Coragem ou insanidade?

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When the sins of my father
Weigh down in my soul
And the pain of my mother
Will not let me go — Ed Sheeran.

Antes de ir à escola, eu fui até oficina mecânica para saber o que tinha acontecido com Itachi. Não aguentei de curiosidade, queria ver o resultado daquela briga. Quem me atendera foi um homem de cabelos grisalhos, que já devem ter sido loiros um dia. Ele não era velho, aparentava estar chegando aos 50 anos. Devia ser o pai de Itachi, mas não se pareciam.

- Em que posso ajudar, jovem?

- Bom dia. Itachi está? - perguntei meio acanhada.

O homem me observou brevemente.

- Está lá dentro - sinalizou ele. - Sasuke, leve a garota até Itachi.

Eu olhei para trás e vi um menino adorável que aparentava ter seus oito anos de idade, e era muito parecido com Itachi. Então ele também tinha irmãos. 

- Obrigada - eu disse com um sorriso educado.

Eu saí com o menino pela frente. A casa ficava ao lado e era consideravelmente grande. Seguia o mesmo padrão das demais casas da vizinhança, a oficina era o que a diferenciava. Ele abriu a porta e eu entrei na casa, estava em silêncio. Me perguntei por sua mãe, mas parece que ela não estava. Eu parei por um minuto na sala, antes de decidir se eu devia falar com ele. Mas já era tarde demais, e ele saberia que estive aqui mesmo se eu fosse embora. Caminhei pelo corredor sugestivo, era impossível voltar atrás agora. Ouvi assobios vindo do fundo, o que me motivou a continuar. Ao todo eram três portas, eu dei passos lentos a seguir o som.

Bati hesitante na última porta que eu julgava ser a dele. 

- Entre - ouvi sua voz abafada pela porta fechada.

Eu olhei envergonhada antes de entrar. Itachi franziu o cenho ao me ver em seu quarto. Acho que ele não esperava me ver. Eu olhei o quarto arrumado um tanto surpresa, esperava que ele fosse desorganizado. Gostava de mangás, pelo que notei nos livros empilhados. Fiquei feliz pois não havia uma mancha roxa sequer em seu rosto. A expressão confusa misturou-se a uma contração em seus lábios, que eu queria ver como um sorriso contido, mas não podia fantasiar.

- Oi - eu disse de pé, após encostar a porta atrás de mim.

- Oi - ele repetiu, atônito. Não esperava pela minha presença. 

- Desculpe ter vindo aqui. O seu pai disse para eu entrar.

- Não é o meu pai. É meu padrasto - respondeu sentado na cama. Suas pernas estavam descobertas, ele usava uma bermuda branca "de dormir" e estava sem camisa. Não apresentava nenhum hematoma no corpo pelo que eu podia ver.

- Por que veio aqui?

Eu pensei antes de abrir a boca. Dei uma olhada no quarto novamente, e vi algo curioso no armário dele. Seu nome completo num adesivo, Itachi Uchiha. Eu li e reli e decidi que achei bonito. Itachi seguiu o meu olhar e eu fiquei corada quando vi que ele me notara observando seu quarto.

- Respondendo a sua pergunta, eu fiquei preocupada - confessei. - Pensei que pudesse ajudar em algo, que estava machucado.

- Preocupada? Comigo? - arqueou a sobrancelha.

Assenti encurralada, porém devagar.

- Aquilo não foi nada - ele disse despreocupado - Já tive brigas piores, e de verdade. Agradeço pela preocupação.

- Por que a briga então? - perguntei.

- Não foi briga. Só estava ganhando tempo pra você sair de lá.

- Ah tá - respondi sem exatamente saber o que dizer.

Minha barriga formigou quando ele se levantou.

- Você não devia ter ido lá - ele disse,  me repreendendo.

- Fiquei curiosa quando ouvi os barulhos - eu dei abaixei a cabeça, assim como fiz quando o vi de perto pela primeira vez. Por algum motivo, eu não sabia manter contato visual com ele.

- Não seja assim, tão curiosa - ele disse. - Se eu não estivesse lá...

- Obrigada - não deixei que ele terminasse a frase, pois não queria ouvir o que pudesse vir depois.

- Não apareça mais na reserva - ele disse frio quando levantou indo até a janela do quarto - Eu não vou estar sempre pra te defender - disse de costas.

- O que te faz pensar que eu preciso de defesa? Não é porque sou uma garota que significa estar em apuros. Não preciso de um super herói.

- Devo admitir, você está certa - ele disse vindo até mim. - Todo mundo na sua escola se escondeu naquele dia, e você meteu seu nariz onde não devia. Foi até a reserva sozinha para, de novo, meter o nariz onde não devia. É coragem ou insanidade?

Ele estava cara a cara comigo quando terminou de falar. Me olhava intimidador. Dessa vez, eu conseguia olhá-lo nos olhos. 

- Você está elogiando ou criticando? - empinei o nariz.

- Ambos. Guarde como um conselho. Você parece uma pessoa boa para se envolver em encrencas.

- Você não me conhece - eu disse baixo. 

- E não deveria ter vindo à minha casa também. Vir à casa de um cara que não conhece, um cara perigoso como eu.

- Você só está tentando me assustar. 

- Devia funcionar - ele fitou a minha boca rapidamente. Aquilo me deixou balançada. 

- Parece que você só é gentil na frente da sua mãe - eu disse, o encarando. 

- O que quer que eu faça? - ele franziu as sobrancelhas finas - Quer que eu te convide pra beber vodca? Te ensine a atirar? Prefere arma ou arco e flecha? 

- Arco e flecha.

- Está pensando que eu tô de brincadeira?

Eu franzi os lábios, engoli em seco. Me senti ridícula por ter virado para olhá-lo de novo. Ele era terrivelmente bonito. 

- Você contou pra alguém que me viu?

- Não – respondi. 

- Certo. 

Eu queria falar mais, e não queria que a nossa primeira conversa terminasse.

- Posso te fazer uma pergunta? Minha vez.

- O quê? – ele olhou intrigado. 

- Você pode me ensinar tiro ao alvo? Eu te vi atirando e... Você faz tão... bem.

- Não sei se é uma boa ideia. Você é bem maluquinha, garota. 

- Por favor – fui um pouco manhosa. 

- Por que isso é importante? – ele me fitou curioso. 

- Autodefesa, ué – dei de ombros. 

Ele pôs a mão no bolso e eu estremeci. De novo, eu estava assombrada com a figura dele armado. Aquilo não saia da minha cabeça. Ele tirou o celular e não uma arma.

- Terei de ter o seu número pra falar a hora de nos encontramos para treinar. 

Eu passei-lhe o número do meu celular. 

- Izumi. 

- Sim. – respondi, um tanto mexida por ele falar o meu nome. 

Itachi me encarou breve e desviou o olhar. Ora ora, agora era ele que estava assim.  

Eu estava quase pulando quando sai do quarto. Parece que agora eu iria poder passar mais tempo e descobrir mais sobre ele. Mas eu também não reconhecia o motivo da minha excitação, afinal, ele ainda era uma criminoso.

Interno Caos - ItaizuOnde histórias criam vida. Descubra agora