Contos

8 - O Sinal

 Segunda-feira, adotei um gatinho que já tinha alguns meses. No começo, ele era arisco e sempre se escondia embaixo da cama. Até receber um banho meu, piorou ainda mais. Quando recebia carinho, fazia expressões de encanto. Era diferente dos outros gatos, gostava de receber atenção. Já na terça-feira, tudo desandou. Primeiro, aconteceu do jeito que eu imaginava, gatos não podiam ver espíritos. Eu também não acreditava nisso.

Ele olhava fixamente para o mesmo ponto e continuava persistente, miando. Na primeira noite, pensei que fosse solidão, uma forma de chamar minha atenção. Com raiva, tirei-o do meu quarto e o coloquei em outro cômodo, mas ele arranhava a porta e tentava sair.

Na quarta-feira, decidi colocá-lo novamente no meu quarto. Ele continuava olhando fixamente para aquele ponto e continuava miando. Olhei naquela direção, liguei a lanterna do meu celular e não vi nada.

— Amiguinho, você está querendo tirar meu sono, não é?

Consegui dormir, apesar dos miados e chiados que ele emitia. Mas, nessa mesma noite, tive um pesadelo. Estava cercado por pessoas que me olhavam, não conhecia seus rostos, mas eram apavorantes. Diziam querer minha alma, que já estava na hora, que eu estava incomodando-os.

Então, acordei suado, e ele estava me acariciando, com medo e espantado. Depois, voltei a dormir novamente.

Na quinta-feira, outro sonho aconteceu. Acordei no meu quarto, parecia real. Pude ver uma forma fantasmagórica se mexendo na escuridão. Liguei a lanterna do meu celular. E lá estava aquela mulher olhando fixamente para mim. Novamente, acordei, aliviado por estar em um sonho. Mas perceber que meu gato estava olhando exatamente para onde eu tinha visto aquela mulher e miando começou a me apavorar.

Fiquei acordado, imóvel, ouvindo músicas no fone de ouvido. Ansioso pelo que poderia acontecer. Ela não voltou a miar na noite seguinte. Mas, mesmo assim, no mesmo horário, eu acordei, levantei-me, escutei um barulho estranho vindo da janela. Me aproximei, me aproximei até ver o reflexo dela. Seus olhos me encaravam profundamente. Então, suas mãos saíram pelo vidro, agarraram meu pescoço e fui levado para a escuridão.