II. Presente

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Acabou que Shuichi fugiu.
Ele fugiu da verdade, não queria acreditar que tinha um cadáver em sua frente.

Obviamente não quis acreditar em nada além de que era uma brincadeira, até Kokichi simplesmente arrancar um dos olhos com as próprias mãos e jogar nele, rindo como se fosse realmentesó uma piada.

Correu até sua casa com o livro ainda em mãos, era cerca de duas da tarde quando tudo ocorreu, mas acabou que passou o resto do dia teorizando.
Acabou decidindo que voltaria no parque pra saber mais sobre, se ele sequer estivesse lá ainda. E estava, sentado no banco tentando tocar em qualquer pessoa que passasse, atravessando-a imediatamente ao falhar.

Shuichi engoliu o seco, se aproximando e sentando ao seu lado com o livro.

- Você...faz isso sempre? - Puxou assunto ao ver o menor quase caindo do banco ao tentar segurar um idoso pelo ombro.

- Não é que...Você consegue me ver, sentir até minha aura. Eu só achei que...sei lá. - Parecia bem mais triste hoje, tinha mudado completamente sua personalidade de um dia pro outro.

- ...Isso não te deixa meio...'pra baixo? - Continuou com suas perguntas, mas agora sussurrando para não o verem como louco.

- Claro que não, idiota! - Parou de se inclinar imediatamente, logo abrindo um enorme sorriso no rosto já pálido. - Eu...Eu estou até mais...eh...feliz! De não me verem. Quer dizer, exceto você.

- Eu posso fazer mais perguntas? - Apertou a barra da camiseta, nervoso.

- Já fez 3 perguntas, hoje não. Amanhã talvez mais 3. - Deitou a cabeça no banco.
Saihara então suspirou.

"Que fantasma...alma?Que...não...que garoto mais chatinho...."

- No que 'tá pensando rockeiro?

- Rockeiro?

- Essa camisa. Acompanho eles faz um 'tempão...

- ...Quantos anos você tem?

- Sem perguntas hoje, só amanhã.

- Mas eu quero mesmo saber mais sobre você, eu 'tô conversando com um fantasma que só eu enxergo. 'Cê tem noção disso? - Insistiu ansioso.

- 49 anos, mas estou morto há... - Contou nos dedos mentalmente, fazendo um curto silêncio durar. - 28 anos.

- Ah... - Não pôde pensar em nada pra dizer, se sentindo terrivelmente perturbado ao seu lado, mas não era como se isso impedisse Shuichi de sair dali.

- Mudando de assunto, vai me dar alguma coisa de presente? - Kokichi se animou novamente, se inclinando ainda mais perto de seu rosto.

- Como assim?

- Daqui a 2 dias faço 50 anos. - Sorriu torto. - Chegou bem na hora, queria ao menos um presente.

- Meu Deus...eh...do que você gosta?

- Eu estava brincando sobre o presente, mas qualquer coisa já basta.

"Qualquer coisa"

Anoiteceu, e Shuichi foi para casa ainda assustado com toda a situação, principalmente depois de Kokichi marcar um encontro com ele em um cemitério.
Precisava contar para alguém tudo o que aconteceu, mas não tinha ninguém que iria ouvir, ainda mais sobre um fantasma.
Puxou então, um pequeno caderno e uma caneta de tinteiro preta, começando à escrever suas experiências com Kokichi.

"Conheci um fantasma numa praça pública, ninguém vê ele além de mim, daqui a 2 dias é o seu aniversário de 50 anos e não tenho a menor ideia do que eu poderia dar de presente 'pra um garoto morto..."

Morto (O Terno) - Saiouma/OumasaiOnde histórias criam vida. Descubra agora