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Gustavo

Observo a favela de cima da laje, bato a mão no bolso sentindo uma cartela de cigarro e o isqueiro. Pego os dois, tiro um cigarro da carteira e guardo de novo.

Estouro as duas bolinhas do marlboro de melancia e coloco na boca. Faço um concha com a mão pra tampar o vento e risco o isqueiro com a outra acendendo o cigarro. Puxo a fumaça pra dentro prendendo um pouco pra depois soltar e guardo o isqueiro.

Mantenho meu olhar na favela lá em baixo.

Meu pai e meus tios já estão ai, cada um em uma boca. Acalmei a mente só agora, depois de organizar a boca principal. Única coisa que vai faltar é repassar a lista de morador, isso vai ser feito ao longo da semana que vem.

Passo a língua no lábio sentindo o sabor do cigarro, coloco ele na boca mais uma vez puxando a fumaça.

Daqui de cima eu vejo o meu pai se aproximando de moto, ele olha pra mim e logo para em frente a boca. Continuo fumando meu cigarro e escuto os passos dele subindo as escadas com o olhar ainda lá em baixo.

Igor: ta em ordem - ele se aproxima, eu solto a fumaça presa antes de responder e olho pra ele.

Gustavo: paçoca ta la? - ele confirma.

Igor: ele já ta ligado em como vai funcionar.

Gustavo: ótimo, obrigado - sorrio de canto.

Igor: marrentinho - dou uma risada baixa colocando o cigarro que ta pela metade na boca, puxo pra dentro e tiro batendo o dedo pra cair as cinzas.

Gustavo: cadê minha mãe?- pergunto depois de soltar a fumaça.

Igor: foi com suas tias gastar dinheiro - dou uma risada nasal - vai almoçar - ele me empurra.

Gustavo: tu também não almoçou, vamos - dou uma última tragada no cigarro e apago ele no parapeito de tijolo da laje deixando a bituca ali.

Igor: o pai aqui sou eu - dou risada.

Gustavo: vem logo, pai - vou na frente descendo as escadas, escuto os passos dele também.

Igor: tu ta precisando de um banho, ta fedendo já - dou risada terminando de descer as escadas.

Gustavo: vocês tão achando que eu não como, durmo ou tomo banho faz um mês.

Igor: mas é mermo - reviro os olho rindo olhando pra ele andando do meu lado.

Gustavo: eu tomei café, tomei banho antes de sair pra vir fazer invasão, só em questão de dormir que eu acordei 22h na terça e não dormi mais.

Igor: hoje é quinta feira, Gustavo - ele me encara e a gente vai descendo o morro, eu dou risada - quase 3 da tarde.

Gustavo: to de boa, pai - ele faz tsc negando.

Igor: tu me deixa louco - dou uma gargalhada.

Gustavo: que isso, papai, ja to grandinho.

Igor: tu ta só pensando no movimento e esquecendo que tu tem que ta vivo pra isso - ele me da um cotovelada fraca e eu dou uma risada baixa.

Gustavo: to indo comer, não to? ta quase tudo resolvido, ai eu vou pra casa, tomo um banho, fumo meu baseado e durmo que nem um neném - sorrio pra ele.

Igor: mania de fumar pra dormir - dou risada.

Gustavo: um pra dormir e um pra acordar.

Igor: fica chapado o dia todo - a gente se aproxima da lanchonete, ele vai na frente sentando em uma cadeira do lado de fora e eu sento ali também, do lado dele.

fruto da libertinagemOnde histórias criam vida. Descubra agora