Prólogo:

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Viver não estava sendo fácil agora. Nunca fora.

Era como se algo ou alguém estivesse escrevendo um conto de horrores em sua vida e, a cada dia que se passava, esse escritor conseguia mais e mais criatividade para fazê-lo sofrer a ponto de querer se jogar da ponte mais próxima ao seu miserável emprego. Gerard tinha em mente que só sentiriam sua falta quando encontrassem seu corpo em avançado estado de decomposição em um lugar qualquer.

-Senhor, eu irei repetir apenas mais uma vez. -Respirou fundo.- Nós não podemos vender esse tipo de medicamento sem prescrição médica, isso é crime! Por favor, não insista mais ou terei que chamar meus superiores. -Resmungou. Ainda havia um forçado tom de simpatia em sua voz.

O homem deixa o estabelecimento resmungando rabugento.

O celular de Gerard toca no bolso de sua calça, fazendo com que o rapaz logo tomasse o aparelho em mãos e verificasse que era Mikey, seu irmão mais novo, quem o perturbava naquele momento tão inoportuno. Por alguns segundos Gerard apenas ponderou se atenderia ou não, afinal, já sabia o que seu irmão queria e não estava muito afim de se estressar ainda mais com a situação, por outro lado, o homem imaginou alguma situação de emergência e logo atendeu o aparelho.

-O que você quer? Sabe que estou no trabalho uma hora dessas e, ah, o meu chefe está por aqui hoje, eu não estou de bom humor, uma pilha de nervos, por favor, não me amola. -Ele resmunga rancoroso

Um bando de adolescentes escandalosos adentra o estabelecimento, encostando seus guarda-chuvas na porta de vidro e indo diretamente para a seção de preservativos e, em seguida, para a de tintas de cabelo. Gerard tentou não ser pego ao que os encarava, porém, precisava ficar atento a bagunça que aqueles seres não iluminados estavam fazendo. Talvez ele não fosse muito fã de adolescentes.

-Olha Gerard, eu...- O mais novo bufou.- Eu sei que já insisti muito nesse assunto e sei que não é um bom momento, mas você precisa me escutar. A sua vida está desmoronando, as coisas vão de mal a pior. Por favor, vêm passar um tempinho aqui na minha casa, só até você conseguir ajeitar as coisas. Não tem problema, eu não me importo. Você já me ajudou tanto, já cuidou tanto de mim, talvez seja a hora de retribuir isso. Nós podemos encontrar uma faculdade de Artes aqui em New Portman e você poderia continuar seus estu....-A linha ficou muda.

O Way mais velho desligou seu aparelho e o enfiou em seu bolso novamente, sentindo um pequeno aperto no coração ao interromper a conexão com seu irmão, porém, já não aguentava mais toda essa insistência. Não demorou muito para que os adolescentes vinhassem até o balcão com vários tipos de preservativos com sabor e alguns itens aleatórios como band-aids, doces e macarrão instantâneo. Gerard pensava que aqueles preservativos virariam balões ao invés de realmente serem utilizados como deviam e, talvez, assim fosse melhor.

Os sonhos de Gerard não eram muito coloridos. Na verdade, eram engolidos por uma coloração acinzentada com uma leve pitada de azul e a fria brisa do inverno. Desde o dia em que deixara New Portman City em direção à Mind-City, com o sonho de se formar em uma das faculdades de Artes mais prestigiadas de todo o planeta, sua vida havia tornando-se um verdadeiro caos. Agora ele mal tinha dinheiro para se alimentar decentemente. Como é que tudo havia virado-se de cabeça para baixo tão rápido? Se houvesse seguido o caminho que sua mãe o havia traçado, estaria mais feliz agora? E se houvesse permanecido em New Portman City, como as coisas estariam? Que se dane, nada em sua vida nunca fora normal.

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De: Gerard

Para: Mikey.

Drugstore Perfume (Frerard Livro 2)Onde histórias criam vida. Descubra agora