Ato VIII

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Um dos guardas pedem para Len se aprontar para o jantar com a família real, o armário estava cheio com os vestido da sua irmã e a penteadeira com suas pinturas, não tinha sido uma decisão feita as pressas, o príncipe sabia muito bem a condenação que daria antes mesmo de ter permissão.

Uma das servas do Palácio entra no quarto, suas roupas eram em um tom acinzentado e seus cabelos brancos de modo que a tornava ainda mais pálida, seu olhar era cheio de dor, o olhar de alguém que já passou pelo inferno e ainda tem suas marcas.

— Pode sair, eu não preciso de ajuda... — a mulher continuou ali parada apena observando ele de modo avaliativo, talvez quisesse assegurar que o garoto não ia tentar qualquer loucura. — Eu só não me sinto confortável trocando de roupa na frente de alguém... não se preocupe, não planejo nada.

— A flor maligna sempre planeja algo, mas minhas ordens são seguir seus comandos... — a mulher sai do quarto porém deixa a porta entre aberta ficando em sua frente, Len vai até o biombo no canto do quarto — A família real é bem clemente nesse reino, se você estivesse em outro reino estaria morta.

— Eu preferia deste modo, seria uma dor rápida. — Len tira as roupas da irmã que estavam sujas de tanto tempo na prisão, elas já tiveram dias melhores e ele também — Você também deveria agradecer, falar de alguém da realeza desse jeito em qualquer lugar...

— Eu e você estamos na mesma situação, vivendo de um jeito melhor do que boa parte da população, mas ainda assim... prisioneiras, como eu disse clemência. — Então Len sai do biombo apenas a cabeça e olha para a mulher de costas para porta vendo em seus pés um objeto de prata entendo o que ela queria dizer — Não é como você pudesse voltar para sua realeza, ou me rebaixar mais do que eu já estou.

— Você é uma prisioneira de guerra... trabalha para o reino que ganhou como uma compensação dos danos causados. — Len já havia visto alguns, sabia o quanto aquela marca em suas pernas podiam destruir suas vidas para sempre — O reino branco... faz tempo que eu não vejo alguém de lá.

— O reino esquecido, caiu a tanto tempo que poucos ainda se lembram de sua gloria, agora é a vez do seu. — Len engole em seco, não havia pensado nisso, mas todos que viviam em seu reino sofreriam por terem vivido lá, no fim iam perecer sem conseguir passar seu legado. — Nós estamos na mesma situação e quanto antes aprender que já não importa mais nada que você faça seu destino já foi selado, não tem como mudar.

— Eu não quero muda-lo, só apressar um pouco. — Len escolhe um dos vestido que sua irmã usaria, ele limpa uma lágrima do seu rosto ao pensar nela, se perguntava como ela estava — Você já deve ter sentido isso, querer ter morrido junto com todos.

— Sim... mas eu aprendi que isso é egoísta da minha parte, eles não tiveram uma chance de viver e eu depois de ver como a morte é inesperada jogo fora minha vida? — Len não havia pensado nisso, mas o quê importava naquele momento? Sua cabeça pendia no seu corpo esperando o dia de cair — Você é jovem, vai aprender isso... ontem você estava apodrecendo em uma cela hoje está no Palácio e amanhã está morta quem sabe, faça o que quiser, só lembra de não desperdiçar o que outros não puderam ter.

— Eu me pergunto se encontrar tantas pessoas gentis nesse momento é uma recompensa ou um castigo. — Len termina de se arrumar percebendo que as mangas ficavam um pouco mais curtas em seus braços e aquele pequeno detalhe o faz sorri — Talvez seja os dois, quem sabe? Eu achei que nesse ponto todos iam me odiar para sempre e ficar felizes em me ver morrer.

— Você é apenas uma garota, não importa as monstruosidades que já fez, acho que todos se sentem culpado de não fazer nada antes.

— Pois não deviam, foi tudo minha culpa.

Ele arruma os cabelos mal cortados de frente da penteadeira seus cérebro inconscientemente listando cada mínima diferença entre ele e a irmã, da curvatura da sobrancelha até a grossura dos lábios, ali ele se sentia uma replica imperfeita, preocupado que as diferenças fossem obvias demais.

Ele sai do quarto acompanhado da serva e no caminho para o salão de jantar encontra o príncipe andando pensativo, Len pensa em tentar achar outro lugar para ir ou ficar quieto o suficiente para não ser notado, mas em sua duvida o príncipe já tinha o percebido e estava se aproximando.

— Olá Rin... — Seu tom mesmo que cordial desde o primeiro dia parecia errado, como se estivesse uma nota Baixo do comum, Len podia notar que o príncipe ainda não sabia o que pensar dele — Você está indo para o salão de jantar? Ainda sabe onde é?

— Não precisa ser gentil se não quiser, nem deveria estar se forçando a ser. — O príncipe fica em silêncio, Len e ele nunca foram amigos, ele e sua irmã sempre foram mais próximos — Você melhor do que ninguém sabe que minha estadia aqui é... passageira.

— Sim... você sempre foi boa em saber o que eu estava pensando.

Depois de ver o príncipe de longe por tantos dias em sua cela era estranho estar tão perto dele, seus olhos não era de um puro azul e sim uma explosão de tons de azul diferentes, o brilho suave da sua pele reluzindo com o sol, seu leve cheiro de mirtilo fresco, enquanto falava umedecia seus lábios de uma forma que sempre arrancou suspiros de Rin, ele era alguns centímetros mais alto por isso quando Len abaixa sua cabeça acaba fitando seu peito que marcava no sobretudo azul com faixas brancas, seus braços também eram visíveis pelo pano delicado.

— Acho que... — Len pisca algumas vezes, estava pensando demais, todos aqueles detalhes deixariam sua irmã perdida nas feições do príncipe, mas ele não precisava copiar seus modos daquele jeito — Precisamos ir... para a...

Len não termina a frase só continua andando, imaginando se aquela estranha situação era um sintoma de fingir ser alguém por tanto tempo, ele nunca olhou para o príncipe daquele jeito e não olharia assim agora, estava começando a ser naturalmente sua irmã e esquecendo que não era ela, aquela gentileza de todos não era para ele, os pecado não eram dele e o príncipe não tirou ele da masmorra, as pessoas ainda tinham lembranças boas de sua irmã, mesmo depois de tudo... e ele percebe que estranhamente não estava completamente feliz por isso. 

Reinado de pecadoOnde histórias criam vida. Descubra agora