II

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O barulho de minha esposa e filha chegando me assusta, droga derramei o resto do café. Vou à cozinha pegar algum pano para limpar a escrivaninha.

— Chegamos pai!

Fecho a gaveta do armário com o pano em minhas mãos e olho para trás. Lá está ela sorrindo para mim sem sorrir. Seus dentes escondidos como se não tivessem motivos para se mostrar.

— Que bom meu amor! — falo colocando o pano sobre a mesa. — Deu tudo certo lá?

— A mesma coisa de sempre pai.

Luciana me olha pressionando os lábios e balançando a cabeça confirmando o que Mariana acabou de falar.

— Você já comeu alguma coisa? — pergunta ela para mim.

— Sim, eu almocei hoje.

— Eu e a Bia fizemos carne de porco hoje, deixamos o pedaço com gordura para você.

Já ofereci várias vezes durante o nosso casamento uma empregada para ela, mas ela prefere cozinhar e quando precisa de ajuda sempre chama a irmã, Beatriz.

— Obrigado amor.

— Tomar banho — Mariana fala para ninguém em específico.

Enquanto eu pego o pano novamente Luciana se recolhe para nosso quarto. Caminhando para o escritório para limpar a sujeira que fiz, paro em frente ao quarto de minha filha. Na porta tem uma placa com um balão de pensamento tipo de revistas em quadrinhos com um sinal negativo dentro e em volta o sinal de proibido. A frase em baixo da imagem diz:

Proibido pensar negativo.

Ela me pediu para comprar isso quando viu no celular. Chegou faz uma semana mais ou menos. Sinceramente penso que ela comprou para lembrar-se de não desistir.

Após limpar a escrivaninha vou até o quarto dela e bato na porta.

— Pode entrar!

Quando entro ela está na cama olhando o celular.

— Oi pai!

— Como você está se sentindo meu amor? — perguntei sentando-me ao lado dela na cama.

— Segundo os médicos só tenho mais um mês pai.

Respiro fundo e olho pelo quarto antes de responder. Observo a estante para livros rosa na minha frente ainda com várias partes para preencher, a mesa com o notebook onde um livro que comprei a pouco tempo está lá.

— Sabe meu amor por mais que a situação esteja difícil se confiarmos em Deus tudo pode melhorar.

Será que estou sendo convincente o suficiente quando abro a boca para falar em Deus?

— Eu gostaria que o senhor me levasse na próxima semana.

— Vou me esforçar para sair cedo — digo-lhe sorrindo. — Tabom?

— Por favor!

Ela larga o celular e me abraça. Dou um beijo no seu rosto enquanto acaricio os fios que começam a crescer de seu cabelo.

— Você já terminou de ler a Sarah?

— Ainda não pai. O Corte de Névoa e Fúria é um pouco maior do que o primeiro.

— Eita! Vai demorar muito?

— Um pouco, até porque estou escrevendo um livro também.

— Um livro?

— Sim, pai. No Wattpad.

Nesse momento ela pega o celular e me mostra a tela de um aplicativo e continua:

Águas Vivas de Memórias (um conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora