— Então a estátua concede desejos a quem reza para ela? — Luciana me pergunta.
— O Augusto rezou, rezou e nada aconteceu, mas o irmão dele que estava precisando de ajuda para sua esposa rezou e teve o seu desejo concedido.
— Então essa coisa bizarra é algum tipo de presente dos céus?
— Talvez, mas não é estranho esse relato do Augusto dizendo que seu irmão também teve sonhos parecidos com o de meu pai?
— É, mas ele mesmo não conseguiu nada.
— Talvez seja porque ele nunca precisou passar por um problema que parecesse impossível de resolver como meu pai ou nós neste momento.
— Desculpa amor! Acho que você apenas está sendo influenciado por essa história toda.
Luciana coloca o diário na escrivaninha e se levanta da cadeira ameaçando deixar o local.
— Sabe o que eu ainda não entendi. O que isso tem a ver com a doença de seu pai.
Pego o diário e procuro uma página que está bem depois do meio do livro e começo a ler.
Faz um mês que rezei para a tal coisa e finalmente estou vendo uma luz no fim do túnel. Consegui crédito o suficiente para manter as lojas.
Abro outra página e leio.
Estou salvo graças a esse plano real, consegui segurar bem com os empréstimos e agora está tudo resolvido finalmente. Acho que aquela coisa de deus das estrelas que concede desejos talvez seja só imaginação daquelas pessoas.
— Parece que depois de um tempo ele acreditava que ele ia conseguir de qualquer maneira segurar as pontas, mas olha a partir dessa página aqui!
Minha esposa pega o livro e se senta novamente e leva a mão direita a boca sem acreditar no que estava lendo.
Hoje eu esqueci quem é minha irmã. Todos aqui em casa estão chocados com o ocorrido, minha irmã chorou muito. Eu sinto como se fisicamente algo foi tirado de mim. Estou com medo, estranhamente ontem à noite voltei a sonhar com aquelas águas vivas.
A primeira pessoa que meu pai esqueceu foi minha tia, foi logo no começo de tudo. Antes pensávamos ser coisa da idade, pois ele esquecia coisas pequenas, mas no mesmo dia que ele esqueceu quando fomos a primeira vez para o estádio minha tia fora nos visitar. Foi a partir daquele dia que decidimos procurar ajuda médica.
Minha esposa continua a ler:
Hoje de madrugada sonhei com as malditas águas vivas novamente. Passei o dia triste com medo de esquecer de mais alguém, mas foi muito pior. Quando eu estava olhando os retratos de meu casamento com Marieuda eu tentei lembrar da primeira vez que nos beijamos. Eu não consegui e pior que isso. Falei para minha esposa isso e ela me perguntou se eu lembrava do que eu tinha falado para ela na festa de casamento. Meu Deus! Eu também não sei.
— Chega eu não quero mais continuar a ler isso — Luciana largou o diário.
— Eu te contei que meu pai chegou a esquecer quem era a minha mãe e também que ela morreu nesse período que ele estava doente?
— Sim. — ela disse com a voz começando a ficar embargada.
— A mãe morreu apenas algumas semanas depois que ele esqueceu dela. O pai tinha setenta e cinco a mãe era oito anos mais velha que ele. Todos falaram que era de causas naturais, mas eu penso que foi de tristeza. Ela não tinha mais o marido dela.
— Eu não vou ter você!?
— É uma chance de salvar a nossa filha. Teremos a vida toda juntos, mas você vai ter que se preparar para quando eu estiver mais velho.
Eu me levanto da poltrona e abraço ela. Sinto seu coração acelerando, abraço ela com mais força e ela responde também se fechando ainda mais em meu corpo.
— Eu te amo! — digo a ela.
— Eu também te amo — ela me responde olhando para mim. — Você acha mesmo que isso vai funcionar?
— Eu não sei meu amor, mas eu tenho que tentar.
— Se não der certo eu te entendo amor.
A gente se olha por um tempo. É o momento de maior intimidade que estamos tendo desde que tudo começou. Acho que ela precisava de alguma esperança, ou sou eu que preciso e ela apenas não tem opções.
— Se realmente funcionar eu vou cuidar de você, eu prometo!
Trocamos sorrisos tímidos e os nossos lábios se tocam mais uma vez, o calor antes esquecido retorna como um cobertor em tempos frios. Sinto suas mãos percorrendo o meu corpo de forma lenta. Eu aperto sua cintura e ela sede o seu pescoço. Meus lábios percorrem toda a superfície enquanto desço minhas mãos para a sua bunda. Aperto com tanta saudade.
— Espera um pouco! — ela me fala e se vira em direção a porta.
Ela sai do escritório por um momento então eu pego a estátua e o diário para guardar na última gaveta da esquerda. A estátua parece ainda mais molhada e agora está preguenta. Antes de guardar a imagem eu olho para ela.
— Eu não sou muito de rezar. Nem pra Deus eu quase nunca rezei. Se sinta privilegiada por conseguir aquilo que quer. Eu só peço que salve a minha filha. Apenas isso importa.
Luciana abre a porta novamente.
— Vem! Ela dormiu com fones de ouvido.
Guardo a imagem e dou minha mão direita a ela, quando saiu tranco a porta do escritório e vamos até o nosso quarto. Luciana tranca a porta e começa a me beijar novamente. Não consigo parar de pegar na sua bunda, é mais forte do que eu. Ela me retribui colocando a mão dentro da minha calça. Eu solto um gemidinho na orelha dela, então ela me joga na cama e tira tudo que eu estava vestindo em baixo.
— Saudades desse cacete duro dentro de mim — ela diz tirando a calcinha e jogando em qualquer canto.
O tempo acumulou muito tesão escondidos dentro do medo, da mágoa e incertezas. Nosso corpo se completou com muita vontade. Ver seu rosto cheio de êxtase enquanto ela me fazia de seu cavalo foi ainda mais excitante. Aproveitei cada curva de seu corpo. Não demorou muitas posições para ela gozar. Foi inevitável encher ela por completo, ela gozou novamente ao sentir isso.
***
Acordei no meio da madrugada com sede. Estava tudo tão silencioso. Eu sentia uma paz que há muito tempo eu não sentia. Olhei para o rosto de minha esposa e ela parecia tranquila no seu sono. Fui até a cozinha para pegar um copo de água e no caminho passei pelo quarto de minha filha. Está trancado.
Na cozinha enquanto eu bebo água escuto barulhos estranhos vindo do lado de fora. Barulho de água, algo mexendo na piscina. Percorro toda a casa passando pelo corredor onde fica as portas para os quartos e chego na sala. Uma luz rosada machuca os meus olhos, até que me acostumo com aquele brilho. Então...
O silêncio reconfortante é interrompido pelo copo de vidro que eu segurava, espalhando seus pedaços no chão. Não consigo acreditar no que eu estou vendo.
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Águas Vivas de Memórias (um conto)
Misteri / ThrillerAbraão vendo sua filha Mariana com pouco tempo de vida devido a um câncer decide seguir o que ele acredita que foi os passos do pai e buscar o sobrenatural para resolver essa tragédia. Será que ele conseguirá salvar a sua filha?