A Guardiã da Pedra da Lua 🌙 (EM ANDAMENTO)

Capítulo 10

Raoni, como eu, não se despediu de ninguém, apenas saiu pedalando, e eu o agradecia mentalmente por me tirar dali o mais rápido possível, mas por outro lado sabia que teria que lidar com meus amigos mais cedo ou mais tarde. Eu não perguntava pra onde iríamos, pelo o que eu conhecia de Raoni iríamos para algum lugar afastado e provavelmente a beira da lagoa. Éramos parecidos nisso, nosso lugar de escape era sempre o mais perto da natureza possível. E pelo caminho que ele fazia eu já sabia para qual parte da lagoa estávamos indo.

Assim que chegamos eu logo joguei minha mochila ao lado da bicicleta e fui em direção a um toco de árvore em uma sombra. Era uma ponta da lagoa que poucos conheciam e por isso a água era mais limpa, eu já havia ido ali algumas vezes, pescar com meu pai, as vezes me banhava enquanto ele pensava. Sentei ali e ele logo fez o mesmo.

- Me desculpa por aquilo.. - Eu olhava apenas para a imensidão da lagoa na minha frente.

- Você não precisa se desculpar pela babaquice dos outros Jaci. - Eu podia sentir a raiva em seu tom de voz agora.

- Mesmo assim, me sinto culpada pela situação, meu medo era eles falarem mais alguma coisa e tudo virar um caos - Eu encolhia os ombros.

- Eu nunca daria esse gosto a eles Jaci, era isso o que queriam, arrumar confusão, então eu fiz o oposto que eles esperavam - Ele me olhou e sua fisionomia mudou para um sorriso - Mas você bem que fica engraçada toda nervosinha..

Eu me virava pra ele o encarando com os olhos cerrados.
- Fico engraçada toda nervosinha é Raoni?

- Ah vai, foi bonitinho te ver lá toda cheia de atitude me defendendo. - Ele sorria enquanto falava e nossos olhares se encontravam e fixavam um no outro por um breve momento e logo eu desviava sentindo meu rosto esquentar.

- Lógico que defendo, você é meu amigo, e eles estavam ofendendo nossa história, eu não iria deixar fazerem isso com você e muito menos com nossa cultura.

- Obrigada por isso nervosinha.. - Ele ria e eu o olhava com uma cara brava apesar de algo dentro de mim gostar da forma que ele estava implicando comigo, mas logo ele continuava.. - Bom.. mas você disse que precisava me contar algo, o que era?

Eu respirei fundo, e comecei a contar a história desde o dia da festa, contei cada detalhe do que havia acontecido, desde o homem me seguindo e os tais poderes que surgiram aquela noite, até o dia que voltei da aldeia e reencontrei o tal homem, que agora tinha um nome, Marcos. Raoni me ouviu atentamente e eu não tinha percebido que estava tremendo até aquele momento.

- Você é a primeira pessoa que eu conto isso tudo, me desculpa, é que isso tudo fez eu me sentir tão... Sozinha... - as lágrimas brotaram em meus olhos - Mas quem iria acreditar nisso tudo? Nem eu mesmo acredito as vezes..

Ele segurou minha mão e então me olhou dentro dos olhos - Você não está sozinha Jaci, eu tô aqui.. - Ele levou uma mão até meu rosto e secou as lágrimas que caíam.
- Agora a gente precisa entender o que isso quer dizer, e como Tamûa disse, por algum motivo precisamos estar juntos nisso...

- Eu sinto que não estou mais segura sabe? Eu tento não mostrar mas vivo com medo. O rosto daquele tal de Marcos não sai da minha mente. Mas não é só isso, eu tenho medo desse poder também, medo do que eu posso estar carregando comigo, medo de não ser a pessoa certa pra isso. - Agora ele acariciava meu rosto com o polegar que secava as lágrimas, eu olhava em seus olhos negros, que me acolhiam de uma forma surreal e toque dele me transmitia uma calma que eu nunca havia sentido na minha vida. Ele era lindo, sempre foi, desde criança, mas agora ele é um homem, seu cabelo curto combina com seus traços indígenas fortes.

- Jaci, a gente não pode fugir do nosso destino, e ele trouxe a gente até aqui. Até ontem tudo isso não passava de uma lenda pra mim, mas eu vi o que aconteceu naquele quarto com a Tamûa, e eu tô vendo agora.. - Ele desviava o olhar para meu pescoço e sua mão deslizava de meu rosto até a pedra. - Ela não brilha quando estamos juntos atoa.