Ato XIII

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Se a vontade de ir ao baile de Len já era extremamente reduzida, depois da conversa com o príncipe era inexistente, a qualquer momento na noite ele poderia revelar seu segredo e tudo que o garoto estava trabalhando ia acabar, ele ainda estaria preso pagando pelos seus crimes, mas agora sua irmã seria caçada e morta para vingar o sangue em suas mãos, ele tinha que fazer alguma coisa, tinha que impedir que o príncipe citasse qualquer coisa ao rei, Len anda até o salão de baile onde algumas pessoas chegavam aos poucos, realeza, nobreza e os cortesãos, a musica começa a tocar quando as portas finalmente são fechadas deixando-a ecoar nas paredes um som relaxante, o instrumentos unidos criando algo realmente bonito, Len gostava da música, era a única razão que o fazia ainda querer estar no salão de festas sempre que sua irmã decidia fazer uma, as notas vibrando sobre todo o seu corpo o fazia esquecer tudo ao seu redor, a dor, o medo, o julgamento, tudo parecia tão distante que ele sentia a necessidade de firmar os pés no chão ou sentiria que sairia deslizando pelo ar, para fora daquele lugar o que naquele momento não era uma ideia ruim, ele fica um pouco afastado de todos o que parece ser um alivio não só para ele, mas cada pessoa naquele salão, podia notar os olhares e as conversas, não que estivesse se importando com isso, só não gostava de ser o centro das atenções o que era completamente diferente da sua irmã, por isso quando ele encontro o olhar do príncipe do outro lado do salão decide ir até lá, precisava fazer isso, era o que sua irmã faria além dele precisar controlar o que o maior falava.

— Alteza...

Len faz uma reverência ao se aproximar do príncipe, ainda interpretando seu papel mesmo não fazendo mais sentindo, podia dizer que talvez fosse porquê alguém poderia ouvir, mas não era esse o motivo, só se sentia mais confortável usando aquela máscara, Rin sabia lidar com o príncipe, ele não, Rin podia sorrir mesmo quando tudo desmoronava, ele não, Rin podia ser o centro das atenções, ele não e principalmente Rin podia sentir seu coração acelerar e seu rosto corar mesmo com o olhar injetado de raiva do príncipe e ele com certeza não.

— Esperava que nossa conversa tivesse acabado... e eu poderia aproveitar o resto dessa noite. — era óbvio a raiva ou talvez decepção, não importava, o certo era que não importava se era Len ou Rin, o príncipe não suportava mais lidar com nenhum dos dois — Você é um lembrete constante de morte... está estragando minha diversão.

— Esperava ter uma dança... você sempre teve uma para mim... — Len entrelaça seus dedos abrindo um grande sorriso, era assustador as vezes o quanto era fácil fingir, e ele podia ver isso no olhar do príncipe — E essa será especial, não estarei mais em bailes como esse...

— Parece que de fato será assim...

As palavras escorrem da sua boca com um desgosto, Len ignora, tinha que ignorar, ele estende sua mão suavemente sendo atendido logo, os dois andam lentamente para a pista de dança e logo olhares por todo o salão se viram para eles, os músicos param e preparam a próxima música, quando a primeira nota toca eles estavam prontos, Len deixa seu corpo ser guiado, mesmo que não gostasse de dançar teve que aprender e com sua máscara de mentiras os olhares não incomodavam ele exceto os do príncipe o fitando, aquele o apavora, sua farsa se rachando só com aqueles olhos azuis profundos.

— Agora que estamos tão perto, pode parar com essa farsa que está revirando meu estomago. — o príncipe comenta suavemente na orelha do garoto que involuntariamente se arrepia, podia dizer que aquilo era ainda ele interpretando, mas não sabia ao certo, o príncipe podia mexer com os sentidos de todos mesmo que Len não quisesse admitir — Ver você agir como se nada estivesse acontecendo, isso é doentio, eu... não consigo...

— ... Todos aqui fizeram isso por anos, sabiam o que acontecia com Rin... mesmo assim quantos bailes todos nós fomos? Enquanto o reino amarelo passava fome... — as vezes as pessoas esqueciam a verdade quando estavam em seus palácios, mas Len não pertencia ali, por isso podia dizer a visão que todos ignoravam — Você disse que eu sou um lembrete constante de morte... posso dizer algo parecido com esses bailes, são um lembrete eterno da soberba que acabou com minha vida... não virei um lembrete de morte, sempre fui...

Havia muitos rumores sobre Len, principalmente sobre o que aconteceu nos anos que ele sumiu, depois do rei amarelo ter se livrado do próprio filho preocupado que um herdeiro fortificaria o reino e faria os outros os verem como uma ameaça, já que por muito tempo o reino amarelo foi tratado como um reino menor e sem qualquer ameaça política, sem um herdeiro ele estaria mais fraco ainda e por isso os outros reinos poderia controlá-lo facilmente o que era perfeito para o rei que apenas se importava com o dinheiro que conseguiria desses acordos... mal sabia que escolheu o gêmeo errado se não queria uma guerra.

— Por isso vocês não entendem... nunca tiveram que lutar para estar aqui... tudo que eu passei... morrer pela minha irmã é o mínimo. — a máscara tinha finalmente caído, o olhar duro, o corpo rígido, os lábios trêmulos como se fosse desmoronar, com certeza não era mais Rin ali, ele podia ver agora claramente o garoto recluso que parecia aguentar tudo sem dizer nada — Talvez por isso você quer revelar a todos, minha vida é tão sem valor que não é o suficiente para pagar a dívida dela?

— O que ela fez com você? Eu não consigo acreditar que alguém pode estar tão quebrado como você. — Kaito não conseguia entender, como ninguém tinha percebido o quanto Len estava perturbado? Ele realmente pensava de si mesmo dessa forma? — Uma vida é uma vida... o problema é que sua vida está sendo usada nos crimes dela, você que não está valorizando sua vida, ninguém merece paga por crimes de outro.

— Os crimes que você insiste ser dela foram meus, eu fiz tudo aquilo, não consigo viver com essa sensação...

— Acha que eu não queria ficar em paz também? qual é a justiça de me deixar sofrer toda a minha vida enquanto você pode descansar para sempre? — Len aperta a mão do príncipe a valsa chegando em seu ápice , os movimentos ficando mais rápidos e precisos o fogo no olhar dos dois que não iriam desistir do seu ponto de vista era quase visível — Eu não vou permitir que isso acontecera, não posso deixar que você consiga o que quer...

— O que pretende fazer?

— Só que interprete sua irmã melhor, ela não desistiria tão fácil, quer pagar pelo que fez? Peça asilo político no seu julgamento... você me deve isso. — Len sente seu estômago despencar do próprio corpo, asilo político... ele pediria a proteção da corte em troca de uma vida de servidão, ele se lembra da serva do reino branco... era daquele jeito que ele acabaria — Não seria muito diferente das suas obrigações anteriores, poderia me ajudar a dar apoio ao reino verde... realmente pagar pelas coisas que fez...

— Eles nunca aceitariam, precisaria dar um motivo fora do meu poder para ter feito tudo o que eu fiz, para eles eu sou apenas uma garota que enlouqueceu com o poder, como poderia fazê-los mudar de ideia?

— Não vai, você enlouqueceu por isso fez aquelas coisas — as notas chegam na sua conclusão quando o príncipe lentamente inclina o corpo dos dois, seus rostos tão próximos e as respirações ofegantes se misturando em uma, o príncipe fitando o garoto no fundo dos olhos dizendo em um sussurro quase — Você estava apaixonada por mim, não estava? O amor faz todos agirem com insanidade.

A música podia ter parado, mas o coração de Len batia desesperadamente, ele estava quase conseguindo o que queria, estava pronto para morrer por sua irmã, mas o príncipe mexia com ele, fazia com que pensasse de outra forma, ele realmente estava fugindo, não é? A morte era a escolha mais covarde, mas ele não queria lutar, não queria mais viver com tanta dor o tempo todo, os dois se afastam e Len tenta colocar sua máscara de volta, mas agora ela não funcionava bem na frente do príncipe ele dá um sorriso leve, mas seus olhos não acompanham a expressão.

— Bem... ainda sou um servo da corte... se essa é a penitência que recai sobre mim, eu tentarei desempenhar meu papel. — O príncipe assenti, não queria mais mortes, isso não resolveria nada, todos tinham que pagar em vida seus crimes — Obrigada, pela última dança...

— Veremos se é última...

Len se afasta, ele olha para suas próprias mãos, estavam quentes ainda do toque no príncipe, não parecia mais tão desconfortável sua própria pele, ele iria mesmo fazer aquilo? Iria lutar mesmo que não aguentasse mais? Ele tinha razão em dizer que sua irmã nunca desistiria assim tão fácil, uma pontada de esperança surgiu em seu peito, talvez se pudesse fazer todos perdoarem sua irmã de uma forma pacífica sua consciência ficaria limpa? Ele quase conseguia ouvir a voz de Sunny em seus ouvidos.

"Eu te perdoo"

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