Winter of Suspicions

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| YUU, Point of view |

Quando abro meus olhos, algo está diferente. 

É a luz. Ainda está a luz cinza-esverdeada de um dia nublado na floresta, mas está mais claro de alguma forma. Não há nenhuma névoa vendando minha janela. Me levanto pra olhar lá fora.

Uma fina camada de neve cobre o jardim e a estrada está toda branca. 

Mas essa não é a pior parte. 

Toda a chuva de ontem congelou, virou gelo - cobriu o topo das árvores em fantástico padrões deslumbrantes, e a calçada com um gelo mortal. Eu tive bastante dificuldade para não escorregar; poderia estar mais seguro se estivesse na minha cama agora. 

Humiya provavelmente já saiu para o trabalho. De muitos modos, vivendo com Humiya tenho como eu ter meu próprio lugar, e normalmente eu me divirto sozinho, assisto a filmes, leio algum livro, enfim. 

Jogo rapidamente na mesa uma tigela de cereal e um pouco de suco de laranja em um copo. Eu me sinto excitado para ir para a escola, e isso me assusta, sinto como se alguma coisa duvidosa irá acontecer hoje. Eu sei que não é o estímulo do ambiente, talvez esteja ansioso para falar com meu novo grupo de amigos? Não. Eu sei que estou assim para chegar à escola e ver Mika. Apesar do mesmo não ter conversado seriamente comigo AINDA, eu estou feliz por reencontrá-lo depois de tanto tempo.

E isso é meio estúpido.

Eu deveria estar com raiva dele depois daquele dia. 

E eu estou achando-o estranho; por que ele mentiu sobre os olhos dele? Eu ainda estou amedrontado pela hostilidade que às vezes sinto emanando dele, de fato algo nele mudou muito, mas ainda tem grande parte do Mika que eu conheci quando criança. 

O engraçado é que nos tornamos opostos, quando éramos pequenos ele costumava ser super espontâneo e eu o mais frio, e agora, parece até que trocamos de papel. Não que seja ruim! É só... Diferente.

Tenho que usar toda a minha concentração pra conseguir sobreviver a descida nos tijolos cobertos de gelo na entrada da casa. Provavelmente perderei um olho no meio do processo, mas não tem muito à se fazer. Quase perco o equilíbrio mas finalmente chego à caminhonete, agarrando no retrovisor pra me "sustentar". Claramente, hoje será um pesadelo. 


[...]


Dirijo para a escola, e me distraio com minhas especulações não desejadas sobre Mika, Shinoa e Kimizuki, e na diferença óbvia em como garotos e garotas adolescentes me tratam aqui. 

Eu tenho certeza que era exatamente a mesma que era em Fukushima. Talvez seja porque eu sou novidade aqui, onde as novidades são algo muito raro. Qualquer que seja a razão, o comportamento de Shinoa e a aparente indiferença de Shiho são desconcertantes. Eu não tenho certeza se preferiria ser ignorado ou não, sabe, eles são legais, do jeito deles. 

Minha caminhonete parece não ter problemas com o gelo preto que cobre a estrada. Apesar disso, estou dirigindo bem devagar pra não cravar uma espécie de trilha na rua principal. 

Quando eu saio do meu carro na escola vejo porque tive tão poucos problemas. 

Algo prateado chama minha atenção, me agacho para o fundo da caminhonete para examinar os pneus. Há pequenas correntes cruzadas em formatos de diamantes ao redor deles. Humiya deve ter acordado sabe-se lá que horas pra colocar as correntes nos pneus. De repente sinto minha garganta apertando. Eu não estou acostumado a ser cuidado, e a preocupação de Humiya é... surpreendente.

Estou no canto de trás da minha caminhonete, tentando lutar com a onda de emoções que as correntes de neve trouxeram, quando ouço algo estranho. É como um arranhão muito alto, e está rapidamente se tornando dolorosamente mais alto. Olho para cima, espantado. 

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