Dark Energy • Magneto • (Pausada)

4. Tentativas

Myra estava sentada na frente de um espelho que estava trincado ao meio. Já tinha uma aparência muito melhor depois de ter tomado um belo banho. Seu cabelo estava pingando água nas pontas, e por estar encharcado aparentava ser totalmente preto.

Ela encarava o próprio reflexo sem se reconhecer. Ela sabia que estava magra e com uma expressão muito cansada. Algumas cicatrizes espalhadas pelos braços. O cabelo mais longo do que já esteve em muito tempo. Longo e desprovido de vida. Tal como os últimos anos da vida dela.

Enquanto Elara buscava algo freneticamente em uma gaveta, Myra buscava aceitar o fato de que passou três duros anos sob a tortura daquele que um dia ela chamou de pai. Três anos que ela havia perdido de sua vida. Ela tinha agora vinte e três anos, faltando apenas alguns poucos meses para fazer vinte e quatro. Ela não aparentava mais velha e nem sentia como tal, mas não sabia dizer se era pelo fato de estar tão desnutrida ou porque ela perdeu totalmente a noção do tempo enquanto esteve cativa.

- Achei. Tem certeza de que quer realmente fazer isso?
Perguntou a loira se aproximando dela com uma tesoura nas mãos.

Myra olhou para seu cabelo no reflexo. As pontas ralas e quebradas, tão ressecadas, estavam para baixo da cintura.

- Sim. Para poder se recuperar, tem que se livrar do que já não tem mais vida.

Ela não sabia se estava se referindo ao cabelo ou a si mesma. Sua vida estava marcada pela morte de pessoas importantes. Quatro, esse era o número. Mas ela poderia adicionar duas pessoas mais. O seu "pai" que há muito morreu para ela, e a Myra que está costumava ser. A Myra que oprimia seus poderes e a sua verdadeira natureza. A Myra que evitava a própria escuridão, como se fosse algo ruim, errado.

Elara encarou os olhos totalmente negros e determinados no reflexo e afirmou com a cabeça.

Longas mexas escuras caiam no chão de madeira. A cada barulho que a tesoura fazia, Myra sentia como se ela estivesse quebrando as correntes que a mantiveram naquele chão imundo por três anos infernais.

A sensação era boa. Quase libertadora. Mas ela só se sentiria livre novamente quando pudesse invocar as sombras de dentro do seu âmago. Ela até pensou em tentar usar seus poderes enquanto Elara estava buscando roupas novas para ela. Mas não se sentiu encorajada o suficiente para correr o risco de se desiludir caso não conseguisse fazer nada. E as chances disso acontecer eram muito altas. Da última vez que ela tentou usar seus dons depois de seu pai usar os dele nela quando era pequena, demorou um tempo para conseguir. Mas ela estava determinada a conseguir, mesmo que demorasse uma eternidade.

Elara havia mencionado a ela que alguns mutantes residentes da ilha haviam chegado no mesmo estado que ela em relação aos próprios poderes. A propia Elara não sabia o que era capaz de fazer na totalidade. Mas todos ali treinavam como usar suas habilidades. Segundo ela, era essencial para a segurança própria e dos demais, além de que é muito importante se conhecer a si mesmo, capacidades e limitações.
Ao parecer cada mutante ali usava seu dom para ajudar em algo na ilha.

Controlar os poderes é imprescindível para um mutante. E talvez fosse o motivo de Erik querer conversar com ela. Ao que parece ele é o mentor principal do treinamento dos mutantes aqui. Ainda era meio estranho pensar que ela esteve cara a cara com Magneto e que ele poderia vir a ajudá-la.

Erik era o motivo principal que deu início ao ódio de Arthur pelos mutantes. Na época em que o nome Magneto começou a circular como notícia pelo mundo, ela tinha três anos. Apesar da pouca idade, ela se lembra bem que estar assistindo um filme na televisão com seu pai, algo de cowboys. O filme era Três Homens em Conflito. Ela se lembrava bem devido à trilha sonora do filme. Ela estava prestando muita atenção no filme, apesar de não estar entendendo quase nada do que estava acontecendo e o filme foi interrompido por uma manchete do jornal. Ela se lembra de ver um homem vestido de vermelho escuro e usando um capacete engraçado, em algum lugar que fazia lembrar um estádio. Ele estava dizendo alguma coisa e parecia bravo.