada, ele parou para mim, mas demorou um pouco ate abrir a porta, ele estava um tanto desconfiado, uma menina parada no meio de uma estrada escura, tarde da noite e com as roupas sujas de terra, eu também teria receio de parar.
Eu tinha uma paixão enorme por pochetes e talvez essa tivesse sido a minha sorte no meio de tudo o que aconteceu, não perdi nada meu e tinha dinheiro para poder pagar a passagem.
- Boa noite - Disse com o olhar baixo, não queria dar explicações de algo que nem eu mesmo saberia explicar. O motorista me respondeu apenas com um aceno.
Enquanto seguia para um assento que havia avistado ao fundo do ônibus umas poucas pessoas que estavam nele me observavam, eu passava por uma mulher e com um sorriso mais gentil que conseguia fazer lhe perguntava as horas, rapidamente ela olhava em seu pulso e me dizia ser 23:30. Esse provavelmente era a última condução, pelo horário e por sorte passaria perto da minha casa.
Agradecia a mulher e seguia para o banco no fundo do ônibus.

Ainda tremia e lembrava de tudo, do homem, do desespero que senti, do medo que me consumia e de tudo o que aconteceu depois, segurava a pedra que usava como pingente em meu pescoço e ficava encarando-a por um tempo, notava que ainda estava meio trêmula e pensando em tudo o que havia acabado de acontecer, será que eu estava louca? Será que tudo aquilo foi real?
Eu olhava pela janela, fitando a mata de onde havia saído, ficava pensando em como havia parado ali, tudo bem que eu corri o máximo que pude, com medo daquele homem, mas eu não estava tão longe da rua assim.
Meu bairro é um bairro pequeno mas cercado por pequenas matas e morros que dividiam as regiões dali, eu morava no interior de Saquarema, não ficava tão perto do mar, mas era próximo a uma lagoa onde cresci vendo meu pai pescando, era dali que ele sustentava nossa família até hoje e apesar de eu achar que ele merecia muito mais ele fazia parecer que era o melhor emprego do mundo, ele realmente amava o que fazia.
É difícil me ver andando a essa hora da noite, essa hora eu geralmente estaria em casa, vendo alguma série ou lendo alguma coisa, mas Mariana, uma amiga minha um tanto agitada insistiu que eu fosse com ela até uma festa na casa de um amigo de um conhecido dela. Mari era maravilhosa, mas vivia dizendo que eu deveria sair e me entrosar mais com a "galera", mas por mais que eu me esforçasse, no final eu sempre ficava destacada dos outros. Eu até achava eles legais, divertidos, me faziam rir. Mas o problema era comigo, eu não era tão extrovertida quanto Mari, e geralmente acabava quietinha no meu canto nas festas, isso não quer dizer que eu não curtia, eu só não gostava de passar tanto do ponto igual a eles. Ou tinha medo, tenho uma mãe um tanto rigorosa com essas coisas e digamos que eu não queira arrumar problemas com ela logo agora que completei meus 17 anos e consigo ter um pouco mais de liberdade para poder andar por aí.
Mas talvez Mari estivesse certa, se eu me esforçasse mais para me entrosar nada disso teria acontecido hoje, eu não teria resolvido vir embora sozinha caminhando e aquele homem não teria corrido atrás de mim para fazer sabe-se lá Deus o que, mas por outro lado talvez eu nunca teria tida a experiência que tive hoje, ainda está tudo muito confuso na minha mente, eu só consigo pensar na sensação enquanto flutuava, me sentia protegida de alguma forma, mas por quem estava sendo protegida ou pelo o que?
Perdida nos meus pensamentos quase passei do ponto, levantei rápido e puxei a cigarra do ônibus que fez um barulho mais alto que o normal, o motorista me olhava pelo retrovisor e logo parou.
Hesitei um pouco a descer, mas após uma respiração funda coloquei meus pés pra fora daquele ônibus e segui correndo em direção a minha casa. Os postes de luz da minha rua não eram tão eficientes e isso deixava tudo mais assustador, porque a claridade deles era fantasmagórica e por hoje já havia tido experiências sobrenaturais mais que suficientes.
No caminho até minha casa já ia pegando em minha pochete as chaves do portão e já chegava abrindo o mesmo bem devagar torcendo para que ninguém me escutasse, assim que entrei e tranquei o portão nas minhas costas senti o alívio de estar em casa, protegida pelos muros. Baunilha logo vinha correndo ao meu encontro fazendo mais barulho do que eu queria que ele fizesse, mas ele era assim, bagunceiro e barulhento.
-Shiu, não acorda a casa toda por favor - eu implorava baixinho enquanto acariciava o seu pescoço enquanto ele se acalmava e continuava entrando, abria a porta da cozinha que ficava aos fundos e lentamente ia adentrando a casa, ia até meu quarto e pegava meu pijama e seguia para o banheiro que ficava no meio do corredor entre meu quarto e o quarto dos meus pais.
Me despia e por um momento me encarava no espelho, eu estava acabada, a maquiagem que havia passado com Mari tinha derretido, eu estava com a cara horrível.
Entrei logo embaixo do chuveiro e conforme a água escorria pelo meu corpo fechava os meus olhos e meus pensamentos me levavam mais uma vez até aquele momento onde aquele brilho irradiava de minha pele, parecia que eu tinha controle dos ventos que pairava ao meu redor. Apesar de estranho não posso negar que a sensação foi incrível, surreal mas incrível. - O que isso tudo quer dizer? - Sussurrava comigo mesmo.
Um barulho interrompia meus pensamentos, era a mãe me chamando do lado de fora do banheiro.

A Guardiã da Pedra da Lua 🌙 (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora