VIII

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Pouco tempo depois, Sucrose apareceu com as notícias. Albedo estava bem, claro, mas havia sido chamado para uma reunião de emergência com os capitães e não pôde ir pessoalmente contar a Atlas que seus encontros matinais iriam acabar e o porquê. Sucrose apenas confirmou tudo que Tartaglia havia falado, quando soube do verdadeiro motivo do descontrole de Atlas, ele entregou sua visão para Albedo e se ofereceu como prisioneiro pelo tempo que os Cavaleiros achassem necessário. Queria pagar por seus crimes sendo útil na sociedade e punindo a si mesmo por não correr atrás de suas memórias.

Atlas a chamou para entrar, para sua tristeza, Fischl estava em uma missão e não voltaria até o amanhecer. As duas amigas, então, fizeram o que sabiam de melhor, comer e fofocar.

- ...e ele me disse que não era da minha família. Dá pra acreditar nesse filho da puta?

- Eu jamais imaginei que o Capitão Kaeya fosse passar tanto dos limites.

- Exatamente! Eu não sei o que ele esperava com tudo isso. Não dá pra simplesmente deixar de lado tudo que os meus pais me fizeram.

- Mas e se eles realmente quiserem consertar as coisas?

- Ah não, você tambem não.

- Só estou tentando dizer que as pessoas mudam.

- Não os meus pais. Eles sempre vão ser um covarde omisso e uma preconceituosa de merda.

- Que coisa pesada de se dizer, Atlas...

A cartógrafa parou de falar. Às vezes, esquecia que Sucrose nem sempre compartilhava seus pensamentos. Fischl entendia bem o que ela passava, mas Sucrose era uma boa menina, com bons pais. Ela jamais saberia quanta dor as palavras duras de Atlas carregavam.

- Você quer que eu durma aqui hoje? Pra você não dormir sozinha.

- Eu vou ficar bem, pode ir pra casa.

- Tem certeza?

- Tenho. Amanhã eu vou acordar cedo e procurar a Grande Mestre Intendente. Quero voltar ao trabalho agora que não corro mais perigo de perder o controle.

Sucrose a abraçou.

- Se cuida, meu bem.

- Você também, Rose.

A aprendiz de alquimista foi embora, então Atlas começou a lavar a louça. Sua família havia voltado a ser um assunto recorrente em sua vida, e isso era péssimo. Agora ela não conseguia parar de pensar neles. Ou lembrar de seu passado. Como ela chegou até ali...

[...]

Vale Termal, 8 anos atrás...

O cheiro do espetinho de frango com cogumelos estava invadindo a aldeia inteira, ao passo que todos se reuniam para o banquete anual do Vale. Erica Hartmann, aos seus 11 anos, era o prodígio do vale. Aluna exemplar, jovem dedicada e gentil, sempre disposta a ajudar os mais velhos. Todos os moradores do Vale a conheciam e gostavam dela, sempre elogiando seus pais pela boa criação que deram à filha.

Seu bom comportamento até mesmo ajudava as pessoas a esquecerem a seita que sua família frequentava. A mãe de Erica era uma devota fervorosa da crença de que os arcontes são, na verdade, espíritos malignos e que as visões são maldições. O pai, por outro lado, não fazia parte da seita, mas nunca questionou a esposa e deixou que ela criasse a filha de acordo com suas crenças.

Erica, no entanto, sempre viu as coisas de forma diferente. O vento que soprava em seu rosto todos os dias não podia ser obra de um espírito maligno. O responsável por livrar Mondstadt de um período de ditadura e sofrimento não podia ser mau. E as visões, de forma alguma poderiam ser maldições! Ela imaginava, todos os dias, como seria ter tamanho poder em suas mãos, e secretamente o desejava.

my lost harbinger (Childe/Tartaglia fic)Onde histórias criam vida. Descubra agora