Capítulo 8

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Já havia anoitecido e eu estava voltando pra casa com meu pai, ele queria que Tamûa viesse com a gente, mas ela preferiu ficar por perto para ajudar Raoni no que fosse preciso. Ele não saída da minha cabeça, quer dizer ele não, mas sim toda a situação.
Eu olhava a paisagem pela janela quando meu pai interrompeu meus pensamentos.
- Foi legal o que você fez hoje cunhatã, eu ouvi minha infância inteira minha Ay cantar com dona Teçá essa música enquanto faziam comida ou alguns artesanatos.
- Foi por isso que cantei, lembrei dela cantando, senti que devia fazer, achei que iria acalmar Raoni. - olhava para meu pai e sorria para ele.
- Aquele menino realmente é um guerreiro, como seu nome já diz, ele vai superar, vocês pareciam estar se dando bem demais hoje, não? - Ele estava falando com aquele tom de pai ciumento, eu sempre achava engraçado.
- Pai pelo amor de Deus não começa, eu só o ajudei, você me educou muito bem. - Ele fazia uma cara como se não acreditasse eu não aguentava e ria.
- Conheco bem essas risadinhas Jaciara.
- Deixe de ser ciumento senhor Ubirajara, aliás pra onde estamos indo? - Eu perguntava quando percebia que não era o caminho de casa.
- Vamos passar no Marcelo, ele disse que tem um dinheiro pra me dar de uns peixes que pegou comigo.
- Ah sim, tudo bem..
A viagem seguiu e eu estava com minha bolsa no colo, quando ela começou a vibrar, eu acabei de me lembrar que passei o dia inteiro sem pegar no celular. Mil mensagens de Mari e Caio em um grupo só com nós dois, Caio havia feito o grupo depois que conversamos pela manhã, com tudo o que aconteceu eu acabei esquecendo completamente deles dois. Contei a eles porquee afastei durante o dia, não com tantos detalhes.
Nem percebi que havíamos chegado na casa de Marcelo, meu pai buzinava e logo saía do carro, eu permanecia lá dentro, já que seria algo rápido optei por não ficar lá rindo das piadas sem graça de Marcelo que eu precisava achar super engraçado. Mas um outro homem abria o portão.
Aquele rosto, eu nunca iria esquecer dele, meu corpo todo tremeu de forme instantânea, minha respiração estava ofegante, virei meu olhar pra frente e fechei os olhos respirando devagar. Eu precisava me manter calma.
- O seu Marcelo acabou de sair, você deve ser o famoso Bora, acertei? - O homem falava e a cada palavra dele meu corpo reagia e meus pensamentos me levavam para a noite passada "O que ele está a fazendo aqui?" Eu repetia essa frase várias vezes em minha cabeça - Eu tô morando na casa dos fundos agora, sou novo na cidade, aliás me chamo Marcos - Ele estendia a mão para meu pai e eles trocavam um aperto de mão.
- Sou eu mesmo, me chamo Ubirajara, muito prazer Marcos, mas olha aqui todo mundo me chama de Bira, nada dessas formalidades, casinha boa essa de Marcelo, o bairro também é bom você vai gostar.
- É rapaz tô gostando por enquanto. Marcelo me disse que viria, ele deixou o dinheiro comigo me pediu que lhe entregasse, disse que tinha uma pick up dessa, - ele olhou para a pick up e percebeu que eu estava lá dentro - Veio de segurança né?
- Ah aquela ali é minha filha Jaciara, você comigo pra cima e pra baixo, estamos voltando da avó dela - Meu pai ia até a janela com o homem atrás dele e colocava o rosto lá dentro, o homem fazia o mesmo - Ô Jaci vem aqui dar um oi pro Marcos.
Eu virei o rosto para a janela do lado do motorista onde estavam os dois, e tentei agora da forma mais natural do mundo, dei um sorriso e acenei para o homem, que agora sabia que se chamava Marcos.
- Olá, prazer Jaciara, desculpa o dia foi longo demais por isso nem sai só carro - Eu olhei bem dentro de seus olhos e para o meu espanto ele não demonstrou surpresa, agiu como se nunca tivesse me visto, o que me assustou ainda mais.
- Não precisa se incomodar menina, fique aí mesmo, menina é assim né? Sempre Guardiã do pai.
Ele falou isso com um sorriso no rosto que apenas eu notei o quão estranho foi, pra minha sorte logo papai tomou a palavra.
- Verdade tivemos um dia difícil, perdemos uma grande amiga, não queremos nem demorar Jaci precisa descansar, amanhã tem aula cedo.
- Ah sinto muito, vai lá sim, imagino como estão, toma aqui logo o dinheiro.
Eles foram saindo da janela e voltando para o portão, mas agora Marcos não parava de olhar para dentro do carro.
- Muito obrigada Marcos, mas vou indo mesmo, prazer em conhecer você, seja bem vindo a Saquarema - Meu pai falava entrando dentro do carro, eu tentava esconder minhas mãos trêmulas, meu celular vibrou e eu logo olhei para me distrair, era uma mensagem de um número que não tinha salvo que dizia: - "Já chegou em casa? Pedi seu número pra sua Tamûa, tudo bem?". - Pela foto logo reconheci quem era, Raoni.
Nunca me senti tão aliviada em receber uma mensagem, logo respondi: "Ainda bem, precisamos muito conversar, preciso te contar algumas coisas, mas é urgente".
Meu pai manobrava o carro e conforme passava novamente pelo portão onde Marcos permanecia parado acenando para nós com um sorriso tentando parecer simpático, algo dentro de mim dizia que ele sabia exatamente quem eu era, e isso era assustador, eu o olhei bem dentro dos olhos, não queria mostrar fraqueza, afinal se eu realmente era essa guardiã precisava aprender a controlar meu medo.

O celular vibrou novamente, era Raoni me respondendo: "Realmente temos muito o que conversar... Amanhã na saída da escola, pode ser?" .

Logo em seguida eu o respondi que eu iria espera-lo lá. Meu pai seguiu para o caminho de volta pra casa, eu encostei a cabeça na janela do carro e tentei por meus pensamentos em ordem.

A Guardiã da Pedra da Lua 🌙 (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora