VII

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O dia havia amanhecido estranhamente abafado, como se o castelo estivesse coberto por algum tipo de magia antiga e proibida, algum tipo de magia desconhecida e má, que envolvia o ambiente num domo, cobrindo aquela área para que o calor fosse mantido ali dentro, assando a todos.

Sasuke sentia-se mal cada vez que expirava. O ar saía morno de suas narinas e isso deixava-o zonzo. Nada parecia bem.

Diferente do habitual, enquanto caminhava lentamente pelos corredores do castelo, sequer pôde avistar um único aluno perdido. Não havia ninguém, nem mesmo um único primeiranista confuso com seus horários ou quartanistas matando aula para ver algum treino de quadribol. Tudo que podia-se ouvir conforme Sasuke avançava, era o som de seus passos pesados que batiam contra as pedras de aspecto antigo fazendo um barulho enjoado e incessante.

Até mesmo os quadros fofoqueiros pendurados nas altas paredes rústicas pareciam aprofundar-se num gélido silêncio suspeito.

Há algo errado.

A consciência de Sasuke tentava alertá-lo.

Há algo errado. 

O sussurro persistia, implorando para ser ouvido.

Embora Sasuke entendesse as palavras, as ignorava, negando-se a se preocupar com aquilo no momento. Estava ansioso demais para reparar na calmaria incomum do castelo ou nos estranhos detalhes de Hogwarts. Preferia lidar com o que fosse, depois, agora, seus pensamentos estavam ocupados, sendo dominados por íris de cores vivas, tão verdes quanto o clarão de uma magia poderosa.

Pensava nas manchas castanhas que começavam em volta da pupila, em cílios curvados, sobrancelhas finas e sempre apertadas no cenho… pensava em um lábio inferior pouco maior que o superior, na maciez de pequenas mãos com unhas pálidas… pensava em três pintinhas delicadas e amarronzadas localizadas num pescoço fino e leitoso, assim como um nariz fofo e arrebitado.

Pensava em Sakura.

Pensava contínua e insistentemente, sem qualquer interrupção. Esses pensamentos não lhe eram anômalos, pelo contrário. Corriqueiros, eram tão naturais para si quanto respirar.
Sasuke afrouxou o próprio nó da gravata, puxando o tecido prata e verde para baixo, aliviando a sensação de enforcamento que sentia.

Nunca fora o tipo que andava desleixado, mas naquela manhã em especial, mal encontrava forças para continuar respirando com tranquilidade. Estava tão quente… tão… sufocante.

Sua nuca estava melada; ele podia sentir alguns fios agarrando-lhe a pele, pinicando-o como espinhos pontudos.

Acabou por não resistir à intensa vontade que o invadiu em arregaçar as mangas da blusa social que apertava-lhe os pulsos, enrolando o tecido fino no antebraço, pouco abaixo do cotovelo.

Havia acabado de subir uma fileira de escadas longas dona de degraus largos e grossos. As paredes já haviam deixado de ser úmidas por estarem submersas ao lago negro; as masmorras eram frias e escuras lá embaixo, tudo parecia molhado. Goteiras pingavam, e era possível sentir algum cheiro de mofo ou algo parecido. Já ali, onde se encontrava, no térreo próximo a grande salão e o pátio do meio, o ambiente era sempre aconchegante, morno, claro, vivo…

Exceto, naquele dia em especial.

Apesar de abafado e claramente quente, o lugar não aparecia enérgico. Não chegava nem perto. Sequer conseguia ouvir os passarinhos, sequer conseguia ouvir os grunhidos das plantas de madame Kurenai na Estufa de Herbologia ou os gritos histéricos dos pré-adolescentes que deveriam estar aprendendo a voar poucos metros dali.

A impertinente voz rouca continuava surrando a Sasuke:

Há algo errado.

E ele, desafiador como era, continuava ignorando-a.

Corvus l SASUSAKUOnde histórias criam vida. Descubra agora