Ato III

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Os dias se passam e o príncipe é o único que visita Len naquela prisão, todos os dias sem falta as três da tarde fazendo as mesmas perguntas e recebendo as mesmas respostas, de novo e de novo como se algo fosse mudar, como se o reino verde fosse ressurgir das cinzas, como se sua noiva fosse sair de seu túmulo, mas mesmo que os dois desejassem isso nunca acontecia de fato.

Len não falava muito, apenas quando o príncipe conversava com ele, os guardas o tratavam mal por isso ficava o mais silenciosos possível, mesmo sendo uma prisioneira ele tinha mais luxo que os outros, podia pedir coisas para o príncipe, mas só havia pedido um conjunto de chá, para beber a tarde e seu pedido foi atendido surpreendentemente.

— princesa Rin? Me diga o que aconteceu naquela noite. — Ele entrega para ela uma caneca com água quente e ervas como fazia todo os dias, Len só pega quando o príncipe afastou suas mãos colocando a água e as ervas no bule que havia ganhado, não tão luxuoso como o do castelo, mas estava feliz em poder fazer algo naquela cela — Me diga como você mandou destruírem o reino verde.

— Eu tinha acabado de saber... chamei o ministro, me inclinei me aproximando da sua orelha e disse. — ele coloca lentamente o chá na xicara tomando um grande gole afastando a xícara apenas o suficiente para sussurrar — Apague o reino verde do mapa.

— Você é um monstro, tudo isso para quê? Para impedir a felicidade dos outros? — Rin odiaria saber que o príncipe a chamou assim, mas isso não importava, ela agora era apenas o servo que fugiu envergonhado da maldade da irmã, ninguém iria atrás dela — Não sentiu nada ao ouvir os gritos de terror? A dor de um reino inteiro por sua causa?

Len não consegue impedir de uma lagrima cair ele estava naquela noite, mas não no castelo como dizia, ele estava no reino verde e se pudesse diria que os gritos ecoavam na sua cabeça sem parar e que o sangue continuava a escorrer por seus dedos mesmo naquele momento, nunca parava.

— Eu... não queria que chegasse a esse ponto. — Len pega o resto da água jogando em suas mãos, ele sentia elas sujas, mesmo que não houvesse mais uma gota de sangue, mas como na manhã seguinte no Palácio ainda o sentia viscoso e denso. — Por que você tinha que amar ela? Por que tinha que tentar uma aliança?... eu tinha que impedir...

— Se havia uma mínima chance de eu gostar de você, acabou nesse momento. — Len continua esfregando as mãos como se um dia conseguisse apagar a sujeira que sua alma se tornou, mas nada podia mudar aquilo — Espero que esteja feliz com o que causou, não vai demorar para decidirem o dia que vai morrer.

O príncipe se vira a ponto de sair, Len deveria deixa-lo ir, mas via em seu rosto o luto, via que precisava de um ponto final naquela história e Len estava ali para levar a culpa de todos os crimes da irmã, mas também dos seus próprios por isso abriu os lábios e disse antes que pudesse evitar.

—... Quer saber o que ela disse? Antes de morrer? — ele para olhando para ela novamente, tentando entender se aquilo era apenas uma brincadeira ou a princesa sabia o últimos momentos de sua noiva — No momento que ela me viu sabia o quê significava, sabia que eu não vinha em paz, ela então se ajoelhou na minha frente.

— Se você estiver mentindo eu juro por tudo que eu mesmo corto sua cabeça — Len prende a respiração por um momento era difícil manter o disfarce, ele queria pedir perdão, mas sua irmã nunca faria aquilo, ele devia saber que não merecia mesmo o perdão de ninguém — Me diga, o que ela te disse.

— Ela disse... ela me disse... — Len abraça seu próprio corpete a dor em suas costelas o lembrava do papel que tinha que manter, mas precisava dizer a verdade daquele momento, ela merecia pelo menos isso — Ela me disse... "Eu te perdoo".... então no seu fim eu fiquei lá até o ultimo segundo... ela estava errada... em me perdoar.

— Sim, estava. — Len mesmo que pensasse a mesma coisa sente uma dor ao ouvir aquilo do príncipe, seu olhar frio fitando o garoto mesmo que com o disfarce parecia atravessar tudo e ver sua alma negra e pecadora — Ela era alguém que via bondade até nos piores, ladrões, golpistas e pior que todos... você.

— Uma jovem brilhante com um longo futuro pela frente. — Len sorri involuntariamente o que causa mais raiva no príncipe que bate nas grades com o braço se prensando nela, Len continuava seu chá como se nada tivesse acontecendo — Um destino tão cruel como uma comedia criada pelos deuses, a dor em sua mais pura essência.

— Você vai pagar por todos os seus crimes. — Len assenti, já tinha aceitado que aquele era seu destino, era o mais justo para todos — Eu vou garantir isso.

— Eu acredito em você, ficarei esperando bem aqui, afinal não tenho como sair.

O príncipe vai embora sem dizer mais nada e Len se senta com as costas encostadas na parede, a luz diminuído por conta do por do sol e os guardas começando a acender as lamparinas, Len olha seu conjunto de chá tinham dado duas xícaras para ele que acho um lembrete cruel de que estava sozinho agora, sem mais sua irmã ao seu lado, ele pega a segunda xicara a jogando no chão com força até vê-la quebrar, ninguém se importava com o que ele estava fazendo, sabiam que não tinha forma de escapar, ele pega um dos cacos apertando em sua mão até sentir a ardência e as gotas pingando, sujando suas mãos de sangue

Sujas, sempre sujas, mesmo quando limpas, mesmo quando enluvadas, mesmo quando era seu próprio sangue, mas em sua mente estava novamente naquele beco escuro segurando o corpo inerte da princesa verde, Sunny dando seu ultimo suspiro, morta pela faca que ele apunhalou em seu peito... realmente ela estava errada em perdoar ele.

Reinado de pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora