Ocean Eyes

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| YUU, Point of view |


Assim que cheguei no refeitório era fácil de ver o prédio três. Um grande "3" estava pintado num quadrado branco no canto leste do prédio. Senti minha respiração acelerar cada vez mais enquanto me aproximava da porta.

A sala de aula era pequena. As pessoas na minha frente pararam assim que entraram na sala para pendurar seus casacos numa longa fileira de ganchos. Fiz o mesmo.

Levei o papel para o professor, um homem alto com cabelos brancos. Sua mesa tinha uma placa que o identificava como Sr. Shinya. Ele ficou me olhando assim que leu meu nome — o que não era encorajador — e provavelmente meus olhos se reviraram em algum momento. Mas pelo menos ele não viu e me mandou sentar numa mesa vazia no fundo da sala sem me apresentar à turma. Era mais difícil para meus colegas ficarem me encarando enquanto eu estava no fundo da sala, mas de alguma forma eles conseguiam.

Fixei meu olhar na lista de leitura que o professor tinha me dado. Era bem básica: Shakespeare, Chaucer, Faulkner. Já tinha lido quase todos. Isso era reconfortante... e chato. Será que minha mãe me mandaria minha pasta de trabalhos velhos, ou ia pensar que isso era colar? Fiquei pensando em diferentes discussões que teria com ela enquanto o professor falava.

Quando bateu o sinal, um garoto alto, com óculos e cabelo rosa como algodão doce, se encostou no batente da porta para "falar" comigo.

— Oi, você é Yūichirō Hyakuya, certo? — perguntou, com um tom sério, mas prestativo. Ele parecia do tipo que faria parte de algum clube nerd, como xadrez.

— Apenas, Yuu — respondi, sentindo o olhar de todos vindo em minha direção.

— Meu nome é Shihō Kimizuki. Qual é sua próxima aula?

— Hm, acho que é Governo, com o professor Guren — murmurei, evitando os olhos curiosos ao meu redor.

— Estou indo para o prédio quatro, achei que precisaria de ajuda então posso lhe mostrar o caminho.

Ok, me enganei, ele é na verdade bem metido a arrogante.

— Não é necessário, mas obrigado.

— Irei acompanhá-lo mesmo assim, para ter certeza.

Pegamos nossos casacos e saímos para a chuva, que tinha ficado mais forte. Poderia jurar que muitas das pessoas andando atrás de nós estavam perto o bastante para ficar ouvindo a conversa. Talvez eu esteja ficando paranoico.

— Então, você diria que aqui é diferente de Fukushima?

— Muito — respondi, lacônico.

— Acredito principalmente que as escolas de lá são diferentes daqui. Vocês têm atletas né, como é isso?

— O que você imagina — respondi, seco.

— Então porque você não possui corpo atlético? — provocou, com um sorriso de canto.

— Genética? — devolvi, sem esconder minha irritação.

Ele não tem outra coisa pra fazer ao invés ficar perturbando outras pessoas?!

Parecia que nuvens e senso de humor não se misturavam. Alguns meses disso aqui e eu esqueceria como se usa sarcasmo.

Andamos de volta ao redor do refeitório, em direção aos prédios que ficavam no sul, ao lado do ginásio. Shihō me levou até a porta, apesar de estar bem claro que aquele era o prédio.

— Bem, boa sorte. Talvez tenhamos aulas juntos — despediu-se, com um aceno casual.

Se o destino gostar de mim, isso não irá acontecer.

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