V

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Alguns sentimentos são tão conflitantes e tortuosos que não podem simplesmente ser contidos ou ignorados. Eles têm fome; ânsia! Precisam ser sentidos com intensidade, porque seu dever é tão somente esse: queimar as almas dos que foram condenados a sentir.

Sakura encontrava-se de pé no batente largo da longa janela de pedra escura e gelada situada na imensa torre do relógio bem de frente para o pátio, que, naquele momento, estava vazio, e, pouco a pouco, mergulhava na solidão que era a escuridão noturna naquela área do castelo.

Embora não estivesse agasalhada o suficiente para receber as rajadas congelantes de vento que batiam vigorosas contra seu rosto e pescoço desprotegidos, ela encarava o horizonte nebuloso e cinza pensando em como aquela paisagem parecia estar tão bem sintonizada com seu interior confuso e despedaçado, seu interior nublado, gelado e carregado. Havia tantas coisas indefiníveis que sentia e lhe tomava o sossego que sequer sabia por onde começar a se organizar; sequer sabia como faria para encontrar mais uma vez aconchego em seu próprio eu, que agora parecia pequeno e frágil demais.

Quando era criança, Sakura gostava de apreciar o crepúsculo vespertino; via beleza e paz no modo como o sol se escondia tão lentamente ao Oeste, levando com ele toda energia do dia mas ao mesmo tempo trazendo consigo os traços calmantes da noite branda. Agora, as coisas já não eram como antes. Ela já não era como antes. Enquanto admirava o último suspiro do astro glorioso antes de seu declínio, pensava na fossa que estava, e que cavou sozinha.

Sentia-se presa como uma bruxa de alta periculosidade para o mundo mágico, trancafiada em alguma cela apertada e solitária na arrepiante Azkaban. Não havia coisa pior do que estar deste modo e sequer conseguir raciocinar qual seria a melhor saída. Desde que Sasuke deixou a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas, ela havia suspirado mais vezes do que em todo o decorrer do ano.

Sentia-se estranha, e tão... errada. A prova desse sentimento estava ali, enquanto encarava os montes e toda aquela vista dos campos arredores de Hogwarts. Se outrora mal respirava deslumbrada quando observava todas as folhas trocando de cor para dar início a mais uma nova estação, no momento, tinha que se forçar a tal coisa. Se forçar a admirar aquela vista que antes acontecia de forma tão natural.

Sempre viu beleza em Setembro... sempre! Havia uma coisa mágica e indefinível no outono e seus dias longos e dourados. Agora, Setembro parecia despedaçado! Seu pobre Setembro despedaçado, assim como aquela semana que ruiu-se dado os acontecimentos que sucederam-se de forma afobada. Seus pensamentos eram tão confusos... sequer acreditava ser capaz de assistir as aulas que ainda lhe restavam. Sakura encontrava-se como o pobre Setembro dono de um outono sem cor: despedaçada.

Despedaçada, não por sofrer de forma aguda, mas por perceber que não era lá tão imune a Sasuke como julgou. Se antes pensou que nada nele a balançava, agora tinha plena certeza que estivera completamente errada durante todo esse tempo.

Ele sempre a afetara e sempre afetaria. Sempre. Desde quando eram mais novos foi assim. Quis esconder, mas algo como aquilo não podia ser camuflado. Não era possível! Agora, Sasuke havia mostrado seu segredo maior na frente de todos, e ela tinha certeza que não estava muito atrás dele nesse quesito.

Depois que absorveu toda a situação delicada e os problemas que a envolviam juntamente com Sasuke, fora atrás dele.

Não encontrou qualquer vestígio.
Claro, não havia revistado todo castelo, mas procurou por horas, deixando de fora somente alguns cômodos mais afastados e as salas comunais. Provavelmente era ali que ele se escondia junto a vergonha que certamente sentia.

Após a cena que se formou após Sasuke lançar seu feitiço problemático, Kakashi, tão constrangido quanto o restante da turma, os liberou dizendo com palavras duras que retomaria com a aula no dia seguinte, pouco antes do banquete da noite.

Corvus l SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora