Capítulo 3

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– Oi mãe, já estou saindo, só um minuto – escuto ela concordar e termino o banho prontamente, parecia que ela sempre sentia as coisas, só acorda quando algo acontece.
Já havia me vestido e olhava em volta do banheiro me certificando de que nada estava fora do lugar e que não havia deixado pistas do que havia acontecido comigo a pouco.
Saio do banheiro com minhas roupas sujas emboladas na mão de forma que ela não consiga ver a terra pela mesma, tento mostrar uma certa naturalidade em minhas ações então caminho até a cozinha devagar, presumo que ela estaria lá pois a luz estava acesa, passo por ela que estava em pé ao lado da pia bebendo um copo de água e com um sorriso que eu espero que não tenha parecido tão forçado pra ela passo por ela indo em direção a porta da cozinha.
– Ainda acordada mãe? Já disse que não precisa se preocupar – Quando vou abrir a porta ela me olha de um jeito que eu já sabia que teria de pensar rápido.
– Jaciara aonde esta indo com essas roupas? – Ela me questionava olhando fixamente para as roupas em minhas mãos e eu revirava os olhos olhando pra ela pois ela sabia que eu não gostava de ser chamada pelo meu nome, preferia Jaci, soava menos.. digamos.. velho.
– Jaci – eu a corrigia e ela dava de ombros então eu respondia a sua pergunta: – Ah, então, Mariana como sempre... Inclusive esse é o motivo de ter vindo mais cedo, ela se excedeu um pouco e acabamos.. é... Caindo.. e aí.. ficamos sujas.. logo quis vir embora, ninguém merece ficar suja em uma festa. – Tentava dar de ombros e parecer imparcial quanto a situação. Mas minha mãe tinha um sexto sentido um tanto apurado, eu diria, mas por sorte e graças ao jeitinho conhecido da minha amiga a história parecia ter colado.
– Gosto muito da Mari mas me preocupa quando ela se deixa levar dessa forma, espero que você não a use como exemplo – Ela balançava a cabeça e terminava de beber a água, e enquanto lavava o copo olhava pra mim e completava: –Bom, eu vou dormir, coloque essas roupas de molho no tanque e vê se não enrola pra ir deitar, nada de celular até a madrugada Jaci – Ela falava em um tom onde mostrava que havia entendido sobre me chamar de Jaciara.
Eu controlava o suspiro de alívio pela história ter colado tão fácil e imediatamente saia pela porta da cozinha e no tanque que ficava um pouco depois da porta, colocava minhas roupas de molho na água com um pouco de sabão, sacudia a água com as mãos, mamãe sempre dizia pra fazer isso se não o sabão manchava as roupas. E olhei brevemente para o céu, estava uma noite quente e sem nenhuma nuvem no céu, e a lua estava lá brilhando de uma forma mais intensa que o normal e a sua claridade era tanto que fazia sombras pelo chão do quintal. Eu sempre gostei da lua, eu não sei se isso tem haver com o meu nome, que significa "nascida da Lua", meu parto não foi fácil, e segundo meu pai, na noite em que nasci a Lua estava como está hoje, e como ele vem de uma descendência indígena, eles acreditam muito no poder da Deusa da Lua, e foi assim que me tornei Jaciara, porque ele tem certeza que foi Jaci, a Deusa que fez com que eu estivesse aqui hoje. Segundo meu pai, meus tataravós eram índios que viviam aqui pela região, e suas crenças foram passadas de geração em geração. Dizem que meu tataravô fora um dos guerreiros mais fortes de sua tribo, e minha tataravó a mulher mais linda, eles eram apaixonados mas houve uma guerra por conta da colonização, os Tamoios, o povo indígena da qual eles faziam parte tentaram lutar pelas terras, mas a minha tataravó estava grávida então eles fugiram junto com um pequeno grupo para se esconder e sobreviver. Bom, e hoje estamos aqui. Apesar de ter mais de 400 anos, meu pai tem orgulho da história de sua família. As suas habilidades na pesca assim como as suas crenças também foram passadas de pai para filho.
Eu fiquei observando a Lua e tentando achar resposta para as milhões de perguntas em minha cabeça, foi quando percebi que estava muito cansada e precisava dormir para tentar esquecer de tudo o que acontecera nas últimas horas. Rapidamente entrei pela porta que dava na cozinha, a tranquei e após apagar as luzes me dirigi até o meu quarto, logo me joguei na cama ao entrar peguei meu celular dentro da pochete que havia deixado sobre a cama, notei a tela quebrada e resmunguei: – Ótimo, era só o que faltava.
Ele estava descarregado, sem levantar da cama peguei o carregador que ficava na mesinha ao lado da cama e o liguei em uma tomada que ficava bem ao meu lado, vi que pelo menos o celular ascendia, mas estava tão cansada que o deixei carregando e logo me virei para dormir, apesar de cansada eu custei a pegar no sono, eu não conseguia parar de pensar em tudo o que havia acontecido, até que por fim o cansaço me venceu, e dormi profundamente.

A Guardiã da Pedra da Lua 🌙 (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora