Interno Caos - Itaizu

Tiro ao alvo

Cause I'm illegal, I got everything.
(AC/DC)

    Coloquei meu óculos de sol para poder esconder as olheiras que aquele final de semana me causara. Entrei na escola com o mesmo ânimo que acordei: zero. Eu gostaria de poder contar pra professora de literatura, que sempre perguntava como havia sido o nosso final de semana, que foi legal, como o fim de semana de uma pessoa comum, em shoppings e cinema. Mas não, depois de ter me deparado com aquele cara em pleno sábado, minha cabeça insistiu pensar nele, e somente nele.

- Quando eles se beijaram, eu surtei! - Debie diz espalhafatosa na sala de aula.

- Aquela coleção de roupas dela, ai, eu amei - Joanne comentava empolgada.

Não fazia ideia do que aquelas doidas estavam falando. Só sei que a turma inteira também estava comentando sobre a mesma coisa, aparentemente.

- Do que estão tagarelando? - eu levantei a cabeça na carteira com pouca vontade.

- Do filme! - Sakura riu.

- Filme? - Indaguei.

- Acabamos de assistir um filme de romance que a senhora Frances passou.

- Eu não vi nada - falei com meus olhos confusos.

- Está tudo bem, Izumi? - Yam quis saber, na carteira da minha frente.

Eu abaixei os óculos devagar para poder vê-lo melhor. Meu plano era fazer com que ele visse as olheiras tenebrosas que eu escondia e se convencesse de que eu era um monstro do pântano, que nunca daria certo com seu topete engessado.

- Tudo em ordem - respondi com um sorriso ridículo.

Yam me sorriu de volta, como quem ganhara o dia. Ele era bonitinho e bem arrumado, as garotas do colégio o adoravam, mesmo assim, não era o meu tipo. Pera aí, eu tenho um tipo? Nunca pensei nisso de verdade, nunca me apaixonei, afinal. Homens são todos esquisitos para mim. Não que eu seja lésbica, infelizmente, não sou; até tentei me "descobrir", no período de latência, mas não aconteceu. Eu apenas admiro mulheres. Para os homens, na maioria, eu só rolo os olhos.

- Você não tem dormido direito? - Sakura me perguntou, colando nossos ombros.

- Não, amiga - fui sincera.

- Ainda está com aquilo na cabeça, não é?

Ela havia faltado no dia da invasão, mas sabia do que aconteceu. Todos sabiam. No entanto, eu não contei nem para ela exatamente tudo que eu sabia, não a envolveria.

- Talvez.

- Acho que precisa de uma terapia - ela disse.

Acho que minha terapia vai ser ter dois minutos de olhares de odiosos com aquele karma.

- Terapia? - franzi o cenho.

- É... Eu não estava aqui no dia do roubo, mas você estava... Isso pode ter te abalado - ela dizia, e eu observei atenta cada movimento que a minha melhor amiga fazia. - Pessoas costumam reagir diferente a cada tipo de situação.

- Tem razão - eu disse.

- Fale com a psicóloga do colégio. Ela entrou aqui recentemente e tem ajudado – argumentou paciente. – Seria bom se você a conhecesse.

Tá aí uma opção. O trabalho de psicólogos em escolas é justamente acabar com paranóia alheia dos alunos. E já que o códico de ética não permite que falem nada, eu poderia usar esse bem pra mim.

- Eu vou – decidi. – Você pode ir comigo?

- Em particular é melhor - ela disse - Eu já fiz quando terminei com meu último namorado.