3. Primeiros passos

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Myra

Pela primeira vez em muito tempo eu tenho uma noite tranquila. Sem sonhos, sem pesadelos, sem acordar com dor. É estranho voltar a ter noção do que é dia e do que é noite. Tenho flashs de memória do que me aconteceu ultimamente e uma incógnita se forma na minha mente me fazendo tomar coragem de abrir os olhos e encarar a realidade.

Eu estava com medo de acordar e dar de cara com aquelas malditas luzes iluminando cada parte do meu ser, ofuscando cada sombra. Mas para a minha surpresa e felicidade o ambiente estava escuro. O que aconteceu ontem à noite não foi um sonho. Eu realmente saí de lá. Estou livre novamente.

As janelas do lugar, antes tampadas por cortinas semi-trasparentes, agora estavam cobertas por trepadeiras. Pouquíssimos raios de sol passavam pelos galhos. Eu ouvia os pássaros cantando do lado de fora, me trazendo lembranças felizes do passado. Eu estava tão feliz de saber que aquilo era real que meus olhos encheram de lágrimas.

Meu braço já não doía tanto, mas evitei movimentá-lo muito. Não vi Elara nem Nawar em lugar nenhum. Preciso conversar com elas e perguntar se elas sabem o que aconteceu no Santuário. Na verdade era melhor se eu conseguisse falar com o tal Erik, se ele é o único que controla metal por aqui, só pode ter sido ele que invadiu minha cela, me lembro de ouvir barulhos metálicos. Eu preciso saber se Arthur estava lá ou não. Tomara que esteja morto.

Ouço passos vindos do andar de cima e logo pela escada. Nawar apareceu com um sorriso dizendo bom dia.
— A Lara preparou um sanduíche para você e eu fiz awameh. É um doce típico do meu país, muito gostoso por sinal.

Ela deixou uma bandeja repleta de comida ao meu lado. O cheiro maravilhoso invadiu minhas narinas e eu comecei a salivar.

— Eu vou avisar aos outros que você acordou. Bom apetite.
Ela sai me deixando novamente sozinha.

Olho para a comida na bandeja e não consigo reprimir o choro. Coloco a mão na boca para abafar minha voz. Nem me lembro quando foi a última vez que comi comida de verdade. Passei tanto tempo comendo só pão velho e água e as vezes passando fome que até me esqueci de como é o cheiro e o sabor. O que será que eu provo primeiro? O sanduíche? Ou o tal doce que Nawar fez que já esqueci o nome? Opto pelo doce.

Pego uma das bolinhas douradas e noto que é meio grudenta. Deve estar coberto de calda de açúcar. O cheiro me faz lembrar de um tal de bolinho de chuva que Daniel fez um dia para mim.

Provo um pedaço e tenho a sensação de estar flutuando. É... simplesmente maravilhoso. Começo a rir de alegria em meio às lágrimas saboreando cada condimento do doce. Realmente parecia bolinho de chuva, só que um pouco mais exótico. Reconheci o sabor forte da canela entre os ingredientes. Era como comer um manjar dos deuses.

Olho para o sanduíche. Parece tão apetitoso que nem termino de comer o doce que estava comendo e dou uma dentada generosa no sanduíche. Ah meu Deus! É de frango com tomate e alface. Fecho os olhos e escoro na parece onde a cama está encostada. Esse é um dos dias mais felizes da minha vida. É tão bom que chega a parecer que não é real. Meu estômago pede por mais comida ruidosamente. Passei fome por tanto tempo que meu estômago se acostumou com a dor do vazio.
Acho que terei mais comida, de agora em diante. Pelo menos eu espero.

Termino de comer e me sinto muito bem, até mais forte. Nawar ainda não voltou e eu começo a ficar pensando no que tem lá fora. A curiosidade cresce conforme vou imaginando como deve ser sentir as ondas do mar nos pés. E isso me leva à outro pensamento. Será que eu consigo andar? Conseguir mexer as pernas eu consigo, mas será que elas conseguem me sustentar em pé?

Olho em volta e não vejo muitos lugares onde eu possa me apoiar, mas eu vou tentar. Não posso passar a vida nessa cama. E apesar de estar de día, quero ver o que tem lá fora. Para quem passou tanto tempo exposta sob luzes ofuscantes, acho que um pouco de sol não vai me prejudicar muito.

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